Bloomberg Opinion — Wall Street com certeza adora uma modinha, e parece que a inteligência artificial pode ser a próxima. As ações do BuzzFeed chegaram a subir até 200% depois de afirmar que o “conteúdo inspirado por IA” se tornará “parte do negócio principal” este ano. Aparentemente, pouco importa para os investidores que o tipo de conteúdo que o BuzzFeed tem em mente inclui seus testes característicos.
Com base na reação das ações do BuzzFeed, não demorará muito até que todos os tipos de empresas de todos os tipos de setores corram para anunciar alguma nova iniciativa envolvendo IA. Mais informações? Nem pergunte, elas só serão divulgadas depois. Tudo que você precisa saber é que tem a ver com IA! E será ótimo!
Parece familiar? Pois deveria. As modinhas sempre fizeram parte de Wall Street, mas parecem ter realmente se tornado permanentes durante o boom das chamadas “ponto-com” no final dos anos 90.
Assim como a IA agora, as iterações da internet já existiam há algumas décadas, mas a tecnologia se desenvolveu rapidamente ao ponto de ser disponibilizada para as massas. Pela primeira vez, os cidadãos comuns puderam se conectar à “rede mundial”. As empresas ligadas à internet se abriram capital e tiveram um boom nas ações – talvez o caso mais famoso seja o da empresa de navegação na web Netscape, cujas ações subiram de US$ 28 para US$ 75 em seu primeiro dia de negociação na bolsa.
Claro, todos sabiam que a Internet seria grande e mudaria a economia. O problema era que ninguém sabia ao certo como ganhar dinheiro com ela. Mas isso não impediu que as empresas tentassem.
Empresas de capital aberto que não faziam ideia de como explorar a internet passaram a anunciar que também estavam lançando uma “estratégia de internet” ou mesmo acrescentando “.com” a seus nomes. Claro, os preços de suas ações podem ter aumentado, mas para cada caso de sucesso, havia provavelmente dezenas de fracassos. A bolha das “ponto-com” logo explodiu, e o índice Nasdaq Composite, que incluía muitas das novas empresas de internet de capital aberto, caiu quase 80%.
Uma das modinhas mais recentes focou na tecnologia de blockchain que está por trás da febre das moedas digitais. Uma blockchain é um banco de dados digital, ou ledger, usado para registrar informações e transações de forma colaborativa. Assim como a internet, essa tecnologia promete mudar a economia. Em 2017, a blockchain esteve em alta, e as empresas correram para encontrar formas de capitalizá-la.
A Long Island Iced Tea, uma microcap e vendedora de bebidas não alcoólicas que mudou seu nome para Long Blockchain e teve alta de até 289% em suas ações em um dia. A mudança não ajudou a empresa, que estava em dificuldades e acabou removida da bolsa pela Securities and Exchange Commission, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, em 2021.
As empresas de aquisição de propósito específico, ou SPACs, são outra modinha a ser mencionada. Elas foram viabilizadas pela era de dinheiro barato e fácil. O que acontece com os SPACs é que elas não têm modelo de negócios; elas apenas levantam dinheiro de investidores através de uma oferta pública inicial e prometem usar o dinheiro para comprar um negócio operacional ainda não identificado. Sim, é bastante especulativo, e o boom das SPACs acabou no ano passado quando o Federal Reserve aumentou as taxas de juros.
Será que o boom da IA também vai acabar mal? Para a maioria, sim;. Mas isso não significa que não haverá grandes vencedores. Ela muito provavelmente mudará a economia e nosso modo de vida. Por enquanto, a IA parece mais com a internet que com as SPACs. Ainda esta semana, a Microsoft (MSFT) anunciou que estava investindo US$ 10 bilhões na OpenAI. A Bloomberg News informou que a ferramenta de inteligência artificial da OpenAI, o ChatGPT, fez sucesso na internet desde sua apresentação em novembro, acumulando mais de um milhão de usuários em poucos dias e gerando um novo debate sobre o papel da IA no local de trabalho.
A IA agora parece a internet em 1996 – cheia de promessas, mas de maneiras que ainda não conhecemos. Mas, de alguma forma, não acredito que tenhamos passado décadas desenvolvendo a IA apenas para usá-la para desenvolver testes e enquetes.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Robert Burgess é o editor executivo da Bloomberg Opinion. Anteriormente, foi o editor executivo global responsável por mercados financeiros na Bloomberg News.
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