São Paulo — Na lista de credores enviada à Justiça dentro do processo de recuperação judicial, a Americanas (AMER3) aponta fornecedores de diferentes portes que atuam em categorias de produtos que ajudaram a popularizar o grupo varejista com consumidores nas últimas décadas.
Um deles em particular é o da indústria de doces.
A Americanas tem uma dívida de R$ 259,370 milhões com a Nestlé, dona de marcas de chocolates como o Kit Kat, segundo o documento apresentado à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, que aponta débitos totais de R$ 41,2 bilhões devidos a 7.720 credores. A multinacional suíça não respondeu imediatamente ao pedido de comentário enviado pela Bloomberg Línea.
Dona da Chocolates Garoto, de marcas como Baton, Talento e Serenata do Amor, a Nestlé era uma das peças-chaves da Americanas na promoção “Maior Páscoa do Mundo”, mote publicitário para as vendas de ovos de chocolate durante o mês do feriado cristão. Desde os anos 1980, as lojas da Americanas construíram a tradição da Páscoa com ovos de chocolate suspensos em seus corredores.
Desde a revelação do rombo contábil de R$ 20 bilhões, no último dia 11, o setor de alimentos acompanha com atenção os desdobramentos da crise envolvendo a Americanas em um momento em que os fornecedores se preparam para mobilizar a logística de entregas dos produtos para o varejo, a menos de três meses para a Páscoa, uma das principais datas do ano para o setor.
“A Americanas é uma importante parceira de negócio da indústria e estamos acompanhando de perto as atualizações e decisões tomadas pela empresa”, disse a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas), em nota enviada à Bloomberg Línea, antes da apresentação do pedido de recuperação judicial na semana passada.
Subsidiária do grupo Arcor, de origem argentina, a Bagley do Brasil também aparece na lista de credores da Americanas com R$ 4,591 milhões a receber. O portfólio do grupo tem marcas reconhecidas pelos consumidores, como Tortuguita, 7Belo, biscoitos Triunfo, Aymoré e Danix, as balas Butter Toffees, os chicles Poosh e Big Big, entre outras que ocupam as gôndolas da varejista.
Outra parceira comercial importante, a Ferrero teria de receber R$ 14,860 milhões, segundo a lista. A operação brasileira da companhia italiana especializada em mercearia fina e dona de marcas icônicas como Ferrero Rocher, Nutella, Kinder e Tic Tac, não se posicionou ainda sobre sua posição na lista.
Já a dívida com a Mondelez Brasil, das marcas Lacta, Oreo e Bis, chega a R$ 97,7 milhões, incluindo os R$ 4,7 milhões referentes à operação no Norte e Nordeste.
A Bauducco, tradicional marca de biscoitos e panetones no Brasil, tem dívida a receber de R$ 96,4 milhões. Na lista, a companhia aparece como Pandurata Alimentos Ltda.
Bloomberg Línea atualiza a lista dos credores desse segmento do setor de alimentos após conclusão da checagem com as companhias presentes na relação enviada à Justiça pela Americanas.
Balas, amendoim e polvilho
Outra credora da Americanas citada na lista é a Dori Alimentos. São débitos de R$ 3,8 milhões. Sediada em Marília, no interior de São Paulo, e com quatro fábricas no país, a empresa, que tentou um IPO (oferta inicial de ações) na B3 em 2021, é um dos maiores fabricantes de snacks de amendoim, doces e de chocolate, com as marcas Dori, Pettiz, Gomets, Yogurte 100, Bolete, Deliket e Disqueti. Procurada pela reportagem há uma semana, a assessoria da Dori disse que não iria se posicionar.
No segmento de chocolates, outro credor relevante é a Top Cau, que produz ovos de chocolate para grandes marcas do mercado. A dívida da Americanas com a empresa soma R$ 1,041 milhão, segundo a lista apresentada à Justiça fluminense. Procurada, a Top Cau não respondeu imediatamente ao pedido de comentários sobre a inclusão na lista de credores.
Uma estratégia da varejista para monetizar a Páscoa era mirar o público infantil com os ovos da D’elicce, marca própria da Americanas com itens licenciados de grandes marcas como Hello Kitty, Turma da Mônica, Playstation, L.O.L. e Polly Pocket, entre outros.
A Americanas conseguia impulsionar suas vendas com o apelo de marketing de personagens populares graças a um contrato de licenciamento para uso de imagens das produções da Disney (DIS). Na lista, aparece um débito de R$ 1,133 milhão com a Disney Consumer Products Latin America.
A lista traz dívidas também com fornecedores de menor porte. No segmento de doces aparece a Bananinhas Paraibuna, credora de R$ 50.590,20. Já a Cassini Alimentos, que fornece biscoitos de polvilho, espera receber R$ 2,931 milhões.
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