Bloomberg Línea — A normalização do turismo nos Estados Unidos, combinada com uma estabilização do dólar pouco acima de R$ 5, tem levado a um aumento da procura de brasileiros pelo visto americano, seja para viagens de lazer ou negócios. Foram aprovados 742.156 vistos americanos em 2022 até novembro, uma alta de 22% ante 607.983 em 2019, ano pré-pandemia, segundo dados do governo americano.
Do total de vistos emitidos para brasileiros, 92% foram da categoria B1/B2, para turismo, segundo dados do Departamento de Estado dos EUA. O país é o terceiro que mais teve emissão de vistos americanos no período, atrás somente do México e da Índia.
E a tendência é de alta. Em São Paulo, o tempo de espera para tirar vistos americanos pode chegar a 511 dias - ou seja, praticamente 1 ano e 5 meses. Um dos motivos para a espera é o fato de muitas pessoas terem procurado tirar o visto americano ao mesmo tempo após o enfraquecimento da pandemia.
“A emissão de vistos de turismo ficou comprometida por quase dois anos durante a pandemia. Apenas casos de urgência eram atendidos. Isso gerou um acúmulo enorme de pedidos, que começaram a ser analisados a partir de novembro de 2021, quando o atendimento foi normalizado”, disse Rodrigo Costa, CEO da AG Immigration, escritório de advocacia imigratória.
Mesmo com uma força-tarefa montada pelo governo americano, a demanda reprimida é grande e isso pressiona o trabalho nos consulados.
As viagens ao exterior crescem de forma mais acentuada desde o fim de 2021 e ensaiam uma recuperação aos níveis pré-pandemia, o que impulsiona a procura por vistos para os Estados Unidos.
Depois de dois anos mais fracos, os gastos dos brasileiros em viagens internacionais subiram 132% em 2022, somando mais de US$ 12,18 bilhões, de acordo com dados do Banco Central. O valor continua abaixo do nível de 2019, de US$ 17,59 bilhões, mas tende a aumentar ainda mais em 2023.
Imigração em alta também
Não é só para viagens de turismo que houve aumento na procura. A busca pelo visto de trabalho e de investidor também cresceu.
Em 2021, ano dos dados mais recentes, o governo americano recebeu 5.416 pedidos de brasileiros solicitando os vistos EB (Employment-Based). Foi um número 18,1% maior do que os 4.583 pedidos do ano anterior e 519% acima do registrado em 2012, segundo dados compilados pela AG Immigration.
Durante aquele ano, o Brasil foi o quarto país com o maior número de solicitações de vistos para trabalho, atrás somente de Índia, China e Filipinas.
Em 2021, foram emitidos 17.952 green cards (residência permanente) para brasileiros. Em 2022, os números continuaram a subir, com expectativas de que tenham superado a casa dos 20 mil - isso significaria ultrapassar o nível de 2019, antes da pandemia, quando foram emitidos 19.825 vistos permanentes. Durante as eleições, a busca por green card subiu 263% na AG Immigration.
Segundo a Golden Gate Global, empresa de investimento imobiliário, o visto para investidores estrangeiros, conhecido como EB-5, também está na mira dos brasileiros, ainda mais pelo apelo do green card.
Para consegui-lo, uma pessoa precisa investir pelo menos US$ 800 mil em uma área geográfica de alto desemprego nos Estados Unidos e deve residir seis meses por ano no país.
“O visto é um investimento em um projeto que precisa gerar empregos - pelo menos dez por investidor. Um dos requisitos do Centro de Migração é que, para conseguir esse green card, é preciso gerar mais empregos e estimular a economia americana”, disse Danielle Garaicoechea, diretora de desenvolvimento de negócios internacionais da Golden Gate Global.
O EB-5 proporciona também residência americana para o cônjuge do investidor e para filhos menores de 21 anos.
A onda recente de demissões em empresas americanas de tecnologia, setor que abriga muitos estrangeiros, também pode fazer a procura pelo EB-5 aumentar. Isso porque, após a demissão, o imigrante tem até 60 dias para encontrar um novo emprego ou alterar o status de seu visto. A mudança de um visto de trabalho para um visto de investidor, por exemplo, é uma alternativa para permanecer no país.
“Em um mercado pressionado e com muitas demissões nos últimos meses, vemos o interesse crescente de pessoas que já residem no país e que, agora, querem fazer o ajuste de status”, disse Fernando Guerrero, diretor de desenvolvimento de investimentos de negócios da América Latina da Golden Gate Global.
Bye, bye, Brasil
Os motivos do aumento da procura por vistos de turismo e de residência não são os mesmos, mas, segundo Costa, da AG Immigration, ambos dependem de um mesmo catalisador: a economia.
“Historicamente, quando a economia brasileira vai mal, a procura por vistos permanentes [green cards] aumenta de maneira mais acelerada, pois cresce o desejo de sair do país”, afirmou.
“Contudo, quando a economia brasileira vai bem, aí são os vistos temporários que têm melhor desempenho, porqueo contexto de prosperidade impulsiona as pessoas a gastar e a viajar mais.”
Diante da expectativa de desaceleração da economia no país, a tendência é que a procura por vistos se torne ainda maior, neste momento, dos vistos permanentes.
Nem mesmo o temor sobre uma recessão nos Estados Unidos ou a cotação do dólar acima de R$ 5 assustam os brasileiros. “É a lógica do ‘se não pode vencê-los, junte-se a eles’. Não há muito o que fazer, considerando que o dólar é a moeda oficial dos EUA”, disse Costa.
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