Magalu: juros altos limitam ganhos com crise da Americanas, dizem analistas

Ganhos da ação, que subiu mais de 30% desde revelação do rombo da concorrente, esbarram em perspectiva de desaceleração do consumo doméstico

Magalu deve ganhar market share com migração de fornecedores e consumidores, segundo analistas
09 de Fevereiro, 2023 | 04:19 AM
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São Paulo — O Magazine Luiza (MGLU3) revelará no início de março, com a divulgação do resultado do quarto trimestre, qual a dimensão inicial do impacto positivo em seus negócios da crise da concorrente Americanas (AMER3), da qual provavelmente herdou sellers de marketplace e consumidores.

Do ponto de vista das ações, a varejista da família Trajano foi a mais beneficiada até aqui: a alta desde a revelação do rombo contábil da Americanas em 11 de janeiro foi de 33,7% até a terça (7); no período, a ação da Via (VIIA3) recuou 19,2%, e a do Mercado Livre (MELI) na Nasdaq subiu 25,3%.

Como efeito dessa alta das ações, a empresária e presidente do conselho do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, 71 anos, voltou à lista de bilionários da Forbes, com US$ 1,1 bilhão, segundo divulgado no começo do mês. Ela havia deixado a lista em 2022 em razão da queda dos papeis da varejista.

Mas o cenário de juros elevados por mais tempo que o esperado deve limitar esse movimento de recuperação das vendas que poderia sustentar a recuperação das ações, segundo analistas. Em janeiro, o papel liderou o Ibovespa (+61,7%), após desvalorização de 62% em 2022.

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“A recuperação judicial da Americanas pode beneficiar, além de Magalu, Mercado Livre, Via e Amazon (AMZN). Com medo de fazer pedidos e não receber, clientes da Americanas estão preferindo procurar outros marketplaces. Os fornecedores também estão com essa cautela”, disse Daniela Bretthauer, chefe da área de pesquisa da corretora BGC Liquidez, à Bloomberg Línea.

Desde o dia 11 de janeiro, foi registrada uma queda de cerca de 50% no tráfego do site da Americanas, enquanto o número em concorrentes como o Magalu e a Casas Bahia (bandeira da Via) cresce, segundo dados da SimilarWeb, ferramenta que monitora o tráfego nos sites.

É inevitável uma redistribuição do tráfego da Americanas para outros sites. Como a recuperação é um fato público, todos os consumidores estão cientes da crise”, afirmou Bretthauer.

Mesmo que Magalu confirme o cenário favorável com a captura de novos consumidores, a situação da varejista depende de outros fatores, como o cenário macroeconômico, segundo a analista. Em janeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve os juros em 13,75% ao ano, sinalizando que um ciclo de cortes da taxa Selic pode demorar a ser iniciado.

Desde segundo semestre de 2021, as ações do Magalu e de outras varejistas sofrem com a menor demanda por eletrônicos e eletrodomésticos, produtos vendidos principalmente com parcelamento, e com o poder de compra do consumidor reduzido devido ao salto da inflação.

“O cenário de juros é um limitador importante de rentabilidade no curto prazo”, disse Bretthauer.

Antes da última reunião do Copom, em janeiro, alguns economistas esperavam um corte da taxa de juros no segundo trimestre de 2023. Mas o prognóstico perdeu força com decisões do novo governo de aumento dos gastos acima do esperado e com ataques de Lula ao Banco Central.

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Ativos

Para a chefe da área de pesquisa da corretora BGC Liquidez, uma eventual venda de ativos pela Americanas, como cogitam alguns analistas, não deve atrair o interesse do Magalu.

Na sexta-feira passada (3), a Americanas negou, por exemplo, que esteja negociando a venda da Natural da Terra, rede de hortifruti adquirida em 2021.

“O Magalu deve digerir as aquisições realizadas nos últimos dois anos para obter mais sinergias. É um ano de apertar os cintos, e não de aumentar sua alavancagem. Uma eventual venda de ativos da Americanas dentro do processo de RJ faria mais sentido para Mercado Livre e Amazon, que não possuem lojas físicas”, afirmou Bretthauer.

O balanço do quarto trimestre do Magazine Luiza, previsto para ser divulgado em 9 de março, após o fechamento do mercado, não deve ser um gatilho para valorizações ou oscilações expressivas da ação do Magalu, segundo a chefe da área de pesquisa da corretora BGC Liquidez.

“A ação do Magalu já foi a queridinha do mercado, mas ficou muito ‘amassada’ quando os juros começaram a subir em 2021, a exemplo de outros papéis do varejo. Mesmo com a crise da Americanas, o Magalu ainda está muito alavancado, com margens de lucro apertadas. Não acredito que o balanço do quarto trimestre seja um trigger importante”, analisou Bretthauer.

Preço-alvo

Para o analista Thiago Macruz, do Itaú BBA, o preço-alvo de MGLU3 é de R$ 3,20. A recomendação, apontada em relatório divulgado em dezembro, é de market perform (desempenho de acordo com a média do mercado).

O especialista considera que incertezas macroeconômicos tornam o cenário de demanda ainda desafiador, mas vê a varejista bem posicionada para ganhar participação nas categorias de bens duráveis.

Para a analista Georgia Jorge, do BB Investimentos, os principais riscos são o resultado dos investimentos em aquisição de cliente e no desenvolvimento da omnicanalidade inferior ao esperado, a incapacidade de atrair e reter os melhores sellers em sua plataforma, a incapacidade de escalar e rentabilizar a solução financeira oferecida aos seus clientes (por meio do MagaluPay) e o aumento das provisões com devedores duvidosos acima do esperado.

Em dezembro, o BB Investimentos cortou seu preço-alvo para a ação de R$ 5,60 para R$ 3,50 para dezembro de 2023, rebaixando sua recomendação para neutra.

Analistas esperam que as vendas na última edição da Black Friday e referentes à Copa do Mundo, evento que impulsiona o segmento de TVs, tenham sido os destaques positivos do resultado financeiro do quarto trimestre nos balanços das principais redes do varejo brasileiro.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.