Americanas: demissão é questão de tempo após corte de terceirizados, diz analista

Varejista informou que interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados, mas diz que não iniciou nenhum processo de demissão de funcionários

Varejista tem mais de 40 mil funcionários e pode fechar pelo menos 30% de suas lojas, segundo analistas
31 de Janeiro, 2023 | 07:26 PM

Bloomberg Línea — A Americanas (AMER3) informou nesta terça-feira (31) que interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizado, enquanto o mercado trabalha com uma expectativa de um fechamento de pelo menos 30% da base de lojas da companhia, que soma cerca de 3.600 unidades de diferentes marcas e formatos.

O anúncio de fechamento de lojas e demissões é uma questão de tempo, segundo disse à Bloomberg Línea o analista de comércio eletrônico da Empiricus Research, Fernando Ferrer, citando a acelerada queima de caixa da empresa, a recusa dos fornecedores de atender aos pedidos do grupo varejista e até as ameaças de despejo, feitas por shopping centers, e suspensão de serviços básicos de empresas de eletricidade, como Enel e Light.

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Por enquanto, a Americanas nega ter iniciado corte de vagas diretas. Ela tinha mais de 40 mil funcionários, no fim de setembro e diz já ter gerado mais de 100 mil empregos diretos e indiretos.

“A Americanas informa que não iniciou nenhum processo de demissão de funcionários. A companhia apenas interrompeu alguns contratos de empresas fornecedoras de serviços terceirizados”, informou a companhia, em nota.

A varejista não forneceu detalhes sobre as atividades desses fornecedores nem o número de contratos interrompidos. Um shopping center no interior de São Paulo já ingressou na Justiça com uma ação de despejo por falta de pagamento.

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Segundo Ferrer, fornecedores de menor porte podem ter iniciado o enxugamento de pessoal, pois estão mais vulneráveis à situação financeira da Americanas. “Na lista dos credores, há empresas com dívidas a receber de R$ 500 mil, R$ 1 milhão. Parece pouco em relação ao total da dívida da Americanas, mas para pequenos fornecedores esse dinheiro faz falta”, disse o analista.

Para o analista da Empiricus, a posição de caixa da companhia é bastante frágil, enquanto os acionistas de referência não anunciam o tamanho da injeção de capital e os principais bancos credores fazem pressão na Justiça para reaver os recursos emprestados, como o BTG Pactual (BPAC11), que teve uma decisão favorável para reter R$ 1,5 bilhão.

“A Americanas informou ter uma posição de R$ 800 milhões. E gasta por mês quase R$ 200 milhões com folha de pessoal. Ou seja, isso daria para cobrir salários apenas por mais quatro meses, sem incluir outras despesas com aluguel de pontos e com fornecedores”, disse Ferrer.

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Diante da queima de caixa e da redução de capital de giro com o bloqueio dos bancos credores à concessão de financiamento antecipada dos valores das vendas, o analista da Empiricus acha “conservadora” a estimativa do mercado de que o fechamento de lojas atingirá 30% do total.

A ameaça de cortes de pessoal já constava no pedido de recuperação judicial, aprovado no último dia 19. Na petição, a defesa do grupo varejista citava que gera mais de 100 mil empregos diretos e indiretos no país e que “diversos empregos estariam ameaçados”, caso a recuperação judicial não fosse aceita pela 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Rio de Janeiro.

Desse total, mais de 40 mil são colaboradores da Americanas, segundo informou o balanço do terceiro trimestre do ano passado. Em setembro, a companhia tinha 3.601 unidades de diferentes marcas e formatos, sendo cerca de 1.800 lojas com as bandeiras Americanas e Americanas Express. Há ainda 79 lojas da Natural da Terra e 419 lojas da Uni.co (dona das marcas Puket, Imaginarium e Love Brands).

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A base de lojas também contabilizada 1.300 lojas da VEM, joint venture com a Vibra (ex-BR Distribuidora), que eram formada por 60 unidades da Local e 1.240 da BR Mania. Após o anúncio do rombo de R$ 20 bilhões, a Vibra anunciou o fim da sociedade.

Em nota, o grupo varejista destaca que o objetivo é pagar os salários em dia. “A Americanas atua nesse momento na condução de seu processo de recuperação judicial, cujo um dos objetivos é garantir a continuidade das atividades da empresa, incluindo o pagamento dos salários e benefícios de seus funcionários em dia. O plano de recuperação definirá quais serão as ações da empresa para os próximos meses e será amplamente divulgado assim que for finalizado”, acrescentou o comunicado da varejista.

As demissões em fornecedores da Americanas ocorreram no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, segundo reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo. Já o jornal O Estado de S. Paulo também citou esses dois estados e acrescentou também cortes em São Paulo.

A crise da Americanas acendeu o sinal vermelho no Ministério do Trabalho, que tem a geração de vagas no país como uma das suas prioridades.

“Esse é um assunto que preocupa muito. Nós estamos iniciando o governo, e o tema trabalho e emprego é estratégico, importante e faz parte das nossas prioridades”, disse o ministro Luiz Marinho, ontem (20), ao comentar que o governo federal não tem uma saída sobre como enfrentar a situação envolvendo a Americanas, conforme afirmou à Agência Estado.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.