China cresce mais que o esperado após fim de covid Zero e dá alívio a mercado

Mesmo com crescimento anual mais fraco na comparação histórica, de 3%, dados do quarto trimestre e de dezembro surpreenderam analistas

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Bloomberg — A economia da China provou ser mais resiliente do que o previsto por analistas após uma nova onda de coronavírus assolar o país, sugerindo que o pior pode ter ficado para trás.

Embora o crescimento de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado tenha representado o segundo pior desempenho desde os anos 1970, os dados do quarto trimestre e de dezembro foram melhores que o esperado.

Os economistas acreditam em uma recuperação nos próximos meses, assim que a atual onda de covid passar, projetando um crescimento próximo de 5% em 2023. Mas essa recuperação não será direta: a confiança do consumidor continua a bater recordes de baixa, a população começou a diminuir pela primeira vez em seis décadas e o mercado de imóveis segue em baixa.

“A perspectiva para o crescimento do PIB em 2023 melhorou em comparação com a perspectiva anterior”, disse Iris Pang, economista-chefe da ING Group, que estima que a economia da China vai crescer 5% em 2023. “Isso sem ignorar o fato de que a China ainda passa por ventos consideravelmente desfavoráveis, incluindo a demanda externa, além das recessões prováveis nos EUA e na Europa neste ano”.

O indicador de ações onshore CSI 300 encerrou o dia com pouca variação, apagando quedas de 0,5% e fechando perto da estabilidade. O Hang Seng de Hong Kong ampliou sua queda, chegando a 1,5%.

O crescimento do PIB foi muito mais baixo do que os 8,4% registrados em 2021, quando os rigorosos controles contra covid mantinham o país protegido do vírus.

Mas a leitura foi mais alta que a estimativa média de 2,7% de uma pesquisa da Bloomberg com economistas, pois o crescimento no quarto trimestre chegou a 2,9%, superando as projeções de 1,6%.

O governo havia estabelecido inicialmente uma meta de crescimento de cerca de 5,5% em 2022, antes que os lockdowns e o abandono repentino das restrições em dezembro afastassem esse objetivo. A atividade foi branda em dezembro, mas mesmo assim superou as projeções decepcionantes dos economistas.

  • A produção industrial aumentou 1,3% em comparação ao mesmo período do ano passado, mais que a projeção de 0,1%;
  • As vendas no varejo apresentaram redução de 1,8% em comparação a uma projeção de 9% de queda;
  • Os investimentos em ativos fixos aumentaram 5,1% no ano passado, em grande parte dentro das projeções;
  • A taxa de desemprego nas cidades caiu para 5,5% no mês passado, em comparação com 5,7% em novembro.

Os órgãos reguladores sinalizaram que vão priorizar o crescimento econômico em 2023, com foco em aumentar o consumo e o investimento no país. Mais estímulos fiscais e monetários podem ser anunciados, enquanto o governo também toma medidas para facilitar a revisão regulatória do setor de tecnologia e reverter algumas das restrições no mercado imobiliário.

O que dizem os economistas da Bloomberg

O PIB do quarto trimestre da China deve ser analisado com preocupação e um pouco de alívio. Superar as expectativas aliviará as preocupações com um crash. Os dados ainda eram bem fracos – não dá para esconder o fato de que a economia sofreu com o fim conturbado da [política de] Covid Zero e com os surtos que assolaram o país em dezembro. Mesmo assim, os indicadores de alta frequência sugerem que a economia pode ter chegado ao ponto mais baixo. Acreditamos que haverá uma recuperação sólida no segundo trimestre de 2023.

— Chang Shu e Eric Zhu

A avalanche de dados desta terça-feira (17) também destacou os desafios de prazos mais longos, como a contração da população em 2022 pela primeira vez desde 1961. Isso deve repercutir no mercado de trabalho, na demanda por moradia e no sistema de pensões do país nos próximos anos.

“A China não pode depender do dividendo demográfico como motor estrutural do crescimento econômico”, disse Zhiwei Zhang, presidente e economista-chefe da Pinpoint Asset Management. “No futuro, a demografia será um vento favorável. O crescimento econômico terá de depender mais do crescimento da produtividade”.

Além das mudanças domésticas, a China sempre enfrenta riscos de uma economia global em desaceleração. A demanda por produtos fabricados na China despencou nos últimos meses, erodindo um pilar fundamental do crescimento.

A NBS disse que a fundação da recuperação “ainda não está sólida”, destacando um ambiente internacional que continua “complexo e severo”.

Quase todas as províncias da China estão visando um crescimento econômico de 5% ou mais em 2023. As autoridades estão debatendo um crescimento econômico nacional de cerca de 5%, segundo divulgado pela Bloomberg News no mês passado.

Mas os dados de vendas no varejo melhores que o esperado no mês passado foram parcialmente devido ao forte crescimento de compras de carros, já que os consumidores aproveitaram os subsídios antes que acabassem, e um salto de quase 40% no gasto com remédios.

As vendas de restaurantes apresentaram queda, contraindo 14,1% em dezembro em comparação ao mesmo período do ano passado, pois o vírus “trancou” as pessoas em casa.

Dados em xeque

Alguns analistas expressaram ceticismo quanto aos dados, que continham algumas discrepâncias notáveis. A maioria dos principais setores caiu em dezembro, mas os números gerais da produção industrial aumentaram para o mês. A produção de carros caiu 16,7%, mas as vendas aumentaram 4,6%.

Durante todo o ano de 2022, a produção de cimento caiu apenas 10,8%, mesmo com uma queda de 28,3% nas vendas de moradias.

“O mercado não vai ligar muito para os dados do quarto trimestre”, disse Ding Shuang, economista-chefe da Standard Chartered Plc para a Grande China e o Norte da Ásia. “Mesmo que fossem muito fracos, o mercado iria além e ficaria mais preocupado com a perspectiva.”

- Com a colaboração de James Mayger, Malcolm Scott, Fran Wang, Ishika Mookerjee, Chester Yung e Jing Li.

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