Bloomberg Línea — A visão de que o Banco Central possa manter os juros elevados por mais tempo no Brasil não são compartilhadas pelo banco suíço Lombard Odier, que vê a autoridade monetária cortando a taxa Selic já no segundo trimestre deste ano.
De acordo com Samy Chaar, economista-chefe do Lombard Odier, o movimento de queda da inflação no país permite que o BC corte os juros nos próximos meses, levando a taxa básica para 11,50% no fim do ano, ante 13,75% atualmente.
“Não faz sentido, na nossa visão, que o BC mantenha os juros tão altos quando a inflação está caindo para tão perto da meta”, disse Chaar nesta terça-feira (7), em teleconferência com jornalistas.
A avaliação de corte dos juros, que tende a beneficiar investidores de bonds, fez com que o banco voltasse a montar posição em Brasil nos portfólios globais, comprando nas últimas semanas dívida brasileira na moeda local, além de dívidas em dólares.
“Vamos ver quanto tempo manteremos o investimento, mas queremos ver o BC agindo antes de nos desfazermos das posições”, afirmou o economista.
As estimativas do banco suíço vão na contramão de analistas do mercado brasileiro, que têm postergado para o fim de 2023 e começo de 2024 o início do ciclo de corte dos juros.
No relatório Focus, do BC, mais recente, as projeções para a inflação este ano sofreram piora. Agora, os economistas veem alta de 5,78% do IPCA em 2023, ante expectativa de 5,74% anteriormente. Já para a Selic, o mercado vê a taxa caindo para 12,50% ao fim deste ano e para 9,75% em dezembro de 2024.
Questionado sobre a ata do Copom divulgada nesta terça (7), Chaar disse que o tom mais duro veio de forma a reafirmar a independência do BC após críticas do novo governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à autoridade monetária.
Commodities e China
Apesar de um fluxo de notícias negativo no Brasil, principalmente no que diz respeito à cena política, os fundamentos permanecem positivos e tendem a suportar uma tese otimista para o investimento no país, segundo o economista-chefe do Lombard Odier.
Entre os principais motores para o bom desempenho, Chaar destaca a reabertura da China, preços apoiados pelas commodities e uma queda da inflação, que deverá ser seguida por cortes da Selic.
Isso porque cerca de 5% do PIB brasileiro depende das exportações para a China, cuja demanda deverá crescer daqui para frente, disse ele.
Com a retomada da atividade econômica chinesa e maior demanda por commodities, o preço do petróleo pode encerrar o ano entre US$ 90 e US$ 95 – outra vertente positiva para o Brasil.
Já para o câmbio, o Lombard Odier espera o dólar negociado entre R$ 5,05 e R$ 5,20, sem grandes mudenças em relação ao patamar atual.
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