Bloomberg — Com a onda de demissões em Wall Street e nas empresas do setor de tecnologia, executivos das companhias têm falado sobre a necessidade de cortar custos em um ambiente econômico desafiador. Em algumas das maiores empresas, as mesmas medidas de austeridade também estão sendo aplicadas no pagamento de bônus e outros rendimentos para os executivos C-Level, no topo da cadeia de comando das empresas.
David Solomon, CEO do Goldman Sachs (GS) foi o mais recente executivo a ser atingido: sua remuneração em 2022 foi reduzida em cerca de 30%, para US$ 25 milhões, informou o banco na sexta-feira (27). Solomon se junta ao CEO do Morgan Stanley (MS), James Gorman, entre os chefes de bancos que aceitaram um corte salarial por seu trabalho. Os detalhes da remuneração da Alphabet (GOOGL), holding dona do Google ainda não foram divulgados, mas o CEO Sundar Pichai disse que os executivos seniores receberão bônus significativamente menores este ano.
Cada um dos CEOs anunciou recentemente milhares de cortes de empregos. O Goldman Sachs está cortando 3.200 empregos em uma de suas maiores rodadas de demissões de todos os tempos, enquanto o Morgan Stanley cortará 1.600 pessoas. A Alphabet está cortando cerca de 12.000 empregos - 6% de sua força de trabalho total.
A Apple (AAPL), uma das poucas gigantes da tecnologia que até agora não realizou demissões em massa, anunciou este mês que o CEO Tim Cook receberá um corte salarial de mais de 40%, para US$ 49 milhões em 2023, numa rara divulgação pública sobre o salário futuro de um CEO tão conhecido. A mudança foi motivada em parte por pressão de acionistas. Outros altos executivos da empresa receberam pequenos aumentos no ano passado.
“Quer se trate de movimentos de relações públicas ou não, acho que, da perspectiva de funcionários e acionistas, é realmente o movimento certo para as organizações”, disse Tony Guadagni, diretor sênior do grupo de recursos humanos da empresa de consultoria Gartner. “É uma mensagem tremenda da liderança dizer: ‘Isso vai doer e vai me machucar também’”, disse Guadagni.
Maior controle de despesas
Muitas empresas de tecnologia segurando gastos após um período de crescimento, à medida que as taxas de juros aumentam e a demanda do consumidor esfria, enquanto em Wall Street os bancos enfrentam uma queda nos negócios em todo o setor. Empresas em todos os lugares estão tentando controlar os custos em meio à alta inflação e antes de uma possível recessão.
A queda nos preços das ações por si só já reduz a remuneração de muitos CEOs se seu pacote de compensação for fortemente dependente do desempenho das papéis, mesmo sem um gesto simbólico. Cook, da Apple, estava entre os executivos mais bem pagos em 2021, recebendo um salário multimilionário, além de ações.
O CEO da Amazon (AMZN), Andy Jassy, por outro lado, recebe US$ 175.000 por ano de salário-base, com a maior parte de sua remuneração na forma de bônus em ações. Sua remuneração em 2022 ainda não foi anunciada, mas deve cair significativamente em relação ao ano anterior, já que as ações da Amazon caíram pela metade. A Amazon disse neste mês que cortará 18.000 empregos corporativos em todo o mundo devido à desaceleração das vendas.
A Microsoft (MSFT), que anunciou em 18 de janeiro que cortará 10.000 empregos, deu ao CEO Satya Nadella um aumento de 10%, para US$ 55 milhões no ano até junho de 2022. Falando no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, este mês, Nadella reconheceu que “teremos que fazer mais com menos” daqui para frente.
O pagamento do CEO da Salesforce (CRM), Marc Benioff, que se manteve estável por vários anos, foi de cerca de US $ 29 milhões em 2021. Sua remuneração no ano fiscal de 2022, geralmente divulgada com um registro no final de abril ou início de maio, ainda não é conhecida. A empresa de software empresarial, que está enfrentando pressão de vários investidores ativistas, disse neste mês que cortará cerca de 10% de sua força de trabalho.
Os detalhes da remuneração não foram anunciados para o CEO do Bank of America (BAC), Brian Moynihan, que adicionou mais funcionários no quarto trimestre, ou para a CEO do Citigroup, Jane Fraser, que fez dezenas de cortes no ano passado na unidade de banco de investimento. O salário do CEO Jamie Dimon no JPMorgan Chase foi mantido inalterado em US$ 34,5 milhões à medida que o banco adicionava mais funcionários.
Outros CEOs – especialmente na indústria de tecnologia – não aceitam salários convencionais. O CEO da Meta (META), Mark Zuckerberg, e o CEO da Snap (SNAP), Evan Spiegel, são conhecidos por receberem salários anuais simbólicos de US$ 1, e o CEO do Twitter, Elon Musk, não é obrigado a relatar a compensação agora que a empresa fechou o capital.
Embora o salário dos principais CEOs seja 300 vezes superior à média dos funcionários, apenas um quarto dos colaboradores acha que a disparidade é injusta, de acordo com uma pesquisa do Gartner realizada em meados de 2022.
“É quase bizarro como a remuneração executiva extremamente alta se tornou arraigada, não apenas no mundo dos negócios, mas no tecido social”, disse Guadagni, do Gartner. “Mas no contexto de um mercado em alta de uma década e emprego relativamente estável, você pode entender isso.” Ele disse que está começando a ver essas percepções mudarem à medida que a economia esfria e os trabalhadores se sentem menos seguros.
De acordo com outra pesquisa recente do Gartner, quase 80% dos funcionários disseram que os executivos seniores deveriam estar dispostos a aceitar um corte salarial antes de fazer demissões ou cortar o pagamento de qualquer outra pessoa.
Para a maioria dos executivos, pelo menos, uma nova pesquisa sugere que essas medidas de austeridade estão aparecendo em seus próprios contracheques. Seis em cada 10 executivos tiveram um corte salarial para minimizar as demissões nos últimos seis meses, mostra uma pesquisa da Resume Builder com 1.000 executivos de empresas americanas com mais de 100 funcionários.
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