Bloomberg — Depois de um 2022 de ganhos para os fundos multimercados que conseguiram surfar o cenário de aumento dos juros no mundo, os gestores que mais ganharam no ano passado começaram 2023 com nível de risco reduzido e poucas convicções.
No Brasil, em meio ao risco fiscal e a temores renovados de instabilidade política, reforçados após o ataque aos três Poderes em Brasília no último dia 8, os fundos têm evitado grandes posições.
Oportunidades claras como apostar na alta dos juros nos Estados Unidos – que renderam aos multimercados o melhor retorno em seis anos em 2022 – têm diminuído. A persistência da inflação global e a velocidade da resposta da atividade econômica aos juros mais elevados são os principais temas para o novo ano, de acordo com diversos investidores.
“Estamos conservadores na utilização de risco neste momento”, disse André Laport, ex-sócio do Goldman Sachs (GS) e um dos fundadores da Vinland Capital, cujo fundo Vinland Macro Plus superou 98% dos pares em 2022. “Aos preços de hoje, o cenário de médio prazo da Vinland parece estar bem precificado, bem como os riscos que podem se materializar no horizonte.”
O fundo Mar Absoluto, administrado pela Mar Asset Management e terceiro melhor multimercado entre 189 pares monitorados pela Bloomberg News no ano passado, tem mantido uma alocação em ações bem abaixo da sua exposição média. “Parece que teremos pouco conforto em ter riscos relevantes no portfólio nos próximos trimestres”, disse o fundo em carta aos cotistas.
Short em bolsa americana
O fundo ASA Hedge, que superou todos os seus pares em 2022, tem uma posição vendida em bolsa norte-americana como sua principal posição neste momento, enquanto praticamente não carrega exposição em Brasil.
“A expansão de múltiplos que vivenciamos nos últimos meses de 2022 não faz sentido para uma economia que ainda vai e precisa desacelerar, impactando os lucros projetados, e sem um ciclo de queda de juros em vista por causa da inflação pressionada”, disse Filippe Santa Fé, gestor do ASA Hedge.
O XP Macro Plus, fundo multimercado macro que montou uma posição tomada (que ganha com a alta das taxas) em juros nos EUA há cerca de dois anos, também está apostando em quedas adicionais das ações, mesmo após o índice S&P 500 ter apresentado sua maior queda anual desde 2008, com recuo de 19%.
O risco de recessão nos EUA deve pressionar os lucros esperados, segundo Júlio Fernandes, co-gestor dos fundos multimercado macro da XP Asset Management.
Juros no Brasil
A Mar Asset Management possui uma posição tomada em juros nominais longos no Brasil. O impulso fiscal do novo governo e uma atividade econômica forte em 2023 devem dificultar o trabalho do Banco Central de cortar juros, segundo o sócio fundador Bruno Coutinho.
Enquanto os economistas ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, esperam que o PIB do país cresça menos de 1% no ano que vem, a Mar tem uma visão mais construtiva para o crescimento econômico, dado que o aumento de rendimento e massa salarial real devem impulsionar o consumo das famílias, segundo Coutinho.
Petróleo
O Norte Long Bias, multimercado com foco em ações que emergiu como o fundo de melhor desempenho durante a campanha eleitoral, está com uma visão construtiva para os preços de petróleo diante da expectativa de que a oferta global permanecerá apertada.
O fundo tem posição comprada em ações de PetroRio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3)– que têm expandindo sua produção – e está vendido em Petrobras em meio ao risco político elevado, segundo Rafael Furlan, gestor da Norte Asset Management.
A Legacy Capital, cujo principal fundo subiu 24% em 2022, está comprada em petróleo em meio ao otimismo com a reabertura econômica na China.
Ainda há “um ‘mismatch’ entre oferta e demanda”, com capacidade de produção marginal dos produtores muito limitada em um momento em que o mundo está reabrindo, disse Felipe Guerra, sócio fundador da Legacy, em teleconferência com clientes. “Podemos conviver com ambiente de bolsas em queda e petróleo para cima.”
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