Americanas estuda empréstimo de R$ 1 bi com Lemann para manter operação

Empresa, que começou a interromper contratos com fornecedores, avalia pedir à Justiça autorização para obter um financiamento próprio para recuperação judicial

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Bloomberg Línea — A Americanas (AMER3), em processo de recuperação Judicial (RJ) desde o dia 19 de janeiro, quer tomar um empréstimo de pelo menos R$ 1 bilhão para reforçar o caixa e manter as operações, com uma possível injeção de capital pelos principais sócios, segundo fato relevante na noite de terça-feira (31).

O pedido do financiamento na modalidade DIP (debtor-in-possession, para empresas em recuperação judicial), em análise pela companhia, tem que ser autorizado pela 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, esfera em que corre a sua RJ.

O anúncio de que avalia formular o pedido de financiamento ocorre no momento em que a companhia começa a dispensar fornecedores, ser alvo de pedido de despejo por shopping centers por atraso de aluguel e de ameaça de corte até de conta de luz, além do corte de terceirizados.

O caixa da companhia, estimado no pedido de RJ em cerca de R$ 800 milhões, cobriria apenas quatro meses de folha de pessoal, sem incluir outras despesas como aluguel de lojas.

“Se efetivado, o financiamento DIP não deverá contar com garantias, permitirá participação de credores da companhia e deverá ter remuneração equivalente ao custo médio de financiamento da companhia antes do pedido de RJ (cerca de 128% do CDI)”, diz a Americanas no comunicado.

Bradesco (BBDC4) e Santander Brasil (SANB11) estão entre os principais bancos credores da Americanas, que declarou à Justiça uma dívida de R$ 41,2 bilhões devidos a 7.720 credores. Inicialmente, a companhia apresentou outros dados (R$ 43,1 bilhões de dívida com 16.300 credores).

No fato relevante, a companhia informa que vem discutindo com seus acionistas de referência a possibilidade de eles subscreverem até a totalidade do valor mínimo.

É a primeira vez que a 3G Capital, dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, sinaliza um valor para injeção de capital na Americanas, embora analistas digam que os bancos credores esperam uma contribuição maior do trio, estimada em pelo menos R$ 15 bilhões, enquanto tentam reaver os recursos emprestados em uma batalha jurídica com a companhia.

“O financiamento DIP poderá ser eventualmente substituído por novo financiamento conversível em ações da companhia e que assegurará o direito de preferência de todos os acionistas”, acrescenta o fato relevante.

Com mais de 40 mil funcionários e 2.400 estabelecimentos - já sem as lojas da joint venture com a Vibra Energia (VBBR3) -, o grupo varejista tem ainda a venda de ativos como opção para levantar recursos.

Dona da rede Natural da Terrra com 79 lojas e da Uni.co (dona das marcas Puket, Imaginarium e Love Brands), a Americanas entrou em crise após reconhecer um rombo contábil da ordem de R$ 20 bilhões no dia 11 de janeiro. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) investiga o caso a partir de indícios de insider trading (uso de informação privilegiada), maquiagem de balanços e manipulação do mercado.

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