Bloomberg — O maior fundo soberano do mundo, o da Noruega, que soma US$ 1,3 trilhão em ativos, registrou a maior perda desde a crise financeira de 2008 depois que os mercados foram atingidos pela inflação persistentemente alta, os custos de crédito mais altos e as consequências da guerra na Ucrânia.
O fundo que administra a riqueza da Noruega perdeu 14,1% em 2022, o equivalente a cerca de US$ 164 bilhões, segundo comunicado divulgado nesta terça-feira (31). O fundo é o maior proprietário individual de ações do mundo e seus retornos são altamente dependentes dos movimentos do mercado.
O CEO Nicolai Tangen passou o ano passado alertando que o crescimento do fundo nos últimos 25 anos não deve continuar em um ambiente de custos crescentes de empréstimos e inflação elevada que derrubaram as ações de máximas históricas.
Gerar retorno excessivo em mercados em queda é fundamental, disse ele. O fundo administrou isso no ano passado, superando o benchmark (índice de referência).
“O mercado foi impactado pela guerra na Europa, alta inflação e aumento das taxas de juros”, disse Tangen no comunicado. “Isso impactou negativamente tanto o mercado de ações quanto o mercado de títulos ao mesmo tempo, o que é muito incomum. Todos os setores do mercado de ações tiveram retornos negativos, com exceção de energia.”
Criado na década de 1990 para investir as riquezas geradas pelo petróleo da Noruega, o fundo obteve um retorno médio de 6% ao longo dos cerca de 25 anos em que existe.
No ano passado, o Norges Bank Investment Management (NBIM) perdeu 15,3% em ações e 12,1% em seus investimentos de renda fixa. Suas participações imobiliárias não listadas subiram 0,1%, enquanto o retorno da infraestrutura de energia renovável não listada foi de 5,1%.
O fundo é em grande parte um rastreador de índices, investindo de acordo com um rígido mandato do Ministério das Finanças. O instrumento de investimento busca aproveitar ao máximo sua margem de manobra limitada para tentar superar o referencial com o qual é medido, algo que conseguiu em oito dos últimos 10 anos.
Depois de prever em 2021 que a inflação se tornaria a maior ameaça aos mercados de capitais, o NBIM adotou posições underweight (abaixo da média do mercado) em ações, em títulos de crédito e posições overweight (acima da média do mercado) em ações de empresas de energia e mineração.
Essa aposta ajudou o fundo a superar seu benchmark em 0,74 ponto percentual em 2021 e em 0,88 ponto percentual em 2022.
De forma a se preparar para uma desaceleração prolongada, Tangen reforçou a equipe de ações do fundo e em dezembro revelou um plano de três anos para conter suas perdas. A chave para superar o benchmark será “conduzir o fundo a se tornar mais de longo prazo, mais contrário e mais ativo na seleção vendida”, disse ele na época.
Estratégias ESG
Procurando gastar os lucros do petróleo e gás da Noruega para alimentar uma transição verde, o fundo está considerando investimentos em armazenamento e transmissão de energia renovável daqui para frente, expandindo a gama de infraestrutura renovável que está disposto a manter. O fundo reconhece que é um espaço competitivo.
No ano passado, a NBIM cortou suas participações nas maiores empresas de petróleo e gás do mundo, obtendo lucros após uma alta nos preços da energia em 2022.
O fundo comprou grandes empresas de tecnologia e produtos farmacêuticos e aumentou as participações nas quatro empresas imobiliárias onde detém a maiores posições absolutas entre as ações do setor imobiliário à medida que os mercados caíam.
O fundo também recomendou a inclusão de ações não listadas no longo prazo para aumentar os retornos. Embora o fundo não tenha permissão para fazer tais investimentos, “estamos vendo cada vez mais indícios de que uma parcela maior da criação de valor está ocorrendo no mercado não listado”, disse em uma carta ao Ministério das Finanças no início deste ano.
O governo depositou 1,1 trilhão de coroas norueguesas (US$ 110 bilhões) no fundo no ano passado.
-- Com a colaboração de Rob Dawson
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