EY e Deloitte recusam nomeação da Justiça para perícia contábil da Americanas

Empresas alegaram conflito de interesses para justificar por que não vão trabalhar no caso; advogada será perita investigativa por R$ 23,5 milhões

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Bloomberg Línea — A Justiça de São Paulo ainda não conseguiu uma empresa para fazer a perícia contábil nos balanços da Americanas (AMER3). As auditorias globais EY (Ernst & Young) e Deloitte, que haviam sido nomeadas por decisão judicial, declinaram da tarefa entre a sexta (27) e segunda-feira (30). Ambas alegaram conflito de interesses.

As auditorias foram nomeadas pela juíza Andréa Galhardo Palma, da 2ª Vara Empresarial de São Paulo. Na quinta-feira (26), ela atendeu a um pedido do Bradesco e determinou busca e apreensão dos e-mails corporativos de todos os que ocuparam assentos no conselho da Americanas, bem como de todos os que foram diretores ou trabalharam na auditoria da empresa nos últimos dez anos.

A EY recusou a intimação sob alegação de já ter sido contratada pelo comitê independente nomeado pela Americanas para investigar o caso. A empresa não poderia trabalhar em duas investigações paralelas sobre o mesmo assunto.

A Deloitte não deu mais detalhes. Apenas disse que, “ao final do processo de análise das partes e do escopo do trabalho, considerando as nossas diretrizes internas, concluiu-se que há um cenário de conflito na atuação da Deloitte como perita”.

A empresa consta da lista de credores da Americanas. Segundo o documento, a Deloitte tem R$ 3,3 milhões a receber da companhia. A Bloomberg Línea procurou a Deloitte, mas a auditoria não respondeu ao pedido de comentário até a publicação desta reportagem.

Das quatro grandes auditorias internacionais - chamadas de “big four” -, sobra apenas a KPMG para atuar no caso, já que a PricewaterhouseCoopers (PwC) é a responsável pelos balanços da Americanas, hoje sob investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A advogada Patrícia Punder, especialista em investigações corporativas, aceitou a nomeação para ser perita investigativa. Cobrou 0,5% do valor total da causa, o que, conforme os valores apresentados pela Americanas até agora no processo, é o equivalente a R$ 23,5 milhões - “com a ressalva de que se trata de um valor estimado”, disse ela em e-mail à Justiça de São Paulo.

‘Fraude pantagruélica’

A cópia dos e-mails de executivos e administradores da Americanas foi solicitada pelo Bradesco em 23 de janeiro, quatro dias depois que a empresa teve o seu pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça do Rio de Janeiro.

Segundo o Bradesco, há indícios de fraude contábil na descoberta das “inconsistências” de R$ 20 bilhões da Americanas, anunciada em 11 de janeiro. Uma semana depois do anúncio do rombo, a empresa pediu recuperação judicial informando ter mais de R$ 40 bilhões em dívidas.

O banco informou à Justiça ser credor de R$ 4,7 bilhões da Americanas, sendo a instituição financeira mais exposta ao chamado “risco sacado”.

Para o Bradesco, a recuperação judicial pode ser um artifício para esconder uma “fraude contábil de dimensões pantagruélicas”.

Segundo o banco, o rombo de R$ 20 bilhões se refere a “inconsistências contábeis” nos balanços dos últimos dez anos, os “mesmíssimos dez anos” em que a empresa distribuiu quase R$ 1,8 bilhão em dividendos, enquanto os administradores receberam pagamentos de mais de R$ 700 milhões.

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