Bloomberg — A ameaça de recessão, a crise do custo de vida e a crescente angústia pela dívida irão dominar a economia global nos próximos dois anos, enquanto ela tenta sair da pandemia e da guerra na Ucrânia, de acordo com uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em ingês pelo qual é conhecido).
Seu Relatório de Riscos Globais, uma pesquisa anual com 1.200 profissionais do governo, de empresas e da sociedade civil compilada pela fundação baseada em Genebra, sugere que haverá pouca folga à medida que os países travarem um embate com “crises de energia, inflação, alimentação e segurança”.
Quase sete em cada dez entrevistados consideram que o curto prazo será caracterizado por economias voláteis e choques múltiplos, enquanto um quinto deles teme “resultados catastróficos” em uma década.
O risco mais imediato é a crise do custo de vida, e as maiores ameaças a longo prazo continuam relacionadas ao clima, constatou a pesquisa. Saadia Zahidi, diretora administrativa do WEF, está preocupada que o mundo possa estar entrando em um “ciclo vicioso”.
“Muito poucos líderes da geração atual passaram por esses riscos tradicionais em torno de alimentos e energia, ao mesmo tempo em que lutam contra o que está por vir em termos de dívida e em termos de clima”, disse ela à Francine Lacqua na Bloomberg Television. “Vamos precisar de uma espécie de novo tipo de liderança que seja muito mais ágil”.
Na próxima semana, o WEF realiza suas reuniões anuais em Davos, na Suíça, onde a elite empresarial, política e acadêmica compartilhará ideias e começará a traçar planos para o ano que vem.
A reunião ocorrerá em um momento em que a inflação está em um pico de quatro décadas em muitas economias avançadas, com taxas de juros muito mais elevadas do que qualquer projeção dos últimos 12 meses.
O relatório apela para a cooperação global e alerta que, se os governos não administrarem bem a crise atual, “correm o risco de criar um tumulto social a um nível sem precedentes, à medida que os investimentos em saúde, educação e desenvolvimento econômico desaparecem, corroendo ainda mais a coesão social”.
O aumento das despesas militares poderia reduzir o apoio às famílias vulneráveis, deixando alguns países em “perpétuo estado de crise”, e retardar a necessidade urgente de enfrentar a mudança climática e a perda de biodiversidade.
No pior dos casos, a “guerra geoeconômica” poderia se transformar em remilitarização. É provável que as rivalidades geopolíticas aumentem as restrições econômicas e exacerbem tanto os riscos de curto como os de longo prazo, constatou o relatório. Os países devem trabalhar em conjunto.
“Nesta mistura já tóxica de riscos globais conhecidos e crescentes, um novo evento de choque, seja de um novo conflito militar ou um novo vírus, poderia tornar-se incontrolável”, disse Zahidi. “Portanto, o clima e o desenvolvimento humano devem estar no centro das preocupações dos líderes globais para aumentar a resistência contra choques futuros”.
As questões ambientais dominaram os riscos de longo prazo nos últimos anos, ocupando os três primeiros lugares em todos os relatórios dos últimos cinco anos.
O relatório também alertou que o mundo poderia enfrentar um período de “policrise” em a interação de um conjunto de riscos causa problemas complexos futuros. Uma dessas ameaças pode surgir da “rivalidade de recursos”, uma vez que os países competem por recursos naturais, incluindo alimentos, água e energia.
- Com a colaboração de Samuel Dodge.
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