Bloomberg Opinion — A mudança climática é a questão mais importante desta era, uma crise que afetará cada indústria, cada país e cada vida humana. No entanto as pessoas parecem mais curiosas sobre o que está acontecendo na vida das Kardashians. Isso não é uma crítica, mas um sinal de que os comunicadores do clima podem aprender alguma coisa com uma das famílias mais famosas do mundo.
Como o consultor de comunicação e autor Solitaire Townsend apontou em um tuíte que viralizou, as buscas por “Kardashian” superam o número de buscas por mudanças climáticas desde janeiro de 2007 (quando Kim Kardashian ficou famosa).
As mudanças climáticas só superaram as Kardashians uma vez, em 22 de abril de 2022, também conhecido como Dia da Terra.
O “doodle” do Google – imagem que ilustra a página inicial do buscador – que comemorou o evento destacou a mudança climática com gifs de imagens de satélite mostrando geleiras derretidas, falta de neve, desmatamento e branqueamento de corais. Clicar na ilustração levava o usuário a uma página de resultados de busca para “mudança climática”, o que gerou um aumento no tráfego.
Essa é apenas uma métrica do compromisso climático, e não é a mais científica. Mas é um insulto às pesquisas de opinião pública.
Um estudo de 2021 do Programa Yale de Comunicação sobre Mudança Climática constatou que, embora a maioria dos americanos afirme se preocupar com o aquecimento global, apenas 35% discutem o tema “pelo menos de vez em quando”.
Considerando que a crise é considerada a maior ameaça em média pelos cidadãos das economias avançadas e a alta prevalência da ansiedade climática nas crianças do mundo, seria de se pensar que ela surgiria em conversas com mais frequência.
Mas por que isso não acontece? É uma questão de psicologia humana. Muita da comunicação climática, das manchetes das notícias aos slogans, sugerem muitas desgraças, implicando que estamos trilhando um caminho sem volta.
Essas comunicações tendem a falar em termos bastante científicos ou abstratos: orçamentos de carbono, temperaturas médias globais, a meta de limitar o aquecimento a 1,5°C. Estamos aprendendo que o medo nem sempre é motivador e que as estatísticas nem sempre são persuasivas.
Per Espen Stoknes, psicólogo e ex-político norueguês, resume as defesas psicológicas que os humanos montam contra notícias climáticas assustadoras:
- Acabamos nos distanciando geográfica e temporalmente (as geleiras que derretem no Ártico e o ano de 2100 estão ambos distantes).
- A perene sensação de desgraça nos leva a evitar a questão de forma habitual.
- A dissonância cognitiva entre o que fazemos e o que sabemos nos tenta a justificar nosso próprio comportamento poluente.
- Vivemos em um estado de negação para que possamos continuar com a vida normalmente.
Em outras palavras, o medo está nos paralisando. Quanto mais ouvimos falar do apocalipse climático, mais ficamos entorpecidos.
É aqui que entram as Kardashians. Townsend explica: “Precisamos lembrar que os seres humanos são primatas, não anjos”. Nossos cérebros adoram histórias. Fofocar é literalmente com para nós. É por isso que sempre fomos obcecados pela cultura das celebridades. As Kardashians não são novas, mas o que elas fazem de forma inteligente é capitalizar nosso desejo inato de ouvir sobre outras pessoas.
Se a cobertura climática focasse menos no derretimento de geleiras e nos incêndios e mais nos seres humanos, poderia ser mais envolvente. Existe um motivo para Greta Thunberg ter iniciado o movimento de protesto pelo clima: ela é uma pessoa, não uma estatística.
Melhor ainda é mostrar as pessoas que estão alterando seus comportamentos para serem mais favoráveis ao clima. Estudos científicos constataram que ver a ação convence outros a agir. Por exemplo, a energia limpa é contagiosa: o maior influenciador para você instalar painéis solares é seu vizinho, caso ele também tenha. Os mesmos efeitos de ondulação são observados com veículos elétricos e o surgimento de alimentos à base de plantas.
É claro que também há lugar para manchetes e números assustadores. Não adianta minimizar o tamanho da crise e a velocidade com que devemos enfrentá-la. Mas também seria ótimo se conseguíssemos influenciar, em vez de apenas chocar.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Lara Williams é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre mudanças climáticas.
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