Simone Tebet é única notícia boa para Lula na economia até agora, diz Rio Bravo

Gestora com R$ 13,3 bilhões de ativos sob gestão avalia com bons olhos a equipe da ministra do Planejamento, mas critica falta de um plano ‘crível’ de sustentabilidade fiscal

Ministra do Planejamento cercou dos melhores especialistas do país nas suas respectivas áreas, segundo a Rio Bravo
25 de Janeiro, 2023 | 10:01 AM

Bloomberg Línea — A poucos dias de completar um mês de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguiu sinalizar para os agentes econômicos um compromisso sólido com o equilíbrio das contas públicas de modo a afastar os riscos do aumento de despesas para a economia.

Esta é a visão da gestora Rio Bravo Investimentos, que tem entre os sócios-fundadores o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco. A avaliação também tem sido apontada por outros especialistas do mercado financeiro.

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Em carta mensal a investidores, a Rio Bravo avalia que Lula “ainda não foi capaz de apresentar um plano crível de sustentabilidade fiscal” e que a “única notícia boa” até agora no campo da economia “foi o anúncio da equipe da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que se cercou dos melhores especialistas do país nas suas respectivas áreas”. A carta é assinada por Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado, e o economista Luca Mercadante.

Primeiras medidas econômicas

A Rio Bravo, que tem cerca de R$ 13,3 bilhões em ativos sob gestão, avalia que o pacote de medidas apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “tímido” e “envolto em otimismos exagerados, não sendo capaz nem de cobrir o buraco criado pela PEC da Transição”.

No dia 12 de janeiro, Haddad apresentou um conjunto de medidas para compensar parte do aumento de despesas em 2023 e reduzir o déficit primário. Ao todo, o pacote prevê uma compensação de R$ 243 bilhões, sendo a maior parte (R$ 193 bilhões) relacionada ao aumento da arrecadação. Economistas do mercado financeiro avaliaram que a proposta apresentada é positiva, mas viram com ceticismo as previsões de arrecadação indicadas pelo governo.

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A Rio Bravo acredita que a vontade do governo é combinar o pacote com um novo arcabouço fiscal com uma reforma tributária para resgatar a credibilidade fiscal, mas diz não ter esperança sobre o resultado dessas medidas. “As primeiras semanas de governo não permitem grandes expectativas com o que há de vir”, diz a gestora.

A empresa de gestão de investimentos ressalta que a incerteza tem se refletido no aumento das expectativas do mercado para a inflação em 2023 e 2024, o que coloca pressão sobre o Banco Central. A Rio Bravo avalia que a autoridade monetária terá de ser “no mínimo” mais rígida no discurso sobre o controle da inflação.

Ao mesmo tempo, a gestora nota que o IPCA de dezembro aponta para uma alta dos preços maior do que a esperada, com aumento também das medidas de inflação subjacente, que continuam muito acima da meta do Banco Central.

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“Ainda não antevemos altas adicionais na taxa de juros em 2023, mas o comportamento recente atribui um viés de alta para as projeções da Selic ao final do ano”, afirma a carta mensal da Rio Bravo.

Invasão em Brasília

A Rio Bravo também faz comentários sobre a invasão aos prédios dos Três Poderes no domingo, 8 de janeiro, por manifestantes apoiadores do presidente Jair Bolsonaro em Brasília.

Segundo a gestora, o episódio tornou realidade um cenário de turbulência antes apontado como uma possibilidade por cientistas políticos, mas classificou a invasão como “uma tentativa mal planejada de golpe de Estado”.

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Os analistas da Rio Bravo não veem riscos no curto prazo, mas avaliam que a invasão dos manifestantes prejudica a percepção de risco institucional no mercado brasileiro.

Do ponto de vista político, a gestora diz que os desdobramentos das manifestações “têm potencial para dar fôlego a um governo que começava enfraquecido e que chegou ao poder na eleição mais apertada da história do Brasil.”

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.