Americanas: em vídeo, Rial expõe visão para os próximos passos na crise

Ex-CEO da rede varejista fala em dívida bruta de ‘R$ 30 bi a R$ 35 bi’, diz que capitalização vai acontecer e sinaliza fase com crescimento mais baixo

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Bloomberg Línea — “O tamanho do que tem que ser feito não era necessariamente aquilo que eu queria em um primeiro momento, de ir para a Americanas e enveredar em um projeto muito forte de crescimento.”

Assim Sergio Rial respondeu a um investidor que o questionou na conferência desta quinta-feira (12) sobre por que não quis seguir no comando da empresa se acredita na sua recuperação. A resposta do executivo, que disse que irá assessorar a nova gestão, deu o tom do que os cerca de 150 mil acionistas devem esperar da gigante varejista que protagoniza o maior escândalo contábil do país em muitos anos.

Isso significa que o caminho para a normalização do negócio e do crescimento será complexo e que o investimento em ações da companhia se tornará uma decisão de alocação de longo prazo. Alguns analistas preferiram cancelar a estimativa de preço-alvo enquanto não houver clareza sobre os números.

A queda de 77,33% da ação (AMER3) nesta quinta (12), com o preço despencando de R$ 12,00 para R$ 2,72, reflete não só a desconfiança de investidores como a percepção de que o valor justo da companhia é outro, dado que a dívida será maior do que até então apresentado, e o patrimônio líquido, menor.

Depois da conferência com analistas e investidores pela manhã, Rial deu explicações em vídeo gravado e disponibilizado no site de RI da Americanas: ele apontou medidas que serão necessárias e o que o investidor pode esperar e o que não deve aguardar dos próximos passos - sempre com a ressalva de que muitas das respostas ainda estão para serem definidas com a auditoria externa.

“Boa parte da conta fornecedor da Americanas era essencialmente dívida bancária que, portanto, terá que ser recatalogada como tal, dada a estrutura e o desenho”, disse Rial.

Segundo o executivo, que renunciou ao posto de CEO na quarta-feira (11), os balanços de exercícios anteriores provavelmente terão que ser republicados.

“Vai haver um impacto na conta de resultado, que eu não sou capaz de precisar, ou impairments, redutores da estrutura de balanço, impactando claramente o patrimônio líquido da empresa”, disse.

No vídeo, Rial disse que a Americanas tem hoje uma dívida bruta da ordem de “R$ 30 bilhões a R$ 35 bilhões”, um caixa de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões e um patrimônio líquido na casa de R$ 16 bilhões.

São números que hoje apresentam grandes diferenças daqueles apresentados no terceiro trimestre, em que o caixa estava em R$ 14 bilhões, e a dívida bruta, em R$ 19,3 bilhões. A rubrica Contas a Receber totalizava R$ 5,2 bilhões.

Os números atualizados serão conhecidos em tese apenas no fim de março, com a divulgação do resultado do quarto trimestre de 2022.

“Claramente isso [os números citados] denota uma necessidade de capitalização, e os acionistas de referência permanecem comprometidos com o futuro da companhia”, destacou Rial.

“A empresa segue vendendo e é absolutamente viável, [mas] tem um nível de dívida incompatível para que possa prosseguir e, portanto, vemos a capitalização acontecer [...] Nos próximos trimestres, muito tem que acontecer na sua estrutura patrimonial”, disse Rial.

Segundo ele, a empresa começou o ano com uma reação nas vendas das lojas físicas e expansão acima de 17%, o que seria uma comprovação da capacidade de crescimento.

Um dos “grandes riscos”, disse o executivo, seria a interrupção das linhas de financiamento a fornecedores providas pelos bancos, mas ele disse esperar uma “postura de equilíbrio” dos mesmos.

Analistas de bancos e corretoras que fazem a cobertura do setor de varejo formaram um consenso de revisão da recomendação para as ações depois da revelação das tais “inconsistências contábeis” da ordem de R$ 20 bilhões, número que pode aumentar conforme o trabalho da auditoria externa.

A preocupação recorrente é sobre potenciais novas descobertas e a extensão do impacto das “inconsistências”, dado o alerta dado por Rial sobre o diagnóstico ainda impreciso. Outro ponto de atenção é o risco de ações judiciais contra a empresa, em especial de investidores nos Estados Unidos.

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