O que a redução de novos unicórnios aponta para o futuro na América Latina

Levantamento mostra que região teve dez novas empresas avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais em 2022, a metade de 2021, em ambiente com capital mais escasso

Startups continuam a atrair investimentos e jovens talentos apesar do momento mais adverso dessa indústria
22 de Janeiro, 2023 | 02:45 PM

Bogotá — O ecossistema de startups na América Latina experimentou um boom nos últimos anos que levou ao surgimento de unicórnios na região, empresas avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais, mas as novas condições da economia mundial, com juros altos e desaceleração, deram a esses negócios um choque de realidade e causaram uma reversão nas estratégias para 2023.

2022 será lembrado como um dos anos mais desafiadores para startups, não só na América Latina, mas também nos mercados mais desenvolvidos do mundo, em meio à falta de disponibilidade de capital de risco na economia, fonte que por muitos anos foi o principal motor para essas empresas.

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A dinâmica de receber capital de risco foi assumida durante vários anos como a melhor estratégia para expandir e capturar a maioria dos mercados-alvo, bem como alcançar uma valorização elevada no caso de a empresa ser parcial ou totalmente adquirida.

Mas 2022 provocou uma mudança de paradigma - ou de volta à realidade - tanto das próprias startups quanto dos fundos de investimento, que ficaram mais rígidos na hora de selecionar os negócios nos quais querem injetar dinheiro.

Nesse contexto, os números do provedor de dados do ecossistema de startups Sling Hub mostram que o número de novos unicórnios na região caiu 53% no ano passado após “os resultados surpreendentes de 2021″.

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A Sling Hub esclarece que considera ex-unicórnios aquelas empresas que passaram por um IPO (oferta pública inicial) ou que foram adquiridas por empresas que estão na bolsa.

Da mesma forma, indica que não classifica as holdings como unicórnios, mas monitora suas empresas emergentes.

Com esses dados, o número de unicórnios na América Latina chega a 45, dos quais 10 foram estabelecidos como tal em 2022.

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Em 2022, as startups que alcançaram esse status na região foram Betterfly (Chile), Neon (Brasil), Dock (Brasil), Technisys (Argentina), Jeeves (México), Nowports (México), Stori (México), Yaydoo ( México), Habi (Colômbia) e Kushki (Equador).

“Com taxas de juros mais altas e níveis de inflação afetando a liquidez, o resultado foram avaliações mais rígidas, processos de due diligence mais longos e difíceis, menos unicórnios e um senso geral de cautela”, explicou o Sling Hub.

O que isso diz sobre a nova realidade?

Consultado pela Bloomberg Línea, o managing partner do fundo de venture capital Newtopia VC, Diego Noriega, disse que no contexto atual faltam ofertas iniciais de ações e grandes rodadas de investimentos em estágio avançado para que surjam novos unicórnios na região.

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“Há também um olhar muito crítico sobre como os Soonicorns - startups que estão perto de ser unicórnios - têm sido financiados ultimamente”, disse Noriega.

“Hoje existem até downrounds conhecidos e públicos no mercado, que também vêm acompanhados da busca por maior eficiência, aquele caminho de rentabilidade que os torna mais confiáveis, menos arriscados e que podem abrir caminho para novos financiamentos”, afirmou.

Para Noriega, este é um ciclo para o qual ainda não há clareza de quando terminará, “mas é preciso ter muito cuidado. Provavelmente é necessário mais tempo entre as rodadas e melhores métricas para poder justificar rodadas multimilionárias como descrito que eles estavam dando”.

“Provavelmente quando o ciclo mudar teremos novamente um número ótimo de unicórnios. Hoje eu acho que é um processo de crescimento interno e do ecossistema também, não só da startup.”

“2023 vai ser um ano duro, difícil, em que o empreendedor terá que tomar decisões complicadas, ajustar orçamentos, fazer muitos sacrifícios, mas esperamos que entre 2024-2025 esse ciclo mude e voltemos a ter muitos unicórnios que continuam a iluminar a região”, acrescentou.

Para um experiente investidor de capital de risco, que falou sob condição de anonimato, 2022 foi o ano em que startups foram alertadas sobre as condições mais difíceis, mas muitas ainda estavam capitalizadas com rodadas do fim de 2021 e do início do ano.

Mas essa nova realidade será enfrentada para valer em 2023, em que muitas empresas novatas não conseguirão mais aportes nem acesso a crédito (ainda que conversível em equity) - e isso vai significar a quebra ou operações de M&A com outras startups mais capitalizadas.

Por sua vez, a cofundadora e managing partner do fundo Cube Ventures, Lina María Cuervo, afirmou à Bloomberg Línea que a América Latina é uma região “que está se desenvolvendo e o número de unicórnios representa justamente esse avanço em relação ao contexto do capital de risco”.

“Devemos ajustar essas lições para que os novos empreendedores que estão em estágios iniciais possam tomar as melhores decisões, ainda mais em momentos de crise e expansão, fundamentais para a construção de empresas resilientes e que gerem impacto positivo na região”, afirmou.

Em todo o caso, convidou a “continuar a apostar em ideias poderosas e a acreditar no empreendedorismo, sendo este um dos principais motores financeiros que impactam positivamente a economia da região”.

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Daniel Salazar Castellanos

Profesional en comunicaciones y periodista con énfasis en economía y finanzas. Becario de EFE en el programa de periodismo de economía de la Universidad Externado, Banco Santander y Universia. Exeditor de Negocios en Revista Dinero y en la Mesa América de la agencia española de noticias EFE.