Bloomberg — A nova chefe do Orçamento do Brasil promete contrabalançar as propostas mais heterodoxas do novo governo com suas visões moderadas, à medida que os investidores ficam cada vez mais cautelosos com a direção da maior economia da América Latina.
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse em entrevista que não compartilha de algumas ideias desenvolvimentistas apoiadas por muitos membros da nova equipe econômica. Na prática, ela vai defender que o governo faça “o dever de casa” para permitir que o Banco Central baixe os juros, respeitando integralmente sua autonomia.
Ao mesmo tempo, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tem um longo caminho a percorrer para conquistar a confiança dos investidores na política fiscal, disse ela. “O presidente Lula me escolheu para ser o ponto de equilíbrio da equipe”, afirmou Tebet. “Tenho uma visão diferente da linha de pensamento desenvolvimentista do governo federal.”
A nova ministra tem muito trabalho pela frente, especialmente depois que o presidente surpreendeu ao questionar pilares econômicos, incluindo o Banco Central e a meta de inflação.
Em evento em Brasília na quinta-feira (19), Lula questionou os motivos da desconfiança dos investidores em seu governo. Em entrevista na noite anterior, disse que era “bobagem” pensar que “um presidente do BC independente vai fazer mais do que quando o presidente era quem indicava”.
Essas observações ampliaram os temores do mercado financeiro de que maiores gastos sob Lula prejudicariam anos de trabalho para fortalecer a política fiscal. Além disso, os investidores temem que o aumento dos gastos pressione os preços ao consumidor e, consequentemente, atrase os cortes nos custos dos empréstimos.
Insuficiente
Por outro lado, a ex-senadora, que vem de um partido de centro-direita, adota um tom mais moderado nas principais políticas econômicas. Por exemplo, as intenções do governo de reduzir o déficit orçamentário são um bom sinal, mas ainda insuficientes.
Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou planos para reduzir o déficit orçamentário de 2% para algo entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto neste ano. A estratégia baseia-se principalmente no aumento da receita por meio do fim dos incentivos fiscais e da renegociação de dívidas, em vez de entregar cortes de gastos.
“Com um déficit de 2% não há crescimento duradouro e as taxas de juros não cairão”, disse Tebet. “O programa fiscal para 2023 é uma pequena contribuição inicial, mas é um sinal.”
Como Lula promete aumentar os gastos sociais e o investimento público para impulsionar o crescimento econômico, ele também está ciente de que o governo precisa ser fiscalmente responsável e reduzir a dívida, disse Tebet.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também pediu uma trajetória de dívida crível e sustentável em carta recente, explicando por que a inflação anual ultrapassou o topo de sua faixa de tolerância pelo segundo ano consecutivo e 2022.
Ele alertou que uma reversão da reforma trabalhista e um aumento do crédito público subsidiado poderiam reduzir o poder de seu ciclo de aperto mais recente.
“O programa de governo do presidente Lula tem que caber no orçamento dos próximos quatro anos”, disse Tebet. “Ele sabe que, se isso não acontecesse, estaria cometendo estelionato eleitoral. Ele não fará isso.”
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