PwC enfrenta desconfiança do mercado após rombo de R$ 20 bi na Americanas

Auditoria global com presença no Brasil já estava sob críticas após revisão de balanços do IRB Brasil; procurada pela Bloomberg News, a empresa não quis comentar

Recentemente, a marca PwC também foi alvo de suspeitas de falhas em outro caso além da Americanas
Por Vinícius Andrade - Barbara Nascimento - Amanda Iacone
07 de Fevereiro, 2023 | 08:33 AM

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Bloomberg — Um déficit contábil da ordem de R$ 20 bilhões (US$ 4 bilhões) normalmente soaria o alarme para um auditor. Mas, de alguma forma, uma afiliada da PwC não identificou quando soou no caso da Americanas (AMER3).

Grupos de investidores e consumidores estão pedindo uma análise mais minuciosa da empresa de auditoria após a revelação de irregularidades no balanço patrimonial que levaram a varejista, de 93 anos, a entrar com pedido de recuperação judicial no mês passado.

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A lacuna veio em parte do financiamento de fornecedores que não foi refletido da maneira certa nas demonstrações financeiras da empresa, que são auditadas pela PwC desde 2019.

As associações de defesa do consumidor e de ativismo empresarial Abradecont e Ibrasg, respectivamente, entraram com ações contra a PwC nos últimos dias, com a primeira pedindo o congelamento dos bens do auditor. A associação de investidores Abradin está pedindo à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que analise as responsabilidades da PwC no caso.

Tanto o braço global da PwC quanto sua afiliada brasileira se recusaram a comentar. A chave para entender a exposição da empresa será descobrir se houve alguma maneira de detectar irregularidades, de acordo com Luciana Dias, professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) e ex-diretora da CVM.

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“Se houve falta de controle ou problemas com a política contábil, os auditores têm alguma responsabilidade”, disse Dias. “Mas é difícil detectar uma fraude cometida com alguma coordenação da empresa.”

Se os processos forem bem-sucedidos, eles podem prejudicar os negócios da PwC no Brasil.

A rede global da auditoria pode não estar disposta a resgatar a afiliada sul-americana administrada de forma independente, disse Jim Peterson, ex-advogado interno da extinta firma de contabilidade Arthur Andersen, que já foi o principal player do setor antes de entrar em colapso após os escândalos contábeis envolvendo clientes WorldCom e Enron nos anos 2000.

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“Seria devastador financeiramente para a PwC Brasil”, disse Peterson sobre tal resultado.

Trio bilionário

Investidores e credores, incluindo o banco brasileiro BTG Pactual (BPAC11), foram rápidos em apontar o dedo para a administração da Americanas e três principais acionistas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Em uma declaração conjunta no mês passado, o trio desviou a culpa, dizendo que nem os banqueiros da Americanas nem a PwC relataram qualquer irregularidade.

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“Fomos vítimas de uma fraude”, escreveu a gestora de fundos de hedge Verde Asset, uma das mais tradicionais do país, de Luis Stuhlberger, em carta aos cotistas. A Americanas tinha uma longa trajetória, contava com três acionistas importantes considerados “os melhores gestores de negócios do país” e teve seus balanços auditados por uma das principais empresas do setor, disse o fundo.

Embora a Americanas não tenha oferecido muitos detalhes sobre como os problemas com o financiamento de fornecedores encobriam seu endividamento, os investidores brasileiros tinham em mente o papel da PwC na revisão de demonstrações financeiras de empresas como o IRB Brasil Resseguros (IRBR3), a resseguradora que teve que atualizar balanços anteriores em 2020 após erros contábeis.

Um grupo de 193 investidores assessorados pela associação Instituto Ibero-Americano da Empresa entrou com uma ação no mês passado culpando a PwC pela suposta falha em seus serviços de auditoria junto ao IRB. Agora está organizando investidores para uma possível ação semelhante visando a PwC no caso Americanas, de acordo com o presidente da associação, Eduardo Silva.

Recentemente, a marca PwC também foi manchada fora do Brasil. A empresa fez um acordo com os reguladores britânicos por sua auditoria fracassada da empresa de telecomunicações britânica BT Group Plc, em agosto, e está sob investigação por seu trabalho de auditoria para o desenvolvedor China Evergrande Group – entre uma série de auditorias consideradas de má qualidade nos últimos anos que desencadearam pedidos de supervisão mais rígida da indústria do Japão à Europa.

Nos Estados Unidos, os reguladores estão se preparando para padrões de auditoria mais rígidos e penalidades mais duras após uma série de falhas éticas em várias empresas e um aumento na taxa de auditorias que não atendem aos requisitos básicos.

Escândalo na Petrobras

Há dois anos, a gigante da auditoria foi absolvida pela CVM de práticas irregulares na auditoria das demonstrações financeiras da Petrobras (PETR3; PETR4) entre 2012 e 2014. Investidores da Petrobras, que esteve no centro de um grande escândalo de lavagem de dinheiro e propina, disseram que a PwC havia “ignorado sinais de alerta óbvios”.

A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial e divulgou uma lista de quase 8 mil credores que inclui a própria PwC – com créditos de quase R$ 211 mil. Agora, um comitê independente liderado por Otavio Yazbek – ex-diretor da CVM – analisa as inconsistências apontadas pelo ex-presidente Sergio Rial e se houve erros.

O comitê independente está sendo assessorado pelo escritório de advocacia Maeda, Ayres & Sarubbi e EY, e não tem prazo pré-estabelecido para concluir seu trabalho, disse Yazbek a repórteres em 1º de fevereiro.

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