Bloomberg Opinion — É a batalha que vai definir o mercado petrolífero dos Estados Unidos nesta década. De um lado, a combinação do aumento das vendas de veículos elétricos, carros convencionais mais eficientes e o impacto do trabalho remoto reduzindo a demanda por gasolina; do outro, a popularidade cada vez maior dos plásticos combinada com uma população crescente está aumentando o consumo de petroquímicos.
Em resumo, dá para chamar de “Tesla contra a indústria do plástico”.
Se a Tesla (TSLA) e suas rivais montadoras de veículos elétricos vencerem a batalha, a demanda pelo petróleo atingirá o pico em breve, ajudando a atingir as metas globais de mudança climática através da redução do consumo de combustíveis fósseis. Contudo, por enquanto, o plástico tem a vantagem, mantendo o crescimento da demanda geral por petróleo.
A Energy Information Administration (EIA), o braço de estatísticas do Departamento de Energia dos EUA, divulgou sua primeira projeção nesta semana para o mercado petrolífero de 2024. É uma análise hesitante, mas fornece pistas iniciais sobre sua direção. Todo mês de janeiro, a EIA é o primeiro dos três principais órgãos públicos a publicar suas perspectivas para o próximo ano. A Agência Internacional de Energia divulgará sua visão em junho, e a OPEP fará o acompanhamento um mês depois.
A análise da EIA mostra que a demanda por petróleo dos EUA aumentará no próximo ano, chegando a 20,63 milhões de barris por dia, superando o pico mais recente, estabelecido em 2018 e 2019, e ligeiramente dentro de um ritmo do recorde histórico estabelecido entre 2004 e 2007, quando a demanda média era de 20,7-20,8 milhões de barris por dia pouco antes do início da crise financeira global.
Surpreendentemente, a demanda americana por petróleo subirá para níveis quase recorde em 2024, apesar de uma queda significativa no uso de gasolina, que no passado foi o principal motor do consumo de petróleo nos EUA. É um indicativo de que as vendas de veículos elétricos precisariam aumentar significativamente antes de forçar a queda da demanda geral de petróleo.
A EIA estima que até 2024, a demanda por gasolina nos EUA cairá para 8,73 milhões de barris por dia, ou cerca de 600 mil barris por dia menos que o índice de 2018. Isso é igual ao consumo total de petróleo de um país da Europa de médio porte como a Bélgica. Tudo indica que o auge da demanda de gasolina nos EUA ficou para trás. Mas a queda seria mais que compensada pelo consumo crescente da matéria-prima utilizada na indústria petroquímica para produzir plásticos, que atingirá um recorde de cerca de 4 milhões de barris por dia em 2024, mais de 700 mil barris em comparação com 2018.
As tendências dos EUA se espelham em outras partes do mundo, com o consumo de plástico subindo em mercados emergentes como Índia e China. A EIA prevê que a demanda mundial de petróleo atingirá um recorde histórico de 102,2 milhões de barris por dia em 2024, 1,7 milhões de barris por dia a mais em comparação com 2023 e acima do pico pré-covid estabelecido em 2019 de 100,8 milhões de barris por dia. Ao projetar outro ano de forte crescimento do consumo, a EIA está adiando ainda mais o pico da demanda de petróleo.
Se o pico na demanda de petróleo estiver próximo, ele não está aparecendo em nenhum dado contemporâneo ou projeção de curto prazo confiável. Apenas modelos de longo prazo – não previsões – apontam para um pico dentro dos próximos anos. Todo o resto mostra um consumo constante. A previsão da EIA para 2024 é um caso em questão: não apenas a demanda global de petróleo está caminhando para outro recorde, como a taxa de crescimento também não é moderada.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Javier Blas é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre energia e commodities. Foi editor de commodities do Financial Times e é coautor de “The World for Sale: Money, Power, and the Traders Who Barter the Earth’s Resources”.
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