Hastings e Ardern expõem a questão: quando é a hora de renunciar à liderança?

Seja por entender que a organização precisa evoluir, por não possuir o apoio necessário ou por mudar prioridades, líderes tomam a decisão de dar uma guinada

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Bloomberg — Para CEOs e outros líderes, a decisão de renunciar pode ser difícil.

A questão do momento certo de abrir mão da liderança voltou novamente à tona neste começo de ano com os anúncios da primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, e do cofundador da Netflix (NFLX), Reed Hastings, de que estão deixando os cargos.

No Brasil, com as devidas e necessárias diferenças, Sergio Rial deixou dois cargos em pouco mais de uma semana, de CEO da Americanas (AMER3), empresa protagonista do maior escândalo corporativo do país em décadas, e ontem de presidente do conselho do Santander Brasil (SANB11).

Muitos executivos foram e são criticados por esperar - a especulação sobre quando o CEO do JPMorgan Chase (JPM), Jamie Dimon, pode se aposentar circula em Wall Street há anos. Outros são criticados por seu planejamento de sucessão - cujo fracasso deixou o Carlyle Group sem CEO desde agosto, depois que os fundadores demitiram o substituto escolhido.

“Existem duas razões pelas quais um líder deve considerar deixar o cargo: quando o líder não é capaz de servir bem as partes interessadas, ou quando a função não está mais alinhada com os próprios objetivos e valores do líder”, disse James Lemoine , professor da University at Buffalo School of Management.

Frequentemente, é difícil para os líderes admitirem que qualquer uma das razões pode ser verdadeira. Muitos se dobram dizendo “posso mudar as coisas” ou “posso conciliar essas prioridades e equilibrar tudo”, disse Lemoine. “É por isso que tantos líderes parecem durar além da data de validade.”

Em vez de ser uma admissão de fracasso, a decisão de desistir de um papel de liderança pode ser vista como uma escolha poderosa, disse Terri Kurtzberg, professor da Rutgers Business School. “Decidir mudar é difícil, e a decisão de deixar um cargo, principalmente no meio de um mandato, pode ser considerada um ato impressionante nesse sentido.”

Se você lidera uma equipe, departamento ou organização inteira, aqui estão algumas aspectos importantes para pensar se estiver pensando em deixar o cargo.

O trabalho ainda é adequado?

Adaptar-se à cultura de uma empresa é uma consideração tão importante para executivos quanto para iniciantes e novas contratações. “Alguns líderes podem prosperar em uma organização diferente daquela em que atuam atualmente”, disse Michael Sacks, professor da Emory University Goizueta Business School.

Os fundadores de startups cujas empresas cresceram rapidamente enfrentam essa questão com frequência. A empresa maior pode exigir alguém no comando com um conjunto totalmente novo de pontos fortes e habilidades para enfrentar novos desafios. Como Hastings disse em seu blog sobre deixar o cargo: “Até os fundadores precisam evoluir!”

“Novas gerações mais antenadas com as novas questões surgem para desafiar o líder, que chegou ao poder em épocas diferentes”, disse Rosabeth Moss Kanter, professora da Harvard Business School.

Você está esgotado?

Para lidar com os fatores de estresse de seus cargos, os líderes eficazes precisam ter apoio suficiente no trabalho em termos de orçamento, equipe e consultores, bem como em suas vidas pessoais, disse Erik Gonzalez-Mulé, professor da Indiana University Kelley School of Business. Ele pesquisa sobre o impacto dos empregos na saúde e no bem-estar.

Ardern citou não ter “o suficiente no tanque” em seu discurso de demissão, mas o motivo para renunciar também pode ser a falta de apoio no escritório.

“Uma vez que as demandas são tão distorcidas que os recursos profissionais e pessoais que você tem disponíveis não são suficientes para lidar com as demandas do trabalho, pode ser a hora de renunciar” e fazer uma pausa para recarregar as energias, disse ele.

Seu trabalho atrapalha outros objetivos?

Algumas pessoas renunciam se o papel de liderança as impede de atingir outras metas. Ardern disse que queria estar presente na vida de sua filha de quatro anos quando ela começasse a frequentar a escola. Outros querem iniciar novos empreendimentos.

“Os líderes podem querer a oportunidade de criar algo novo ou desenvolver outras pessoas”, Amy Colbert, professora da Tippie College of Business da Universidade de Iowa. “Os líderes podem achar que a função é restritiva e decidir buscar novas oportunidades, dentro ou fora do trabalho.”

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