Bloomberg Línea — Sem citar nominalmente a Americanas (AMER3), o CEO do Itaú Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy Filho, classificou como “talvez a maior fraude de todos os tempos” o rombo contábil de R$ 20 bilhões divulgado no dia 11 de janeiro, que resultou no ingresso da companhia no processo de recuperação judicial.
As ações sobem cerca de 7% por volta das 12h30, em reação de investidores aos resultados.
Tratada como “evento subsequente em uma rede varejista” no balanço do quarto trimestre, divulgado no fim do dia ontem (7), a crise da Americanas levou o maior banco do país a provisionar 100% da exposição à dívida de R$ 2,9 bilhões a receber do grupo varejista, o que reduziu a incerteza para investidores.
O executivo considerou como “caso isolado” o calote da Americanas, em entrevista na manhã desta quarta-feira (8) sobre o resultado financeiro. Ele descartou, por ora, uma “contaminação” da crise para outras companhias e espera uma normalização dos índices de inadimplência no primeiro trimestre de 2023, após medidas de maior seletividade na concessão de crédito no ano passado.
“Na nossa visão, com as informações de hoje, trata-se de um caso isolado. Não tem efeito de contaminação. Não encontramos casos semelhantes na carteira. Fizemos todas as provisões. Não haverá impacto nos próximos resultados. É fraude. Vamos acompanhar os desdobramentos”, afirmou.
Ao justificar a decisão de cobrir integralmente a exposição à crise da Americanas, Maluhy Filho citou a “magnitude relevante dos valores descobertos” e as “incertezas sobre o que vai acontecer”.
Desde a divulgação do rombo, os principais bancos credores travam uma guerra jurídica com a varejista para reter valores e reforçar a investigação sobre a responsabilização do que chamam de fraude.
O CEO do Itaú disse que, sem o “evento subsequente, o lucro do quarto trimestre seria de R$ 8,4 bilhões, acima das expectativas do mercado. Na noite de ontem, a instituição reportou lucro de R$ 7,6 bilhões, queda de 5,15% ante o terceiro trimestre (R$ 8 bilhões) devido à provisão realizada.
Durante o quarto trimestre, o Itaú realizou uma venda de carteira de crédito de R$ 100 milhões, informou Maluhy Filho durante teleconferência com analistas realizada após a entrevista coletiva. Sem o impacto negativo de Americanas, o ROE (retorno sobre o patrimônio), métrica de rentabilidade, do conglomerado financeiro teria sido de 21%, segundo o executivo. O balanço apontou ROE de 19,3%.
Projeções para o ano
O Itaú divulgou sete guidances (projeções) para o ano de 2023. Para a carteira de crédito, a instituição prevê crescimento entre 6% e 9%. O crescimento da margem financeira com clientes deve ficar entre 13,5% e 16,5%. Já a receita de prestação de serviços e resultado de seguros deve crescer entre 7,5% e 10,5%.
Sobre os indicadores da economia brasileira, a instituição financeira projeta um aumento de 0,9% do PIB (Produto Interno Produto) neste ano, com taxa Selic de 12,5% ao ano no fim de 2023, abaixo do patamar atual de 13,75%; o dólar comercial ficará entre R$ 5,22 e R$ 5,50, a inflação oficial (IPCA), em 5,8% no ano, e a taxa de desemprego,entre 8,2% e 9,5%.
Na apresentação para analistas, o CEO disse que a previsão do PIB pode ser revisada para cima. Ele disse esperar que o ciclo de corte de juros pelo Banco Central deve começar no segundo semestre deste ano.
“O cenário internacional melhorou. Voltei do Fórum de Davos com uma sensação mais positiva. Ouvi que o impacto da crise de energia na Europa não é tão forte como se esperava inicialmente, bem como a intensidade da recessão global. A reabertura econômica da China, que voltou a crescer, e a expectativa de aumentos leves de juros nos EUA são sinalizações positivas”, analisou Milton Maluhy.
Atenção ao novo arcabouço fiscal
O CEO do Itaú também compartilhou as expectativas em relação aos rumos do novo governo federal. Maluhy Filho citou, por exemplo, que o pacote de medidas anunciado em janeiro pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) para zerar o déficit primário das contas públicas do Brasil em dois anos derrubou os juros futuros no dia do anúncio.
“Em abril, haverá uma discussão sobre o novo arcabouço fiscal. Isso será um ponto relevante de observação”, considerou o executivo.
Ele disse que Haddad e a equipe econômica têm “boas interlocuções” com os agentes do mercado e que sinalizam uma “direção correta” para regras fiscais.
“Neste primeiro semestre, a discussão da reforma tributária vai andar. Não sabemos ainda o desenho, mas a simplificação tributária é algo fundamental para avançar na agenda para aumento da produtividade e para um crescimento sustentável”, afirmou.
A visão de analistas do BTG e do BB
O balanço do Itaú recebeu comentários positivos de analistas do setor. Em relatório, o BB Investimentos avaliou que o banco entregou um resultado positivo, impactado pelo provisionamento extraordinário relacionado à Americanas, mas “a forte receita de juros das operações de crédito foi capaz de compensar as elevadas despesas com provisões e a fraca receita de tesouraria”.
“Para o setor bancário, o ano de 2023 tende a ser de acomodação, incluindo menor crescimento de carteiras e pressão sobre os custos, mas com receitas financeiras robustas graças ao ambiente de maiores juros compensam tais reveses”, observaram os analistas do BB, que mantiveram a recomendação de compra para a ação do Itaú, com preço-alvo de R$ 30,20 para o final de 2023.
Já o BTG Pactual (BPAC11) destacou, em relatório a clientes, que, “graças à credibilidade do Itaú, com uma ótima comunicação, os investidores devem tomar os guidances de 2023 pelo valor de face”. Os analistas liderados por Eduardo Rosman reiterararam sua recomendação de compra e consideraram que o banco vai continuar com uma perfomance melhor do que seus pares do setor .
O UBS BB também classificou como “sólido” o guidance para 2023.
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