Opinión - Bloomberg

Investidores passivos têm um futuro bastante incerto

O bom desempenho do futuro não reflete o bom desempenho do passado, então por que ter um fundo que só monitora estes últimos?

Cripto
Tempo de leitura: 6 minutos

Bloomberg Opinion — Na semana passada, Marie Kondo anunciou que havia desistido de arrumar as coisas. Acontece que ela achava fácil ter a vida organizada porque não tinha filhos. Agora ela tem três.

Você deve estar se perguntando: e agora? Será que os influenciadores das mídias sociais descobrirão que achavam fácil ser magros e bonitos, principalmente porque eram jovens? Os investidores da tecnologia aprenderão que era fácil ficarem ricos porque as taxas de juros ficaram muito baixas por muito tempo? Será que os gestores de fundos de investimento passivo descobrirão que foram bem-sucedidos apenas porque a dinâmica do mercado estava do seu lado?

Estas confusões de habilidade com circunstância parecem ser tudo menos certeiras. Mas a confusão mais recente recebeu muito pouca atenção até agora.

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Este século contou com um impressionante aumento no investimento passivo. É difícil ter certeza de quanto do mercado acionário global é mantido passivamente, mas as melhores estimativas sobre os Estudos Unidos estão em aproximadamente 40% – e níveis mais baixos, mas em ascensão em outros lugares. Faz muito sentido. A gestão de fundos passivos é um modelo de negócio quase perfeito.

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Ele oferece um produto com enormes benefícios aos consumidores – depois das taxas, os fundos passivos superaram o desempenho ativo praticamente todos os anos durante os últimos 20 anos. Não custa muito e os custos que existem são, em sua maioria, baixos e fixos. Não há necessidade de gerentes que exigem taxas de desempenho.

Com o volume, você pode fazer investimentos que são baratos para os consumidores e amplamente lucrativos para sua empresa. Ninguém perde – e, se quisermos acreditar no setor, ninguém perde.

Vamos pensar em como isso aconteceu. A maioria das pessoas gostam de acreditar que, quando escolhem um fundo acionário global passivo, escolheram algo bem diversificado – até mesmo um pouco neutro. Não é bem assim. Primeiro elas escolheram algo muito ponderado para os EUA: o MSCI World Index é quase 70% composto pelo mercado dos EUA, por exemplo.

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Elas também compraram um produto com muitas ações de tecnologia: 20% do índice é de tecnologia da informação, e as três maiores ações (que compõem quase 10% de todo o índice mundial) são todas empresas de tecnologia dos EUA. Diversificadas? Neutras em relação ao mercado? Nem um pouquinho.

Dá pra ver como isso aconteceu. A maioria dos índices é ponderada pela capitalização de mercado – portanto, quanto maior a capitalização de mercado de uma empresa, mais ela é mantida. E se um grupo de ações sobe, os fundos passivos compram ainda mais. Isso os faz subir mais, então eles compram mais... e assim por diante.

Então, é claro que os gestores ativos são pegos na armadilha. Se eles não quiserem ter um desempenho constantemente inferior ao índice, eles têm que começar a comprar as ações na alta também, por mais louco que isso possa parecer. É um pesadelo.

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O ponto principal é: comprar um índice construído de forma que quanto maior a capitalização de mercado de uma empresa, mais ela compõe o índice, e você acaba comprando na alta e vendendo na baixa.

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Na bolha das empresas de tecnologia dos anos 90, os investidores passivos foram, como disseram os pesquisadores da Cass Business School na época, “efetivamente forçados” a comprar participações cada vez maiores em empresas com preços excessivos. Eles foram forçados a fazer o mesmo durante a bolha de crescimento da última década. Tudo isso atingiu extremos em 2009 e 2021 (os historiadores se referirão a 2021 como a fase de expansão), quando as cinco maiores ações do S&P 500 constituíam cerca de 20% de seu total.

A verdade é que o investimento passivo é simplesmente um investimento dinâmico: e você compra, você pode ter muitas ações com bom desempenho recente (e quanto mais caros forem, mais você as segura) e menos daquelas com desempenho ruim. Isso pode ser muito bom – até que as condições mudem. E foi o que aconteceu.

Os vencedores do mercado acionário das últimas décadas foram empresas que acharam as condições dessas décadas bastante brilhantes: empresas que se beneficiaram de taxas de juros muito baixas, crédito fácil, a falta de necessidade de investimentos tangíveis (já que tudo é feito na China), off-shoring e engenharia financeira. Os índices estão emperrados com esses vencedores.

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Mas parece claro que a dinâmica dos últimos 40 anos está, pelo menos em parte, revertendo. As taxas de juros não estão voltando a zero; a nova obsessão com a resiliência da cadeia de suprimentos significa que as empresas (e os países) precisam de suas próprias fábricas; e todos nós perdemos o interesse na ideia de que o crescimento não tem preço em um contexto de mercado de ações. O bom desempenho do futuro não depende do bom desempenho do passado. Logo, não há motivos para ter um fundo que monitore apenas empresas que já foram vencedoras.

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Há algo mais a ser levado em conta, diz o historiador do mercado Russell Napier. Vivemos em uma era de dívidas extremas: como as taxas de juros ficaram em baixa, a dívida global para os níveis do PIB ficaram em alta.

A maneira mais óbvia (e única) de os governos lidarem com isso é através da repressão financeira. Isso significa manter as taxas de juros abaixo da inflação em um esforço para desgastar gradualmente o valor real da dívida – e significa forçar instituições financeiras e pessoas que economizam a comprar títulos do governo em volume mesmo que não possam obter um retorno real deles (já que o rendimento é menor do que a taxa de inflação). Nada disso é bom para as ações.

Mesmo assim, as notícias são boas. Os índices das bolsas de valores podem muito bem definhar por anos enquanto os antigos vencedores somem (as quatro principais ações do S&P 500 são todas de empresas de tecnologia e, juntas, ainda compõem 15% do índice). Mas os bons fundos ativos não o farão.

Em 2022, pela primeira vez em muito tempo, gestores ativos tiveram um desempenho melhor que gestores passivos, principalmente no ambiente das large caps dos EUA. E se esses gestores abandonarem os antigos vencedores e comprarem os novos, eles podem continuar com o bom desempenho.

Analisando os períodos anteriores de repressão financeira e inflação, segundo Napier, o que deu certo é muito óbvio: ações que começaram baratas. Foi o que aconteceu na maior parte do mercado no fim dos ano 40 e 50 E em nichos de mercado nos anos 70; mesmo quando o mercado mais amplo trabalhava para destruir a maior parte da riqueza dos investidores, as small caps e as ações de tinham um desempenho espetacular.

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E agora? Ben Inker, do GMO, tem algumas respostas – ações de valor global, ações de valor de mercado de emergentes; ações de menor valor japonesas e europeias e ações de recursos. Napier também indica o Reino Unido e mercados emergentes, exceto a China. Ninguém indica os constituintes do S&P 500 – ações que a maioria dos investidores passivos detêm e que, segundo Napier, ainda são “grotescamente supervalorizadas”.

Assim como Marie Kondo descobriu que ter filhos mudou tudo em sua vida, os grandes investidores passivos podem estar prestes a descobrir que a inversão da dinâmica do mercado fez o mesmo para eles. O futuro parece bastante incerto.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Merryn Somerset Webb é colunista sênior da Bloomberg Opinion e escreve sobre finanças pessoais e investimentos. Foi editora-chefe da MoneyWeek e editora contribuinte do Financial Times.

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