Méliuz demite 6% da equipe menos de um mês após acordo de venda para o BV

Plataforma de serviços financeiros abriu a onda de startups na bolsa brasileira em 2020 e acumula prejuízos; empresa diz que cortes não têm relação com negócio com o banco

IPO na B3 em novembro de 2020: empresa do setor de tecnologia demitiu 6% da equipe
18 de Janeiro, 2023 | 06:07 PM

Bloomberg Línea — Menos de um mês depois de fechar um acordo que abre caminho para a venda do controle para o BV (ex-Banco Votorantim), o Méliuz (CASH3), anunciou nesta quarta-feira (18) o desligamento de 59 colaboradores, cerca de 6% do quadro de funcionários.

Segundo a empresa, a revisão do quadro faz parte de um processo de “reestruturação interna da companhia” e que pretende aumentar a eficiência operacional e se adaptar ao cenário macroeconômico.

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“Apesar de o Méliuz estar em uma posição confortável por possuir um caixa robusto, foi necessário ajustar os planos, assim como muitas empresas de tecnologia fizeram, para nos adaptarmos ao cenário macroeconômico desafiador e incerto que se instaurou após a pandemia”, disse Israel Salmen, CEO e fundador do Méliuz, em comunicado à imprensa.

“Diante da alta taxa de juros, inflação alta e, consequentemente, um e-commerce menos aquecido, é preciso garantir a saúde financeira da companhia para que a operação continue saudável, rentável e em crescimento”, completou.

Acordo com o BV

O anúncio das demissões ocorre após o Méliuz anunciar em 30 de dezembro um acordo para a venda de cerca de 3,85% do capital em poder dos acionistas controladores Israel Salmen, André Amaral e Lucas Marques para o fundo de corporate venture capital (CVC) do BV, ao preço de R$ 1,50 por ação, o que embute um prêmio de 27% sobre o preço de fechamento daquele dia. Isso implica um valor de cerca de R$ 50 milhões.

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O acordo também prevê que o BV terá a opção de compra da totalidade das ações em poder de Salmen, Amaral, Marques, além das que pertencem hoje a Guimarães e sua Org Investments e a Davi Rocha, em um prazo de até 24 meses.

É justamente o bloco de controle, que tem Guimarães, por meio da Org Investments, com 5,1% do capital, Marques, com 2,0%, e Amaral, com 0,6%, totalizando 23,9% das ações, segundo o site da empresa. O restante está em circulação no mercado (free float).

Em comunicado à imprensa, a plataforma de serviços financeiros disse que os desligamentos estão sendo “cogitados e estudados há mais tempo e não têm qualquer relação com a recente aliança entre a companhia e o banco BV”.

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Segundo a empresa, as mudanças impactaram “quase todas as áreas” e vão ajudar a manter a sustentabilidade da companhia. O valor de mercado do Méliuz na bolsa brasileira é de R$ 925 milhões.

Queda após abertura de capital

Em novembro de 2020, o Méliuz abriu o capital na B3, em IPO que movimentou R$ 367 milhões, com o preço da ação a R$ 10 (seria o equivalente a R$ 1,66 considerando um desdobramento de 1 ação para 6 realizado em setembro de 2021).

Em julho de 2021, a ação chegou a ser negociada a R$ 71,40 (R$ 11,90 com o desdobramento), mas a virada das condições de mercado e a desaceleração do segmento de e-commerce, junto com taxas de juros mais altas da economia, evidenciaram as dificuldades do modelo de negócios do Méliuz: a empresa passou a acumular trimestres com Ebitda (geração de caixa operacional) e margens negativas e prejuízos.

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A ação encerrou 2022 negociada a R$ 1,18, com queda de 90% em relação ao pico em julho de 2021 e de 64% neste ano. Em relação ao IPO, a desvalorização, se comparável, seria de 29%.

-- Colaborou Marcelo Sakate

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups