São Paulo — Durou menos de duas semanas a gestão de Sergio Rial como CEO da varejista Americanas (AMER3). A empresa acaba de informar a saída do executivo, ex-CEO do Santander Brasil, a pedido dele próprio em comunicado ao mercado no fim da tarde desta quarta-feira (11).
O anúncio da saída de Rial acontece junto com a revelação da empresa de que identificou inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões em exercícios anteriores, incluindo o de 2022. O conselho de administração da Americanas elegeu João Guerra, o head de RH, como CEO interino.
Segundo o fato relevante, foram detectadas inconsistências em lançamentos contábeis redutores da fornecedores. “Numa análise preliminar, a área contábil da companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/9/2022. A companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”, diz no comunicado.
A varejista afirmou não ser “possível determinar todos os impactos de tais inconsistências na demonstração de resultado e no balanço patrimonial da companhia”.
Segundo especialistas consultados pela Bloomberg Línea sob condição de anonimato, as operações podem ter sido de risco sacado, termo para a antecipação do pagamento pela venda de produtos ou serviços. A depender das condições e das interpretações, esse compromisso pode ser classificado em contas a pagar ou como dívida financeira - nesta hipótese, o endividamento da Americanas teria um salto e acionaria gatilhos - os covenants - que podem levar ao pagamento integral antecipado.
A dúvida no mercado na noite de quarta-feira é se houve uma questão de classificação ou se os R$ 20 bilhões em “inconsistências”, na verdade, sequer apareciam no balanço da companhia.
O fato relevante não traz o detalhamento das operações, mas sinaliza que pode ser necessário um aporte de capital para a companhia face a descoberta da falha contábil.
Suporte de Lemann, Telles e Sicupira
“Os acionistas de referência da Americanas, presentes no quadro acionário há mais de 40 anos, informaram ao conselho de administração que pretendem continuar suportando a companhia, tendo o Sr. Sergio Rial como seu assessor nesse processo, prestando apoio na condução dos trabalhos”, diz o fato relevante.
É referência ao trio de empreendedores formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, que controlaram a Americanas por 40 anos e ainda são os principais acionistas.
Uma conferência será realizada nesta quinta-feira às 9h, organizada pelo BTG Pactual.
O então novo diretor de Relações com Investidores André Covre também saiu, segundo o comunicado. Além do cargo de CEO, Guerra também assumirá interinamente a função de DRI.
“Diante desses fatos e consequente alteração de prioridades da administração, o diretor-presidente Sergio Rial e o diretor de relações com investidores André Covre, empossados em 2/1/2023, comunicaram sua decisão de não permanecer na companhia, com efeito imediato”, diz o fato relevante.
O conselho de administração da Americanas decidiu também criar um comitê independente para apurar “as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis, que terá os poderes necessários para a condução de seus trabalhos”.
A gestão da Rial era aguardada pelo mercado desde agosto como um catalisador favorável à recuperação das ações da companhia. Em novembro, relatório do Itaú BBA citava que a chegada de Rial ao comando da Americanas era uma notícia positiva para a varejista. “Entendemos que a empresa está próxima de uma mudança gerencial que pode levar a dias melhores pela frente.”
Neste mês, com a expectativa de início da gestão da Rial, o papel já havia subido 24,35%. A ação chegou a acumular alta de 62% pouco mais de um mês do anúncio de sua contratação, antes de devolver os ganhos nos meses finais de 2022 no ambiente de queda da bolsa brasileira como um todo.
Nesta quarta-feira, AMER3 fechou em alta de 0,76%, cotada a R$ 12,00.
No ranking de negociação com o papel no dia, as maiores vendedoras foram Brasil Plural (Genial), Credit Suisse, Clear, XP, JPMorgan, Modal, Futura, Merril, Renascença e Toro (Santander).
Os maiores compradores foram UBS, Easynvest (Nubank), BTG Pactual, Inter, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Ágora (Bradesco), C6 Bank, Vitreo (Empiricus) e Órama.
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