Marisa busca renegociação para evitar recuperação judicial, dizem especialistas

Empresa anunciou a saída do CEO e a contratação de consultoria para reestruturação de suas dívidas, que chegam a 3,3 vezes sua geração de caixa

A empresa informou no balanço do terceiro trimestre ter dívida líquida de R$ 218,9 milhões, o que equivale a um 'índice de alavancagem financeira' de 22%
08 de Fevereiro, 2023 | 05:02 PM
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Bloomberg Línea — O anúncio da varejista Marisa (AMAR3) de que trabalha em uma reestruturação das suas dívidas faz parte de uma tentativa de renegociação com credores para que a empresa evite uma recuperação judicial, de acordo com especialistas do mercado ouvidos pela Bloomberg Línea.

Em comunicado ao mercado divulgado na noite de terça-feira (7), a empresa disse que o movimento faz parte de um “processo de otimização financeira e aprimoramento de sua estrutura de capital”. Foram contratadas as consultorias BR Partners, para trabalhar na reestruturação das dívidas, e Galeazzi Associados, para cuidar do “aperfeiçoamento da estrutura de custos”.

A empresa também informou que o diretor-presidente, Adalberto Pereira Santos, e o executivo Marcelo Adriano Casarin, membro do conselho de administração, deixaram a empresa.

Para o advogado Renato Scardoa, especialista em recuperação de empresas, as medidas anunciadas pela Marisa são comumente adotadas por empresas que buscam formas de negociar dívidas antes de ir ao Judiciário.

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“Primeiro tentam renegociar por meio da diretoria com o setor financeiro. Não tendo êxito, contratam consultorias para reestruturar e, se não der certo, partem para a recuperação judicial e para medidas judiciais”, diz.

Segundo ele, é provável que a recuperação judicial da Americanas - bem como o rombo de R$ 20 bilhões no balanço da companhia - tenha dificultado o acesso a crédito das varejistas de forma geral, setor dependente de dívidas com vencimento de curto prazo.

“Existe um rito a ser seguido”, diz o advogado. “Se depois de reestruturar a dívida a negociação com os credores não der certo, é provável que ela vá em busca da via judicial.”

Para Mirela Rappaport, sócia-fundadora da gestora InvestPort, a empresa está “se antecipando para entrar numa renegociação espontânea para evitar a recuperação judicial”.

Sem surpresa

Rappaport, no entanto, afirma que, ao contrário do caso da Americanas, que pegou todos de surpresa, “todo mundo já sabia” que a situação da Marisa era “preocupante”. “A empresa tem uma situação de endividamento maior do que a média do setor”, diz ela.

A analista diz ainda que a manutenção dos juros altos pelo Copom, de 13,75% ao ano, também contribui para o agravamento da situação da empresa. “No varejo, quando os juros sobem, o endividamento sobe, porque é indexado ao CDI. E além disso, a alta dos juros segura o consumo, reduzindo a entrada de dinheiro nas empresas.”

Segundo relatório da InvestPort divulgado em 11 de janeiro, a Marisa foi a única empresa do setor que registrou queda na receita entre o segundo e o terceiro trimestre de 2022. A queda foi de 0,8% no período, depois de alta de 4,7% do primeiro para o segundo trimestre. A comparação é feita com Arezzo (ARZZ3), Soma (SOMA3), Restoque e Renner (LREN3).

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Outro agravante, segundo Rappaport, é que as empresas do setor varejista no Brasil se tornaram financeiras, com a emissão de cartões de crédito. No caso da Marisa, isso se transformou em “dupla exposição”, afirma.

“De um lado, a empresa viu seu endividamento aumentar - e, com a alta da taxa de juros, já vemos bancos aumentando o provisionamento para lidar com a alta da inadimplência, enrijecendo o controle da dívida - e também vê a inadimplência de seus clientes no cartão aumentar”, afirma.

Segundo o relatório da InvestPort, o índice de inadimplência da Marisa ficou em 29% de sua carteira de crédito no terceiro trimestre de 2022. Foi o nível mais elevado do setor.

No balanço do terceiro trimestre do ano passado, a empresa informou dívida líquida de R$ 218,9 milhões, o que equivale a um “índice de alavancagem financeira” de 22%.

Segundo a InvestPort, a empresa registrou dívida líquida de 3,3 vezes o seu Ebitda. “É a única com endividamento mais preocupante no curto prazo”, diz o relatório.

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Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.