Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem todas as condições para retomar a confiança do mercado, e o primeiro passo seria anunciar um plano para estabilizar a dívida pública. Na avaliação do economista-chefe do BTG e ex-secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, a apresentação de medidas fiscais “críveis” pode ser um divisor de águas para os ativos locais.
O grande desafio, agora, é convergir a visão do investidor doméstico, pessimista, para uma posição mais próxima ao estrangeiro, que está otimista, principalmente quando o olha o Brasil em relação aos pares.
A necessidade de um esforço fiscal já faz parte do discurso do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que afirmou que entregará um déficit fiscal menor do que o previsto no orçamento. Mansueto está otimista: a previsão do BTG é de que o país chegue ao final do ano com um resultado negativo ao redor de R$ 125 bilhões e uma dívida bruta perto de 80%. “Caso o governo consiga fazer traçar um plano claro, com a reforma tributária e sem loucuras do lado do gasto, uma dívida estável em 80% do PIB pode ser um bom cenário”, afirmou em entrevista à Bloomberg News.
Mansueto, que foi secretário do Tesouro entre 2016 e 2020, disse que, se ainda estivesse na equipe econômica, reoneraria a gasolina, o que segundo ele poderia devolver mais de R$ 20 bilhões aos cofres públicos ao longo do ano, como inicialmente foi defendido pelo atual ministro. Apontou ainda que defenderia uma revisão de regimes especiais de tributação, citando, como exemplo, a possibilidade de limitar deduções de despesas médicas do Imposto de Renda.
“O mercado está louco para melhorar”, disse Mansueto. Para ele, a bolsa está barata e tem potencial para sair do atual patamar próxima de 110.000 pontos para algo perto de 130.000 pontos. Além de uma reação positiva do mercado, Mansueto também diz que o BC poderia promover um ciclo de redução de juros mais longo, caso o novo governo anuncie medidas que aliviem o saldo negativo das contas públicas. Atualmente, o BTG prevê uma taxa terminal de 12,75% ao fim de 2023, embora o economista afirme que poderá revisar o número após a apresentação de medidas.
Por ora, a avaliação de Mansueto acerca de Haddad é positiva, ainda que ele diga que as primeiras sinalizações do terceiro mandato de Lula tenham sido negativas na perspectiva fiscal. “Foi um início ruim”, disse Mansueto. “Mas Haddad tem dado sinais corretos de que o governo precisa fazer uma compatibilidade entre responsabilidade social e fiscal.”
O cenário não mudou com as manifestações recentes de 8 de janeiro, que foram um “ato isolado”, disse Mansueto, acrescentando que não há mais risco de contestação do resultado das eleições.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Sergio Rial explica como descobriu ‘falhas’ de R$ 20 bi em nove dias como CEO
Após ano de cortes, Ebanx promove mudanças na gestão em busca de agilidade
© 2023 Bloomberg L.P.