Bloomberg Línea — Os advogados do Bradesco (BBDC4), um dos maiores bancos credores da Americanas (AMER3) em seu processo de recuperação judicial, apresentaram uma manifestação criticando a empresa por recorrer da decisão da Justiça de São Paulo, que determinou busca e apreensão de e-mails dos últimos 10 anos entre administradores e conselheiros.
Em texto do escritório Warde Advogados, os representantes do banco dizem que “a Americanas foi palco para uma das maiores fraudes contábeis da iniciativa privada”.
O Bradesco, credor de risco da Americanas, para quem a varejista deve R$ 4,7 bilhões, entrou com pedido de produção antecipada de provas na Justiça de São Paulo, que concedeu a liminar e nomeou um perito para acompanhar todos os procedimentos de busca e apreensão das caixas de e-mail para identificar as pessoas envolvidas no rombo contábil.
A Americanas recorreu da decisão da Justiça contra o procedimento de busca e apreensão dos e-mails de diretores e executivos do grupo. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a empresa diz que os fatos que levaram às inconsistências contáveis devem ser objeto de apuração, mas diz que é cedo para alegar que houve fraude e vê “pressa”.
“A apuração de eventual fraude interessa não apenas ao Bradesco, mas ao próprio Grupo Americanas e a todos os seus demais credores. Mas essa averiguação (...) não pode ser promovida de forma atabalhoada, com dispêndio de recursos excessivos e com diligências improdutivas e inócuas”, diz o documento do recurso da Americanas.
Os advogados do Bradesco dizem que “causa perplexidade a postura da Americanas nesta ação, onde parece fazer o possível e o impossível para impedir que a fraude seja investigada e aqueles por ela individualmente responsáveis sejam devidamente apenados por terem se locupletado às custas de uma companhia aberta e em prejuízo de todos os seus stakeholders”.
Os advogados apontam inconsistências no pagamento de dividendos aos acionistas da empresa ao mesmo tempo que a empresa não tinha identificado o rombo de R$ 20 bilhões em sua contabilidade. A Americanas, que também está sendo investigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), também pediu recuperação judicial nos Estados Unidos nesta semana.
“Seria pouco prudente querer já neste momento indicar culpados e apontar condutas trangressoras, mas é irresistível o impulso de associar os R$ 20 bilhões que a Americanas diz terem sumido dos seus balanços, ao longo de dez anos, com os R$ 2 bilhões que foram distribuídos aos seus acionistas no mesmo período, ou com os quase R$ 800 milhões que foram pagos aos seus administradores - diretores e conselheiros - também nesse mesmo decênio, a título de remuneração fixa e de bônus”, diz o texto da defesa do Bradesco, que também criticou o ex-CEO Sergio Rial, que ficou nove dias no cargo executivo da varejista.
Rial deixou a empresa após fato relevante informando da dívida de R$ 20 bilhões.
“Ainda mais difícil é acreditar na historinha mal-ajambrada de que o agora já ex-CEO da Americanas, Sr. Sergio Rial, teria entrado na companhia no dia 3 de janeiro deste ano, e, em menos de dez dias no exercício do cargo, num lampejo de genialidade numérica que nem o mercado financeiro está acostumado a ver, teria conseguido identificar sozinho as ‘inconsistências contábeis’ bilionárias que por mais de uma décadas passaram desapercebidas por todos os diretores, conselheiros e acionistas.”
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