Em Davos, bancos e reguladores encontram ponto em comum sobre criptoativos

Ministro de Singapura iniciou conversa sobre ativos digitais comentando que reguladores “desviaram os olhos da bola com relação ao setor não-bancário”

Kelleher foi otimista sobre a tecnologia subjacente do blockchain em Davos
Por Stacy-Marie Ishmael
18 de Janeiro, 2023 | 04:28 PM

Bloomberg — Reguladores e banqueiros podem nem sempre concordam, mas encontraram um terreno comum em Davos sobre criptoativos e a regulamentação da indústria de ativos digitais.

Falando em um painel sobre os desafios enfrentados pelos bancos, o ministro de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, e o membro do Conselho de Administração do Banco Central Europeu (BCE), François Villeroy de Galhau, enfatizaram a necessidade de regulamentação cripto, um sentimento ecoado pelo presidente do UBS, Colm Kelleher.

Kelleher iniciou a conversa sobre ativos digitais comentando que os reguladores “desviaram os olhos da bola com relação ao setor não bancário”.

“O maior desafio hoje não são os bancos”, respondeu Villeroy, citando episódios recentes de instabilidade financeira, incluindo o desempenho de fundos do mercado monetário, fundos de pensão do Reino Unido atingidos por investimentos movidos a passivos e o colapso do FTX de Sam Bankman-Fried.

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“Todos eles têm uma característica comum — não estão vinculados a bancos. E aqui, ficamos para trás. É mais difícil, porque é um cenário em evolução”, disse ele. “Devemos nos apressar para alguma regulamentação não-bancária urgente. Começando com criptos.”

Para Tharman, de Singapura, “algumas coisas são muito claras: seja no mundo cripto ou no das finanças tradicionais, você precisa regulamentar certas questões, como a lavagem de dinheiro”. Mas ele sugeriu que regulamentar os criptoativos por meio de lentes bancárias arriscaria legitimar uma classe de ativos que ele descreveu como “inerentemente especulativa” e “ligeiramente maluca”, um comentário recebido com risos pela multidão reunida em Davos.

Singapura, que emergiu como um popular centro cripto depois que a China reprimiu o setor em 2021, viu uma série de empresas com sede no país acabarem em dificuldades — do fundo de hedge Three Arrows Capital aos credores de ativos digitais Vauld e Hodlnaut. Isso diminuiu o apetite das autoridades pela classe de ativos, e os reguladores estão restringindo o acesso dos investidores de varejo ao comércio de criptomoedas.

Blockchain ‘imparável’

Kelleher repetiu um refrão que se tornou comum entre executivos de instituições financeiras tradicionais e empresas de criptomoedas. “Estamos procurando uma estrutura regulatória que nos permita acomodar isso para nossos clientes”, disse ele, referindo-se ao desejo de alguns clientes do UBS de investir em tokens digitais.

Kelleher foi otimista sobre a tecnologia subjacente do blockchain, descrevendo-a como “imparável” enquanto soava uma nota de cautela sobre a dificuldade atual de garantir a conformidade com as leis e políticas sobre os requisitos de conhecimento do cliente e as disposições anti-lavagem de dinheiro.

A CEO do Citigroup (C), Jane Fraser, disse ser importante parar de debater a cripto como “nova e brilhante, embora talvez menos nova e menos brilhante” e, em vez disso, voltar-se para considerações mais urgentes.

“Vamos nos concentrar nas questões que realmente importam para o mundo agora”, disse ela. “Como enfrentamos as tempestades que enfrentamos no momento?”

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