Má notícia para a economia: brasileiro compromete um terço da renda com dívidas

Famílias gastam 28% dos salários para pagar dívidas, o nível mais alto desde 2005, segundo dados do BC; situação tende a reduzir o consumo

A taxa média de inadimplência dos consumidores atingiu 5,9% no fim de 2022, um ponto e meio acima da do ano anterior
Por Maria Eloisa Capurro
28 de Janeiro, 2023 | 09:59 AM

Bloomberg — As famílias brasileiras gastam quase um terço de seus salários mensais para pagar dívidas, uma situação que tende a enfraquecer ainda mais a economia no momento em que o Banco Central (BC) avalia manter a taxa de juros no nível mais alto em seis anos durante a maior parte do ano.

O comprometimento de renda em novembro atingiu 28,2% dos salários das famílias, o valor mais alto no conjunto de dados que remonta a 2005, segundo números do BC publicados na sexta-feira (27). O endividamento das famílias, incluindo faturas de cartão de crédito, hipotecas e todos os tipos de empréstimos, atingiu 49,5% da renda total das famílias, ligeiramente abaixo do pico de julho de 50,1%.

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Os formuladores de política monetária sob o comando de Roberto Campos Neto estão mantendo a taxa Selic estável em 13,75%, mesmo que a inflação tenha desacelerado com maior força no Brasil entre as principais economias emergentes no ano passado. No entanto, as incertezas sobre as perspectivas fiscais do Brasil e a preocupação com os gastos do governo sob a nova administração de Luiz Inácio Lula da Silva diminuíram as apostas sobre cortes de juros que ocorrerão em breve. Os ataques velados de Lula à autonomia do BC e às metas de inflação também impulsionaram as expectativas de inflação, que agora estão acima da meta até 2025.

As taxas de inadimplência permanecem em um dígito, embora estejam em alta. A taxa média de inadimplência dos consumidores atingiu 5,9% no fim de 2022, um ponto e meio acima da do ano anterior.

Brasileiros estão mais endividados e pagando juros mais altos do que um ano atrás

As famílias também estão deixando de pagar os empréstimos mais caros. A inadimplência nos empréstimos rotativos — quando as faturas do cartão de crédito não são pagas integralmente — atingiu 44,7%, o maior nível no conjunto de dados que remonta a 2011. A inadimplência no cheque especial atingiu 13,4%, a maior desde setembro de 2020.

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Os banqueiros centrais alertaram sobre níveis “altos” de dívida das famílias em seu último relatório de inflação. No entanto, ao mesmo tempo, o presidente da autoridade monetária, Campos Neto, disse em novembro que os testes de estresse apontavam para um sistema bancário “muito saudável”.

“A maior parte do aumento dos empréstimos às famílias no ano passado foi através de empréstimos com taxas de juros mais baixas”, disse Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do BC, em entrevista na sexta-feira.

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