BNDES estuda programa de financiamento a exportações, diz Alckmin

Em reunião com direção da Fiesp, vice-presidente disse que China vem ganhando espaço que era do Brasil porque financia importadores na América Latina

Financiamento a exportações é um dos três principais do BNDES, junto de economia verde e inovação
16 de Janeiro, 2023 | 02:42 PM

Bloomberg Línea — O vice-presidente Geraldo Alckmin disse nesta segunda-feira (18) que está discutindo um programa de financiamento a importadores estrangeiros pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para beneficiar exportações brasileiras. Alckmin também é ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a quem está submetido o BNDES.

Ele não deu detalhes, mas disse que o financiamento a exportações é um dos três principais focos do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, junto de economia verde e inovação. Segundo Alckmin, o crescimento econômico do Brasil passa pela retomada das exportações de valor agregado.

“É importante ter um programa para ajudar a exportação, porque estamos falando de emprego aqui dentro do país. O comércio exterior cada vez mais relevante”, disse Alckmin.

Em reunião com a diretoria da Fiesp, Alckmin disse que o Brasil perdeu espaço para a China no mercado internacional ao longo dos anos. “E por quê? Porque a China financia o importador argentino”, disse. “A Argentina é o terceiro parceiro comercial do Brasil e é para onde vendemos mais produtos manufaturados. Por que reduziu [as vendas] de US$ 28 bilhões para US$ 15 bilhões? Uma das razões é o financiamento a exportadores.”

PUBLICIDADE

O vice-presidente disse ainda que vai reativar a Comissão Bipartite Brasil-Argentina e voltar a investir em acordos internacionais.

É outra área em que, para ele, o Brasil perdeu espaço. “À media que não avançamos, outros avançam”, disse, citando o acordo comercial assinado pelo Chile com a União Europeia.

Terceira reforma

Antes de passar a palavra a Alckmin, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, disse que o setor produtivo não aceitaria “retrocessos na área trabalhista”.

Em reunião com diretores da Fiesp, vice-presidente Geraldo Alckmin garantiu que governo não tentará revogar as reformas trabalhista e previdenciária

Alckmin então garantiu que o governo não vai tentar revogar as reformas trabalhista e previdenciária. “Pode haver ajustes, pode aperfeiçoar”, disse. Entre os aperfeiçoamentos, Alckmin voltou a falar nos entregadores de aplicativos, que, segundo ele, trabalham sem nenhuma proteção social. Mas disse que “não tem nada definido”.

A desconfiança do presidente da Fiesp tem motivo. Em seu discurso de posse, Lula disse que iria trabalhar por uma “nova legislação trabalhista”. E o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também já disse que a reforma trabalhista não seria revogada, mas que o governo iria “mexer nela”. “É preciso compreender que hoje tem trabalhadores que nem desejam o formato anterior, da CLT, mas que necessitam de proteção social e previdenciária”, declarou, no dia que tomou posse do cargo.

O vice-presidente Alckmin disse nesta quinta que o próximo foco será a reforma tributária, que chamou de “terceira reforma”.

Segundo ele, o governo pretendia revogar o desconto de 35% no IPI concedido pelo governo Bolsonaro em 2022 durante os esforços para reduzir a inflação, mas desistiu. “Queria destacar a sensibilidade do ministro Haddad de não incluir a volta do IPI [no pacote de recuperação fiscal]”, disse Alckmin, citando a “tentação” de retomar o valo cheio do imposto. “É óbvio que quando há um déficit fiscal, você vai tentar zerar.”

PUBLICIDADE

“A próxima meta é acabar com o IPI”, avisou. Ele se referiu às duas propostas de emenda à Constituição que pretendem mudar a tributação incidente sobre o consumo.

Há duas PECs em trâmite no Congresso. A PEC 45 substitui o IPI, o ICMS, o ISS, o PIS e a Cofins por um único imposto sobre valor agregado em que cada estado e município definiria suas alíquotas. Já a PEC 110 mexe com os mesmos tributos, mas também extingue o IOF e a Cide.

O governo deve focar os esforços na PEC 45, que está na Câmara. O secretário especial de reforma tributária da Fazenda, Bernard Appy, é um dos autores da PEC, por meio do think tank Centro de Cidadania Fiscal (CCiF).

“Tudo o que é PEC, que altera a Constituição, três quintos em duas votações, tem que ser rápido. Tem que fazer no primeiro ano, aproveitar a legitimidade do processo eleitoral”, disse Alckmin.

Leia também

Governo busca reduzir déficit primário para até 1% do PIB com novas medidas

Eurasia: Lula terá espaço de manobra limitado no primeiro ano do mandato

Pedro Canário

Repórter de Política da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero em 2009, tem ampla experiência com temas ligados a Direito e Justiça. Foi repórter, editor, correspondente em Brasília e chefe de redação do site Consultor Jurídico (ConJur) e repórter de Supremo Tribunal Federal do site O Antagonista.