Bloomberg — O real pode repetir a predominância entre pares emergentes ao longo de 2023, mesmo que a moeda esteja combalida por ruídos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. É o que avalia a AllianceBernstein, gestora que administra mais de US$ 613 bilhões em ativos.
A política monetária restritiva, o patamar de preços de commodities e as contas externas brasileiras saudáveis tendem a impulsionar a divisa, que liderou os ganhos entre emergentes em 2022 e iniciou o ano atrás de rivais, como o peso mexicano, o peso colombiano e o peso chileno.
“Se você olhar as métricas para câmbio, provavelmente o Brasil tem as melhores entre todos os emergentes, e o real é uma das emergentes mais depreciadas em relação ao seu valor justo”, disse Katrina Butt, economista para mercados emergente da AllianceBernstein.
“É apenas o começo do ano, então, certamente você poderá ver um desempenho da moeda melhor que a dos pares ao longo de 2023″ a depender dos anúncios de política fiscal, segundo ela.
A previsão da gestora é de que o dólar encerre o ano de 2023 a R$ 5,00. Trata-se de um nível observado pela última vez em junho de 2022.
Para um patamar ainda menor, de R$ 4,80, não bastariam os juros reais bastante positivos, mas “todas as condições certas” – inclusive externas. “O ambiente global parece estar apontando para a fraqueza do dólar, então, isso deve ajudar”, disse.
A inflação cadente no Brasil, somadas a uma política fiscal responsável e à perspectiva de que o Fed não tenha que apertar os juros com doses maiores, poderiam fazer o Banco Central iniciar o ciclo de cortes mais rapidamente no segundo semestre.
Para ela, o BC pode reduzir a Selic entre 2,5 pontos e 3,0 pontos percentuais ainda este ano, mais do que o mercado precifica neste momento.
Fluxo de estrangeiros
Para a economista, o cenário atual não aponta para um “grande deslize fiscal” no Brasil. “Houve um receio de que fosse ser um governo horrível no fiscal e não acho que esse será o caso”, disse.
Ela enxergou o recente anúncio de medidas fiscais pela equipe econômica como um “aceno” do governo ao mercado, no sentido de responsabilidade fiscal, mas há dúvidas sobre quanto da receita estimada pelo time do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai se materializar. O governo mira um déficit entre 0,5% e 1% do PIB.
Katrina afirma que o investidor estrangeiro apostou na vitória de um governo Lula pragmático pré-eleições e acabou voltando atrás, receoso com o tom dos discursos fiscais. “Isso parece estar mudando. Se ocorrer mesmo, podemos ver fluxo para o Brasil, mas ainda há algumas perguntas em aberto”, diz.
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