Saga do balão: suposta espionagem da China destaca vigilância global

Autoridades americanas disseram que o balão faz parte de um programa de vigilância global mais amplo implementado pela China

Crescente batalha entre serviços de inteligência dos EUA e China inclui desde satélites geoestacionários e interceptação de sinais até naves de espionagem à moda antiga
Por Rebecca Choong Wilkins
06 de Fevereiro, 2023 | 12:21 PM

Bloomberg — O suposto balão de vigilância da China que sobrevoou o continente dos Estados Unidos destaca a prevalência de incidentes semelhantes no mundo todo, de Taipei à América Latina.

Apesar de indícios de que o governo americano também usa tais aparelhos, autoridades disseram que o balão derrubado na costa da Carolina do Sul neste fim de semana faz parte de um programa de vigilância global mais amplo implementado pela China.

PUBLICIDADE

Também ressalta a crescente batalha entre os serviços de inteligência dos EUA e China, que inclui desde satélites geoestacionários e interceptação de sinais até naves de espionagem à moda antiga. Agora, os balões são vistos como parte fundamental desse arsenal.

Autoridades em Pequim admitiram que o balão que cruzou o território continental dos EUA na semana passada veio da China, mas rejeitaram a alegação do Pentágono de que era destinado à espionagem. O governo chinês alegou que o balão era um instrumento puramente meteorológico que se desviou da rota e acusou o governo de Washington de exagerar o incidente.

Essa alegação pode ser mais difícil de sustentar, já que militares dos EUA enviaram mergulhadores para resgatar o equipamento. Além disso, o escrutínio se intensifica devido a episódios anteriores com dispositivos de aparência semelhante.

PUBLICIDADE

Nos últimos anos, balões chineses foram vistos em países dos cinco continentes, incluindo no leste da Ásia, no sul da Ásia e na Europa, disse uma autoridade do Departamento de Defesa dos EUA no sábado.

Em Taiwan, um balão teria pairado por várias horas em março passado sobre o Aeroporto de Songshan, em Taipei, que também é usado pela base militar, disse o diretor-geral do Escritório Central de Meteorologia, Cheng Ming-dean, em entrevista à mídia local. Ele afirmou que o balão era semelhante ao visto nos EUA na semana passada.

A notícia do aparecimento de balões sobre Taiwan gerou preocupação no governo de Taipei. Parlamentares de todo o espectro político pediram a militares para ficarem em alerta e explicarem seus procedimentos sobre como planejam lidar com incursões futuras. Os balões existem há muito tempo, escreveu Ming-dean em post no Facebook no sábado. Ele citou anteriormente um balão de alta altitude que foi visto sobre Taipei em 2021.

PUBLICIDADE

A mídia japonesa relatou pelo menos dois balões visualmente semelhantes sobrevoando diferentes partes do país. Após um avistamento no nordeste do Japão em 2020, o então ministro da Defesa, Kono Taro, disse na época que o balão não pertencia à seção meteorológica das Forças de Autodefesa do país. A polícia e militares do Japão não conseguiram confirmar quem o lançou ou com qual objetivo, segundo a emissora de TV Asahi. Um segundo incidente ocorreu em 2021.

Sob o presidente Xi Jinping, a China reformulou suas forças armadas – e investiu centenas de bilhões de dólares na reorganização da estrutura de comando e na modernização de navios de guerra e estoques de mísseis, por exemplo. Isso também inclui investir na área do espaço próximo. Essas são regiões “muito altas para a maioria dos aviões, muito baixas para satélites”, que os chineses consideram um domínio à parte, de acordo com William Kim, consultor da The Marathon Initiative, um think tank de Washington.

Nesta segunda-feira (6), a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse a repórteres que o balão visto na América Latina, assim como o dos EUA, também havia se desviado do curso, porque tem “capacidade limitada de autodireção”. Segundo ela, a China segue a lei internacional e acrescentou: “Não representaremos nenhuma ameaça a nenhum país”.

PUBLICIDADE

Balões como o derrubado no sábado não são incomuns, mas, desta vez, os chineses cometeram um erro ao voar baixo o suficiente para serem vistos por pilotos comerciais e pessoas em terra, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto. Normalmente, balões como o abatido voam acima de 80.000 pés (24,4 quilômetros) e chegam a 100.000 pés.

Os detritos recuperados do balão chinês podem ser úteis ao serviço de inteligência dos EUA, ajudando-o a entender as ferramentas desenvolvidas pelo governo de Pequim e o que pode estar procurando. Também oferecerá outro caso potencialmente constrangedor para a China, quando o material for exposto para exibição pública.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Aposta em emergentes ganha tom de cautela entre investidores globais