Bloomberg Opinion — Quando se trata do mercado de luxo, os nepo babies – filhos de grandes nomes do setor – não são tão maus assim.
Jovens, ricos e rodeados de itens caros, eles têm as características a que os compradores de luxo aspiram. Desde que sejam qualificados para o trabalho, ficar com essa prole do luxo é justificável.
Na quarta-feira (11), Bernard Arnault, fundador, presidente e CEO da LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton SE, anunciou uma reorganização do maior grupo de luxo do mundo, nomeando sua filha Delphine para dirigir a Dior, sua segunda maior marca.
Todos os filhos de Arnault têm cargos dentro do grupo, e os dois mais velhos, Delphine e Antoine, que estão no conselho, estão abrindo caminho para uma eventual sucessão para a próxima geração. O patriarca está fincando suas garras no poder de outras formas também. No ano passado, ele reestruturou a Agache, empresa familiar e acionista controladora da LVMH, e a transformou em uma sociedade, com seu capital social detido igualmente entre seus cinco filhos. A Agache detém 48% do capital da LVMH e 63% de seus direitos de voto.
Em muitos outros grupos, esse comportamento geraria um protesto entre os acionistas minoritários. Mesmo assim, a combinação da LVMH entre liderança familiar e disciplina digna de mercado de capitais está funcionando. Mas os investidores devem ficar atentos a possíveis armadilhas.
Não há discussões com o desempenho da LVMH. As ações atingiram um recorde na quinta-feira (12), ajudando o valor de mercado da empresa a dobrar de cerca de 200 bilhões de euros para quase 400 bilhões de euros nos últimos três anos. Isso fez com que Arnault ultrapassasse Elon Musk como pessoa mais rica do mundo. E também proporcionou um ótimo desempenho no retorno total da LVMH de 77% em comparação com o índice Stoxx 600 no mesmo período.
Como uma empresa controlada pela família, a LVMH é administrada com foco no longo prazo. Isso fica evidente com o outro anúncio na quarta-feira: o novo líder da Louis Vuitton, marca mais importante do grupo.
O CEO de longa data da Louis Vuitton, Michael Burke, terá um novo cargo e responderá diretamente a Arnault. Pietro Beccari, que impulsionou a Dior desde 2018, será o sucessor de Burke. A Dior, mais conhecida por suas bolsas, triplicou as vendas, atingindo 6,6 bilhões de euros, e mais do que dobrou a margem operacional, chegando a 38% sob o domínio da Beccari, segundo estimativas de analistas do Citigroup (C).
Na Louis Vuitton, a tarefa mais urgente agora é nomear um novo diretor criativo de roupas masculinas para suceder o falecido Virgil Abloh. A hospitalidade é outra oportunidade, após a aquisição de US$ 2,6 bilhões da Belmond há quatro anos. A empresa está planejando a abertura do primeiro hotel Louis Vuitton em Paris.
Manter o capital aberto traz disciplina e acesso ao mercado de capitais. Espera-se que a LVMH tenha caixa líquido no próximo ano, de acordo com o consenso Bloomberg das estimativas dos analistas. Mas poder explorar os acionistas seria útil se uma grande aquisição como a Chanel, que poderia valer cerca de 150 bilhões de euros, ficasse disponível.
Mas há riscos à frente para a LVMH.
O primeiro é a sucessão. A questão está um pouco longe agora, visto que a LVMH elevou o limite de idade de seu CEO no ano passado, permitindo que Arnault, com seus 73 anos, fique no cargo até os 80. Contudo, por fim, ele terá que escolher entre nomear um de seus filhos para o cargo ou dividir as responsabilidades entre os cinco filhos.
Se Arnault escolhesse um dos filhos mais novos, Alexandre, 30 anos, que tem um cargo sênior na Tiffany, ou Frederic, de 28 anos, que dirige a relojoeira Tag Heuer, então ele poderia emular a Prada e nomear uma pessoa de fora da família como CEO interino até que um deles possa assumir o cargo. A LVMH também tem um quadro de altos executivos, como Burke, Beccari (se ele se sair bem na Louis Vuitton), e o diretor-gerente do grupo Antonio Belloni, que seria uma aposta segura.
Seja qual for a estrutura escolhida, o processo deve ser conduzido com cuidado: dividir as responsabilidades do CEO abre a possibilidade de conflito entre os irmãos.
Dado que a LVMH está cada vez mais em uma liga própria, outro perigo é a complacência. O cenário também parece mais desafiador. Os investidores estão apostando em um retorno dos gastos dos consumidores chineses agora que podem viajar, mas os próximos meses serão voláteis. Enquanto isso, o mercado de luxo dos EUA está desacelerando.
E a LVMH está no ramo da moda, afinal de contas. Não só é um setor notoriamente inconstante, mas o desejo de estar sempre na vanguarda pode gerar uma gafe que pode acabar alienando os consumidores.
Esses riscos parecem distantes, mas o conselho, que inclui alguns pesos pesados corporativos da França, deve estar atento para detectar problemas e levantá-los junto à família. Também ajudaria fortalecer a governança corporativa com mais pessoas de fora da família. Há três anos, a Kering nomeou Tidjane Thiam, ex-CEO do Credit Suisse (CS), e a atriz Emma Watson para seu conselho, embora haja dúvidas sobre os benefícios da decisão, já que a proprietária da Gucci e Balenciaga vem passando por um período difícil.
Até o momento, os acionistas da LVMH puderam curtir um desempenho notável. Mas à medida que o cenário paisagem de luxo escurece, eles devem ser menos passivos e usar sua bagagem com estampa da Louis Vuitton.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.
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