Americanas diz que pode pedir recuperação judicial ‘nas próximas horas’

Com dívida de R$ 40 bilhões e R$ 800 milhões em caixa, empresa varejista informa ao mercado que está trabalhando para buscar proteção contra credores

Americanas divulga fato relevante em que diz que pode pedir recuperação judicial nas próximas horas ou dias
19 de Janeiro, 2023 | 09:25 AM

Bloomberg Línea — A Americanas (AMER3) está mais perto de pedir recuperação judicial devido a uma dívida de R$ 40 bilhões. A empresa varejista informou em comunicado ao mercado na manhã desta quinta-feira (19) que está trabalhando para que o pedido possa ser oficializado à Justiça nos próximos dias ou nas “nas próximas horas”, em caráter de urgência para se proteger de credores.

Em resposta a pedido de esclarecimentos feito pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e à B3, a empresa varejista disse que a posição de caixa disponível para suas atividades alcançou o valor de R$ 800 milhões, muito abaixo dos R$ 8 bilhões citados há uma semana, acrescentando que “parcela significativa desse valor estava injustificadamente indisponível para movimentação pela companhia ontem”.

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O grupo, que informou ao mercado há uma semana ter descoberto um rombo da ordem de R$ 20 bilhões em sua contabilidade, trava uma batalha legal contra bancos credores como BTG Pactual, Bradesco e Goldman Sachs, entre outros, que buscam autorização judicial para tomar medidas para cobrir parte de suas perdas. As ações da Americanas acumulam caíram perto de 90% em uma semana.

Com 1.800 lojas espalhadas pelo país, a companhia mergulhou em crise após o anúncio, que veio acompanhado da renúncia do então novo CEO Sergio Rial.

A companhia não classificava como dívida bancária operações de financiamento que estavam na conta de fornecedores nos balanços dos últimos exercícios, incluindo 2022.

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Veja como desenrola o caso Americanas:

Dia 11/01 - Fato relevante

Às 18h32 da última quarta-feira (11), a companhia postou no RAD (Recebimento Automatizado de Documentos), o sistema da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) um fato relevante comunicando as renúncias do CEO, Sergio Rial, após 9 dias de sua posse, e de André Covre, diretor de relações com investidores, bem como a informação de descoberta de “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões (posição no fim do 3º trimestre de 2022) nos balanços anteriores.

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O problema é encontrado, segundo Rial, no período da gestão de Miguel Gutierrez, que acumulou quase 30 anos na companhia, que tem como acionista de referência a 3G Capital, dos bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, nomes que marcaram mercados de bebidas (Ambev, ABEV3) e alimentos (controladores da operação do Burger King no Brasil, ZAMP3).

Dia 12/01 - Teleconferência do BTG Pactual

No dia seguinte, relatórios de bancos e corretoras projetavam o derretimento do papel no pregão, considerando o tamanho do “rombo” de R$ 20 bilhões, quase o dobro do valor de mercado da varejista (R$ 10,8 bilhões) um dia antes do fato relevante. O papel desabou mais de 77,33%.

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Às 9h, antes do início do pregão, o ex-CEO conversou com investidores em uma teleconferência promovida pelo BTG Pactual, explicando que encontrou durante nove dias como CEO as “falhas contábeis” na conta Fornecedores: operações de financiamento à cadeia de fornecedores não eram classificadas como dívida bancária, com custo financeiro.

A companhia publicou o vídeo da conversa de Rial com os investidores, em que ele explica a razão de sua renúncia: “O tamanho do que tem que ser feito não era necessariamente aquilo que eu queria em um primeiro momento, de ir para a Americanas e enveredar em um projeto muito forte de crescimento”

Dia 13/1 - Reação dos bancos credores e BBB

Bancos credores da Americanas pretendem perdoar a Americanas pelas “inconsistências contábeis” e não planejam acelerar o vencimento de sua dívida por desrespeito a cláusulas restritivas (covenants, gatilho acionado após a devedora estourar limite de endividamento), conforme antecipou reportagem da Bloomberg News.

As ações da Americanas subiram mais de 30%, enquanto operadores ouvidos pela reportagem disseram que o mercado especula sobre os ativos que podem ser vendidos, uma possibilidade citada por Rial na teleconferência do BTG Pactual, e sobre a investigação dos auditores da PwC.

Já a Fitch Rating rebaixou a nota da Americanas, depois de ter colocado o rating em perspectiva negativa em novembro do ano passado, enquanto a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu três processos para apurar o caso, que tem suspeitas de insider trading, maquiagem de balanço e manipulação do mercado.

A companhia também confirmou o cancelamento de um patrocínio milionário à nova edição do BBB (Big Brother Brasil), que começa na próxima segunda-feira (16) na TV Globo. A varejista apostava na maior audiência da televisão brasileira na temporada de férias e verão para aumentar suas vendas.

Americanas vai à Justiça, declara dívidas de R$ 40 bi e se protege de execuções. A Justiça do Rio atendeu a pedido da empresa para suspender a execução de dívidas e dá 30 dias para a companhia decidir se entra com pedido de recuperação judicial

Dia 14/1 - Recuperação judicial

Bloomberg Línea publica que Americanas diz que, sem acordo com credores, vai pedir recuperação judicial. Empresa diz que já começou a receber notificações de vencimento antecipado da dívida. Lemann e sócios propõem injeção de R$ 6 bi na Americanas, segundo fontes

Dia 15/1 - “Maior fraude do mercado”

Bloomberg Línea divulga que o BTG tenta anular na Justiça proteção da Americanas e acusa empresa de má-fé. Banco entra com agravo de instrumento, chama caso de ‘maior fraude do mercado acionário brasileiro’ e diz que empresa tentou resgatar R$ 800 milhões antes de fato relevante

Dia 16/1 - Bancos afetados

BTG, Santander, Bradesco e Itaú são os bancos mais expostos à Americanas, segundo o Citi. A Americanas contrata Rothschild para negociar com credores. A ação da varejista desaba 38% na bolsa em meio à disputa na Justiça com o BTG

Dia 17/1 - Rial fala

Executivo que renunciou a CEO da Americanas depois de nove dias no cargo publica post no LinkedIn em que diz que especulações sobre o caso são leviandades. CEO da B3 diz que papel da Americanas corre risco de exclusão de índices do mercado e que Bolsa colabora com a CVM na apuração do caos.

Dia 18/1 - Batalha jurídica

Bradesco e Goldman Sachs entram na Justiça contra decisão que suspende cobranças da Americanas, após BTG conseguir derrubar proteção da companhia que impedia tomada de R$ 1,2 bilhão.

Dia 19/1 - Pedido de Recuperação judicial

Americanas diz pode pedir recuperação judicial nas próximas horas, admitindo ter só R$ 800 milhões em caixa diante de uma dívida de R$ 40 bilhões

(Atualiza às 9h40 com cronologia do caso)

Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.