Cielo pode rever contrato com a Americanas após recuperação judicial

CEO da líder em meios de pagamento no Brasil diz que varejista não está entre seus maiores clientes nem lhe deve nada; companhia mantém tom positivo sobre crescimento em 2023

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Bloomberg Línea — A Cielo (CIEL3) poderá rever seu contrato comercial com a Americanas (AMER3), que entrou em recuperação judicial no dia 19, segundo o CEO da líder em pagamentos eletrônicos no Brasil, Estanislau Bassols. Mesmo não sendo credora da varejista, a adquirente é controlada pelo Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3), com dívidas a receber de R$ 4,8 bilhões e R$ 1,4 bilhão, respectivamente.

A relação comercial e contratual com todos nossos clientes é revista periodicamente e tratamos apenas com os clientes, independente se ele pediu ou não recuperação judicial. Mantemos a confidencialidade de nossa relação”, respondeu o executivo à Bloomberg Línea ao ser indagado sobre o impacto operacional esperado entre Cielo e Americanas, durante teleconferência com a imprensa.

“Não somos credores da empresa que solicitou recuperação judicial. A participação de grandes clientes é bem desconcentrada: individualmente, nenhum cliente responde por mais de 0,9% desse segmento”, reforçou o CEO da Cielo.

Na lista de credores divulgada pela Americanas, aparecem adquirentes como a Stone (STNE) por meio da Pagar.me com débito a receber de R$ 370 mil, e outras com valores irrisórios - Rede (R$ 930) e PagSeguro (PAGS) com R$ 600.

Mesmo com o varejo brasileiro impactado pelo calote da Americanas, a Cielo manteve o tom otimista ao descrever o ambiente dos seus negócios esperado para 2023, apostando no avanço de novos meios de pagamentos, como as transações via WhatsApp e Pix, e cogitando novo reajuste de suas tarifas, um dos fatores que ajudou a aumentar o lucro de 2022 em 78,7% para R$ 1,480 bilhão.

Reajuste

Presente na teleconferência para comentar o resultado do quarto trimestre, o CFO da Cielo, Filipe Oliveira, não descartou uma nova rodada de reajustes de preços dos serviços no mercado nacional de adquirência em 2023, como se viu nos dois semestres de 2022. O executivo disse que o ambiente é propício para novos ajustes de preços diante do cenário de juros elevados e maior custo de captação.

“Em 2022, a razão macro para o reposicionamento de preços foi a alta dos juros e a inflação. A margem da indústria estava bastante aquém do retorno mínimo para o acionista, com alguns pares abaixo de 10%, 15%, com o recorde de juros que traz o custo de capital para cima”, afirmou Oliveira.

Ele disse que ainda vê esses elementos presentes em 2023. “A taxa de juros continua alta. Então, o retorno para o acionista precisa ser um pouco mais alto. Ainda vemos a rentabilidade dos nossos pares ainda um pouco abaixo. Vemos um ambiente propício para eventuais reposicionamentos que a indústria possa vir a precisar”, disse o CFO.

Resolução 246

Sobre a entrada em vigor a partir do próximo dia 1º de abril da Resolução do Banco Central nº 246, que estabelece o teto de 0,7% na taxa de intercâmbio dos cartões pré-pagos, a administração da Cielo disse que ainda é cedo para estimar o impacto da nova regra para o setor.

Analistas consideram que essa resolução pode gerar prejuízos ao modelo de negócio de inúmeras fintechs, players que detêm o produto pré-pago majoritariamente em seu portfólio e que costumam operar taxas de intercâmbio entre 1,5% e 2%.

“Temos muita alegria de ver que a assimetria regulatória que estava estabelecida deixou de existir. A atuação do Banco Central foi fundamental. Somos todos muito gratos a isso. Ainda é muito cedo para ententer como o mercado vai absorver, uma vez que diversas variáveis macroeconômicos ainda estão se definindo ao longo do ano”, disse o CEO da Cielo.

Já o CFO acrescentou que a mudança não vai ser positiva apenas para Cielo, mas para o mercado de adquirência como um todo e para o cliente final.

WhatsApp e Pix

Quanto à estratégia para explorar novos meios de pagamento, o CEO disse que a Cielo aguarda a aprovação do Banco Central para o início da operação com empresas, prevista no acordo anunciado em setembro do ano passado com a gigante tech norte-americana Meta Platforms (META) para captura e processamento de transações feitas por meio do WhatsApp, app de troca de mensagens.

Já o Pix, meio de pagamento instantâneo criado pelo BC há dois anos, também tem surpreendido a Cielo. “Estamos ajudando o segmento de varejo a operar o Pix. A operação tem crescido de forma importante e vem se acelerando. Mesmo o Pix, o cliente quer ter mais segurança e certeza de que o recurso está entrando na conta correta. Estamos prestando esse serviço”, afirmou Bassols.

A companhia planeja para este ano levar mais autoserviço aos clientes, manter a disciplina com o controle de custos e aproveitar a maior penetração dos cartões nos diversos segmentos de consumidores, a fim de aumentar suas margens de lucro e retorno aos acionistas.

Reações

No primeiro pregão após a divulgação do resultado financeiro do quarto trimestre na noite anterior, as ações da Cielo operam em queda de 3,40%, cotadas a R$ 5,11 na B3, mas os papéis acumulam valorização de 140% em 12 meses.

Em relatório, o banco norte-americano Goldman Sachs destacou que o lucro líquido de R$ 328 milhões no quarto trimestre veio 26% abaixo de sua estimativa, negativamente impacto por eventos não-recorrentes, como a descontinuidade da maquininha Cielo LIVO v2 e à suspensão do pagamento de uma parcela adicional referente à venda da MerchantE.

Já relatório do BB Investimentos citou como aspecto negativo do balanço a queda do número de clientes ativos (-12,45% na base anual) e a redução da representatividade dos produtos de prazo em relação aos volumes transacionados (-1 ponto percentual ano/ano).

“Apesar do crescimento dos volumes transacionados e do atingimento de seu notável recorde, observamos consecutivas quedas na base ativa de clientes, o que pode representar um ponto de alerta. Já a queda de representatividade dos produtos de prazo pode ser um ponto a ser observado nos próximos trimestres”, observou a equipe do BB Investimentos.

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