O que esperar do PIB das cinco regiões no primeiro ano do governo Lula

Em meio a planos de aumento de gastos do primeiro ano de mandato, regiões enfrentam cenário macro de impacto dos juros elevados e recessão global

Atividade no setor, que inclui petroquímicas, deve sentir mais os efeitos da política monetária restritiva
22 de Janeiro, 2023 | 05:35 PM

Bloomberg Línea — O Brasil será afetado de forma distinta pelas decisões do novo governo e pela desaceleração da economia mundial, dependendo da região do país, segundo analistas. A tendência para 2023 é a de baixo crescimento do PIB da maioria das regiões, seguindo o comportamento esperado de contração para a média nacional. Mas o Norte e o Centro-Oeste devem apresentar desempenho acima da média em 2023 devido à indústria extrativista e ao agronegócio, respectivamente.

O Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo), região mais rica do país, deve registrar um retração do PIB de 0,6% em 2023, o triplo da média nacional projetada (-0,2%), apontou um recente estudo do Santander Brasil sobre o desempenho das economias regionais.

“Após forte queda em 2020 e retomada em 2021 e 2022, a indústria do Sudeste deve ter contração em 2023. Falta de insumos e política monetária restritiva devem impactar o setor em São Paulo e Minas Gerais em 2023. A piora na atividade deve impactar o setor de serviços em toda a região”, analisou o Santander.

“Por outro lado, a agropecuária no Sudeste deve manter tendência de expansão ao longo dos próximos anos, pois o ciclo favorável de commodities agrícolas ajuda o setor”, completou.

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Já o Nordeste, que concentra 30% da população brasileira, tem previsão de leve crescimento do PIB no primeiro ano do governo Lula (+0,1%), segundo o estudo do Santander.

“Estimamos que o Nordeste recuperou parcialmente a contração do PIB em 2020 e 2021, principalmente em razão da retomada do setor de serviços. Os efeitos residuais da reabertura da economia devem ter ajudado a manter a expansão em 2022, com expectativa de leve de crescimento em 2023″, analisou o relatório do banco.

O Centro-Oeste é a região que deve ter o melhor desempenho do PIB em 2023 (+1,2%), seguido pelo Norte (+1,0%) e pelo Sul (+0,1%). “O agronegócio sofreu menos os impactos da pandemia, e o Centro-Oeste tem a maior participação da agropecuária entre as regiões do país. Apesar do risco de quebra de safras devido a problemas climáticos, a tendência de ciclo favorável para as commodities deve ajuda a manter o crescimento da região”, apontou o estudo.

A tendência para os estados do Sul é de ligeiro crescimento no setor de serviços, com desempenho melhor do que a média nacional, enquanto a agropecuária pode ter expansão modesta em 2023, segundo o Santander. “Em 2022 e 2023, a desaceleração da economia e a continuidade nos problemas de cadeias produtivas devem impactar a indústria no Sul”, projetou o banco.

No Norte, a indústria de transformação no Amazonas, onde fica a Zona Franca de Manaus, impactou o crescimento da região positivamente. Houve ainda uma recuperação robusta do setor de serviços. “A região deve manter crescimento acima da média nacional nos próximos anos, impulsionada também pela retomada do emprego e transferências governamentais”, previu o relatório.

Fatores positivos

No dia 9 de janeiro, o relatório semanal Focus, que compila a mediana das projeções do mercado para diversos indicadores da economia, indicou uma previsão de crescimento do PIB nacional de 3,03% em 2022, de 0,78% em 2023, 1,50% em 2024 e 1,90% em 2025.

“O crescimento da atividade econômica deve continuar desacelerando no último trimestre de 2022 e em 2023. Esperamos que o PIB avance 0,1% no 4º tri de 2022, fechando o ano em 3,0%. Para 2023, revisamos o crescimento para 0,9% (de 0,7%), diante da expectativa de mais estímulos fiscais e da melhora na perspectiva da safra agrícola”, apontou relatório do Itaú BBA de 16 de dezembro.

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Já o FMI (Fundo Monetário Internacional) trabalha com a previsão de avanço de 1% no PIB brasileiro em 2023, como revelou um relatório divulgado em outubro de 2022, abaixo do esperado para outros países da América Latina como México (+1,2%), Argentina (+2%), Colômbia (+2,2%) e Peru (+2,6%). Para o mundo, a instituição projeta alta de 2,7% neste ano.

O cenário internacional, ainda repleto de incertezas, tem potencial de motivar revisões semanais das instituições financeiros quanto a suas projeções para os indicadores de crescimento do país. Um tom de otimismo já é visto em algumas análises sobre o destino do capital estrangeiro.

“O Brasil está bem posicionado quando se analisa o cenário global, com a inflação no mundo desenvolvido, a guerra Rússia-Ucrânia, a crise energética na Europa e tensões na relação entre EUA e China. Tudo isso ajuda na atração de recursos para um Brasil com taxas de inflação em queda, real desvalorizado, aumento de empresas brasileiras multinacionais e o agronegócio alimentando parte do mundo”, disse Roberto Haddad, sócio da KPMG no Brasil.

Emprego

O ritmo de geração de emprego, uma das principais bandeiras do novo governo, também deve apresentar diferentes variações dependendo do potencial econômico de cada região do país. O relatório semanal Focus não consolida projeções para taxas de ocupação e desemprego.

“Apesar de alguns sinais de desaceleração, dados recentes do mercado de trabalho continuam surpreendendo positivamente. Com isso, revisamos nossas projeções da taxa de desemprego para 8,2% (de 8,6%) em 2022 e para 8,5% (de 9,3%) em 2023″, projetou a equipe do Itaú BBA.

Já o estudo do Santander analisa a abertura de vagas de acordo com as cinco regiões do país desde a retomada em 2021, ano da retomada com o início da campanha de vacinação contra a Covid-19. Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste também indicam uma retomada dos empregos perdidos durante a pandemia, segundo o Santander.

“O Norte foi destaque na retomada de empregos formais, com geração líquida em 2021 e 2022 superior às perdas observadas em 2020. Maiores empregadores da região, Amazonas e Pará, foram destaques”, citou o relatório.

Já equipe da XP avalia que o mercado de trabalho formal continuará a arrefecer nos próximos meses em todo o país e espera menor criação de vagas formais no primeiro ano do governo Lula devido a um cenário de estagnação da atividade doméstica observada no quarto trimestre de 2022.

“Projetamos criação líquida total de 2,17 milhões de empregos com carteira assinada em 2022. Para 2023, estimamos saldo de 1,10 milhão”, estimou relatório da XP.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.