Payroll surpreende com 517 mil vagas de emprego criadas em janeiro nos EUA

Resultado ficou muito acima das 190 mil vagas estimadas; dados reforçam a resiliência da economia americana, o que pressiona o Fed a manter os juros elevados

Mercado de trabalho aquecido é desafio para o Fed
03 de Fevereiro, 2023 | 10:34 AM

Bloomberg Línea — Os Estados Unidos criaram 517 mil vagas de emprego em janeiro, resultado que surpreendeu o mercado financeiro, que esperava a geração de 190 mil vagas no mês, de acordo com analistas consultados pela Bloomberg. O número é quase o dobro de dezembro, quando houve a criação de 260 mil vagas, de acordo os dados revisados do relatório de empregos (payroll), divulgado nesta sexta-feira (3) pelo Escritório de Estatísticas de Trabalho dos EUA.

Os dados reforçam a avaliação de resiliência da economia americana, o que pode servir como razão para aumentos de juros adicionais do Federal Reserve (Fed) para combater a inflação.

Após a divulgação, os principais índices das bolsas americanas abriram em queda. Às 11h41 (horário de Brasília), o S&P 500 operava em baixa de 0,77%. Já o Nasdaq caía 1,25%. O Ibovespa (IBOV) oscilava com leve alta de 0,08% e o dólar subia 1%, a R$ 5,10.

De acordo com o relatório, a taxa de desemprego nos Estados Unidos ficou em 3,4% em janeiro, o menor número em 53 anos no país. Houve queda em relação ao mês passado, quando a taxa de desemprego estava em 3,5%.

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os rendimentos médios por hora tiveram alta de 0,3% em janeiro na comparação mensal, em linha com o esperado por analistas do mercado. Em 12 meses, os salários tiveram alta de 4,4%, menos do que a alta acumulada de 4,6% até dezembro.

O resultado do relatório de empregos mostra que o mercado de trabalho americano continua resiliente, apesar dos esforços do Federal Reserve (Fed) de desaquecer a economia para combater a alta de preços.

Segundo o relatório de empregos, a criação de vagas foi disseminada pela maior parte dos segmentos avaliados, liderados pelas categorias de lazer e acomodação (+128 mil), serviços profissionais e de negócios (+82 mil), setor público (+74 mil) e saúde (+58 mil), além de varejo (+30 mil) e construção (+25 mil).

Aperto monetário

Na quarta-feira, o Federal Reserve elevou a taxa de juros dos Estados Unidos para o intervalo entre 4,50% e 4,75% ao ano, após um aumento de 0,25 ponto. Foi a oitava vez consecutiva que o banco central elevou os juros para combater a inflação elevada no país.

Em seu comunicado, a autoridade monetária ressaltou que o mercado de trabalho tem se mantido firme nos últimos meses, mas os aumentos têm sido mais modestos.

“Indicadores recentes apontam para um crescimento modesto dos gastos e da produção. O crescimento dos empregos tem sido robusto nos meses recentes, e a taxa de desemprego tem se mantido baixa. A inflação arrefeceu de certa forma, mas continua elevada”, afirmou o comunicado.

Já o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou em coletiva de imprensa após a divulgação do comunicado que espera uma desaceleração da economia, sem um impacto significativamente negativo no mercado de trabalho.

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“Continuo a pensar que há um caminho para reduzir a inflação para 2% sem um declínio econômico realmente significativo ou um aumento significativo no desemprego”, disse Powell.

-- Atualizada às 11h41, para complementar as informações. Com informações da Bloomberg News

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.