Bloomberg Línea — Times de equity research de bancos de investimento e corretoras passaram a colocar sob revisão a recomendação para as ações da Americanas (AMER3) após a companhia reportar falha contábil de R$ 20 bilhões, descoberta que levou à renúncia do CEO Sergio Rial na noite de quarta-feira (11).
As ações da companhia ficaram em leilão toda a manhã até o começo da tarde até começarem a ser negociadas pouco depois das 14h, com preço de R$ 2,77 e queda de quase 77%. As ações haviam encerrado o pregão de quarta-feira (11) negociadas a R$ 12.
Na avaliação da XP, que antes tinha recomendação neutra para as ações da varejista, o comunicado adiciona várias incertezas para a tese de investimento na empresa, além de trazer pouca visibilidade sobre o que de fato aconteceu e quais os impactos nos demonstrativos financeiros da companhia.
Segundo o time de analistas liderado por Danniela Eiger, head de varejo e e-commerce de equity reseach da XP, Rial era um pilar importante para sustentar o processo de transformação da companhia, devido ao seu histórico de execução, gestão focada na redução de custos e credibilidade com o mercado. “Sua saída pode ser vista pelos investidores como um alerta de mais riscos à frente.”
Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, também avaliou como negativo o sinal dado por Sergio Rial ao renunciar, com os R$ 20 bilhões “podendo ser um erro de norma contábil ou uma fraude” a ser descoberta daqui para frente.
“É um caso muito sensível e pode respingar no mercado como um todo, escalar para uma crise de confiabilidade e temos que acompanhar de perto já que isso pode trazer certa volatilidade para o mercado conforme mais desdobramentos forem saindo”.
Em relatório, analistas do Itaú BBA escreveram mais cedo que a ação deveria sofrer “significativamente” durante o pregão desta quinta.
“Acreditamos que seu desempenho recente foi impulsionado principalmente pelas expectativas do mercado em relação às entregas de Sergio Rial no médio e longo prazo. Diante das notícias desfavoráveis, decidimos reavaliar nossa cobertura até que possamos entender melhor a situação”, escrevem os analistas liderados por Thiago Macruz.
Especialistas avaliam que o problema vai muito além dos números.
“A discrepância de R$ 20 bilhões já é preocupante, mas o fato de a nova direção ter descoberto o problema em tão pouco tempo – Rial assumiu o comando no início deste ano – traz dúvidas sobre a postura da diretoria anterior”, disse Victor Inoue, head de produtos da WIT Invest.
Apesar de a empresa ter afirmado em seu comunicado que essa inconsistência não tem efeito caixa, Inoue afirmou que é provável que nos balanços revisados os índices de alavancagem da empresa se deteriorem. “Dependendo dos ajustes a serem realizados no seu balanço, é possível que a empresa estoure os covenants de seus bonds e debêntures.”
Ele chamou a atenção ainda para a possibilidade de a empresa ser processada fora do país, dado que possui ADRs (recibos de ações estrangeiras) negociados nos mercados dos Estados Unidos.
No JPMorgan (JPM), os analistas disseram ver a situação do fluxo de caixa da empresa como “muito mais delicada do que o previsto, com a empresa alavancando significativamente as transações de financiamento de fornecedores – aparentemente não devidamente contabilizadas – para financiar seu capital de giro”. O banco tem recomendação underweight (abaixo da média do mercado financeiro, equivalente a venda).
Já o Morgan Stanley (MS), que tinha recomendação overweight (acima da média do mercado, equilavente a compra), também colocou sob revisão os papéis da companhia. “A reviravolta operacional que esperávamos tornou-se completamente nublada e temos visibilidade limitada sobre a extensão das inconsistências contábeis”, escrevem os analistas.
- Com informações da Bloomberg News.
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