O que esperar da primeira reunião do Copom sob o governo Lula

Para analistas, comunicado deve refletir a desancoragem das expectativas em meio aos receios sobre o fiscal e a alta da meta de inflação

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Bloomberg — O Comitê de Política Monetária (Copom) deve adotar um tom mais duro ao manter a Selic em 13,75% nesta quarta-feira (1), na primeira reunião sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo analistas do mercado financeiro, o comunicado tende a refletir a desancoragem das expectativas decorrentes dos receios sobre a política fiscal e a elevação da meta de inflação. Os temores cresceram desde que Lula questionou a eficácia da autonomia do Banco Central e sugeriu uma meta maior, de 4,5%, em entrevista à Globonews há cerca de duas semanas.

As projeções de inflação para 2026, ano para o qual ainda não há meta estabelecida e concentra o debate, está agora em 3,5%, depois de seis semanas consecutivas de revisão para cima no relatório Focus, do BC. A meta para 2024 e 2025 é de 3%.

A expectativa de manutenção da Selic está totalmente precificada na curva de juros e é unânime entre os analistas. Confira os comentários:

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú

  • Copom deve reforçar a sinalização de que vai perseverar no processo de desinflação até que a convergência e ancoragem das expectativas em torno de suas metas sejam alcançadas, e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso a desinflação não seja como esperado;
  • Comitê deve sinalizar que ainda vê riscos simétricos para a inflação, com “alertas adicionais” não só para a evolução das contas públicas, mas também para os debates recentes de arcabouço de política econômica/monetária, em especial, discussões acerca da definição das metas de inflação para os próximos anos, e seus potenciais impactos sobre preços de ativos e ancoragem das expectativas;
  • Projeções de inflação no cenário de referência devem avançar;

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco

  • Comunicado deve ser semelhante ao anterior, “talvez com um pouco mais de ênfase nos riscos fiscais”;
  • Apesar das incertezas no debate sobre o novo arcabouço fiscal e gastos em 2023, a taxa de câmbio se mantém comportada, não houve piora nas commodities;
  • No modelo do BC, a deterioração das expectativas de inflação deve ser majoritariamente compensada pela postergação de cortes de juros também vista no Focus; esse pode ser um certo alerta do Copom: modelo não piorou tanto, mas juro médio se elevou;

Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan

  • Copom deve se manter em um modo “esperar para ver”; embora haja progresso no processo de desinflação, as expectativas de inflação estão se desancorando;
  • Inflação corrente mostra alívio, como foi indicado pelo núcleo do último IPCA-15 e, além disso, as condições de demanda podem estar se deteriorando, mas as expectativas de inflação estão subindo, influenciadas pelo debate recente sobre aumento da meta, sinais de políticas fiscais e parafiscais mais proativas, além de questões sobre a sustentabilidade no médio prazo das contas públicas e estabililidade política;

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil

  • BC deve manter a indicação de que seguirá avaliando “se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”;
  • No entanto, em meio a decisões de política econômica levando a maiores estímulos fiscais e expectativas de inflação, autoridade poderá “subir o tom” na avaliação dos riscos inflacionários;

Alberto Ramos, economista para América Latina no Goldman Sachs

  • Copom deve manter sinalização hawkish/conservadora, indicando que permanecerá vigilante;
  • Copom deve julgar balanço de riscos simétrico, mas ao mesmo tempo deve endurecer a linguagem para dar maior ênfase aos riscos de alta para a inflação relacionados ao cenário fiscal e recentes incertezas criadas por autoridades do governo em relação à política monetária – a exemplo da sugestão de elevar a meta de inflação e questionamentos dos benefícios de um BC autônomo;

Caio Megale e Tatiana Nogueira, economistas da XP

  • Dados desde o último Copom mostram sinais mistos para a dinâmica inflacionária; no curto prazo, surpresas baixistas na maioria dos indicadores, especialmente nos IGPs; por outro lado, incertezas fiscais intensificam os riscos altistas no médio prazo;
  • Expectativas de inflação de médio prazo seguem em alta, refletindo o risco de políticas fiscais e parafiscais mais expansionistas à frente; e refletindo uma discussão informal de que o governo pode alterar a meta de inflação;

Andre Loes, economista-chefe do Morgan Stanley

  • Cenário fiscal mudou desde o último Copom;
  • “Nós temos um orçamento que foi de um superávit em 2022 para um déficit em 2023, com uma piora do resultado primário equivalente a 2% do PIB”;
  • Dirigentes do BC vão endurecer seu tom sobre o cenário fiscal, dizendo que a política monetária terá de se contrapor à expansão fiscal porque ela impacta a inflação;

Gustavo Arruda, diretor de pesquisa para América Latina do BNP

  • “O importante é observar como o BC vai lidar com o fato de que as expectativas de inflação têm andado bastante, subindo e subindo, como de 2024, 2025 e 2026″;
  • “É importante ver como vão interagir com o fato de as expectativas estarem desancorando”;

Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics

  • “O novo aumento nas expectativas de inflação em 2026 provavelmente levará a um comentário mais hawkish do Banco Central na reunião de política monetária de quarta-feira - não necessariamente apontando para um novo aumento da taxa (o que não vemos como provável), mas indicando que pode demorar mais do que o esperado para cortar”;

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital

  • Comunicado deve vir hawkish, em linha com os anteriores;
  • “Deve ser mencionada a expectativa sobre os riscos fiscais advindo de um potencial nível de demanda superior”;

Darwin Dib, economista da Gauss Capital

  • Câmbio certamente vai gerar uma melhora de cenário, apesar da expectativa de inflação mais alta;
  • “Piora de expectativa especialmente nos horizontes mais longos foi porque surgiu essa discussão de alterar a meta. Mas tenho impressão que o BC não deve tocar nesse assunto da meta, porque esse é assunto do CMN”;

--Com a colaboração de Barbara Nascimento, Felipe Saturnino, Fernando Travaglini e Raphael Almeida Dos Santos

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