P&G, dona de Gillette e Pampers, tem queda nas vendas após reajustes de preços

Gigante do setor de bens de consumo vendeu volume menor do que o esperado no último trimestre; preços mais altos ajudaram a compensar parte do resultado mais fraco

Inflação reduziu os gastos do consumidor, e vendas da marca caíram
Por Daniela Sirtori-Cortina
19 de Janeiro, 2023 | 04:43 PM

Bloomberg — A Procter & Gamble (P&G), empresa de bens de consumo de higiene, limpeza e cuidados pessoais, vendeu um volume menor de produtos do que o esperado no último trimestre, em um momento em que os consumidores ficaram mais cautelosos com os preços mais altos. A empresa é dona de marcas como Gillette, Oral-B, Pantene, Always, Pampers, Ariel, entre outras.

O volume total de mercadorias vendidas globalmente caiu 6% nos três meses encerrados em dezembro, pior do que a queda de 2,6% estimada pelos analistas.

O diretor financeiro Andre Schulten disse em uma entrevista que os consumidores estão acabando com os produtos em suas despensas antes de reabastecê-las e estão sendo mais comedidos no uso de itens como toalhas de papel.

Efeito da inflação

A inflação reduziu os gastos do consumidor, pondo fim à alta das vendas de produtos para casa durante a pandemia que beneficiou a fabricante das fraldas Pampers havia experimentado.

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O volume caiu em todas as categorias, disse a P&G nesta quinta-feira (19), citando uma “contração do mercado” para a maioria, de acordo com um comunicado divulgado na quinta-feira. Mesmo assim, a reação dos compradores aos aumentos de preços é “muito mais benigna do que esperávamos”, disse Schulten.

A P&G é uma das muitas empresas que repassaram os custos mais altos aos consumidores, com os preços subindo cerca de 10% apenas no último trimestre. Isso impulsionou as vendas orgânicas em 5%, mesmo com a empresa vendendo menos itens.

A métrica, que exclui fatores como flutuações cambiais, superou as expectativas dos analistas, mas ainda foi a taxa de expansão mais lenta em mais de um ano.

As ações da P&G caíram 1,7% no pregão de Nova York às 11h36 no horário de Brasília. As ações estavam em alta recente, subindo cerca de 18% desde as mínimas de outubro até o fechamento de quarta-feira (18).

Os investidores estão observando de perto os gastos do consumidor em meio a sinais de uma retração econômica global.

As vendas no varejo dos Estados Unidos caíram em dezembro a maior queda em um ano, somando-se à queda do mês anterior, de acordo com dados do Departamento de Comércio divulgados na quarta-feira.

A produção industrial também caiu, exacerbando as preocupações de que uma recessão está se aproximando.

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Em uma declaração anunciando os resultados, o CEO Jon Moeller reconheceu o “custo e o ambiente operacional muito difíceis”, acrescentando que as ações da P&G ajudaram a manter o crescimento apesar dos desafios.

A empresa está adotando uma abordagem diferente da adotada durante a recessão de 2008. Ela agora oferece uma gama mais ampla de faixas de preço para seus produtos, permitindo-lhe reter os consumidores mesmo que eles precisem mudar de sabão em pó ou xampu de alta qualidade para um produto mais barato.

A P&G costuma dizer que a eficácia de seus produtos manterá os compradores comprando mesmo em uma crise econômica.

Desaceleração global

A empresa sediada em Cincinnati está “animada” com os resultados trimestrais, em parte porque seu maior mercado, os Estados Unidos, continua resiliente, disse Schulten em teleconferência com repórteres.

A gigante dos bens de consumo agora vê um crescimento orgânico das vendas entre 4% e 5% no ano fiscal que termina em junho. Isso restringe a projeção à metade mais otimista de sua previsão anterior, divulgada em outubro.

Além disso, a empresa reduziu o impacto antecipado das flutuações cambiais, bem como os custos mais altos de mercadorias e frete para o ano inteiro. Ela agora prevê um impacto de US$ 3,7 bilhões, abaixo dos US$ 3,9 bilhões, em parte graças a um dólar mais fraco.

Ainda assim, a P&G manteve sua perspectiva de lucro por ação na faixa de US$ 5,81 a US$ 6,04 para o atual ano fiscal.

O dólar caiu nas últimas semanas em relação aos níveis de pico, oferecendo algum alívio para as empresas americanas que operam no exterior.

“Embora melhore ligeiramente, parece que os ventos contrários de custo e câmbio continuam a impactar negativamente os resultados”, disse Bill Chappell, analista da Truist Securities, em nota aos clientes. “No curto prazo, acreditamos que deixar o guia de resultado inalterado é prudente devido ao ambiente dinâmico, especialmente internacionalmente (Europa e China), mas sentimos um pouco de conservadorismo” para a segunda metade do ano fiscal.

Os negócios da P&G na China — o segundo maior mercado da empresa — caíram 7% no último trimestre, quando varejistas sem dinheiro reduziram seus estoques em meio às restrições da covid-19, disse Schulten. Enquanto isso, a Europa mostrou uma “reação maior e mais pronunciada” aos preços elevados do que os EUA, disse Schulten.

--Com a ajuda de Chester Dawson e Karen Lin

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