Bloomberg — A volatilidade dos mercados e os juros mais altos que trouxeram fortes ganhos aos bancos dos Estados Unidos no ano passado podem se converter em seu maior problema em 2023.
Quando Bank of America (BAC), JPMorgan Chase (JPM), Citigroup (C) e Wells Fargo (WFC) derem largada à temporada de balanços do quarto trimestre do setor na sexta-feira (13), investidores estarão menos interessados nos sólidos lucros dos últimos três meses de 2022 e mais focados nos sinais de que os maiores bancos do país já se preparam para uma grande desaceleração da economia, à medida que os aumentos dos juros impactam a atividade econômica.
“Estamos entrando em um período de incerteza vindo de um período de força”, disse Jason Goldberg, analista do Barclays, em entrevista. “Apesar do fato de estarmos potencialmente enfrentando uma recessão, as perdas com empréstimos estão em mínimas históricas, o trading permanece elevado e a receita líquida de juros dos bancos será recorde”, prevê. “No entanto, todo mundo tem medo de sua sombra.”
Os resultados trimestrais devem ser impulsionados pela forte negociação de renda fixa e pela receita líquida recorde de juros, temperados por mais provisões para dívidas duvidosas, queda nas subscrições e menos fusões e aquisições. Esses obstáculos podem piorar se a economia perder força e as tensões geopolíticas continuarem.
Receita líquida de juros
Taxas mais altas continuam a engordar a receita líquida de juros - a diferença entre o que bancos ganham com empréstimos e o que pagam aos depositantes. Analistas preveem que os quatro maiores bancos dos EUA captaram cerca de US$ 59 bilhões dessa fonte no quarto trimestre, segundo dados compilados pela Bloomberg. O valor se compara a US$ 45 bilhões no mesmo período do ano anterior. Mas os bons tempos podem não durar.
“O quarto trimestre será recorde para a receita líquida de juros, mas, ao longo do ano do ano, prevemos que irá se estabilizar”, disse Goldberg.
Negociação, fusões & aquisições
A volatilidade ainda dá fôlego às negociações, o que eleva a receita no segmento aos níveis mais altos em mais de uma década. As cinco maiores mesas de operações de Wall Street devem registrar receita de US$ 22 bilhões no trimestre, um ganho de 9,5%. A maior parte disso virá das mesas de renda fixa, onde operadores de commodities, câmbio e juros tiveram um dos anos mais movimentados de todos os tempos.
Reservas e cenário
Executivos estão preparados para revelar até que ponto estão se preparando para uma recessão e qual é a probabilidade desse resultado. O risco de inadimplência obrigou bancos a separar mais dinheiro para as reservas, uma reversão da liberação de fundos após a pandemia.
Analistas esperam um total de US$ 5,4 bilhões em provisões para perdas com empréstimos entre os quatro maiores bancos.
Inverno cripto
Os maiores bancos dos EUA fizeram apostas tímidas no reino dos ativos digitais, e o colapso da FTX, a corretora fundada por Sam Bankman-Fried, pode ser um obstáculo significativo para qualquer avanço. Na semana passada, o Federal Reserve, o Escritório do Controlador da Moeda e a Corporação Federal Asseguradora de Depósitos (FDIC) recomendaram cautela aos bancos nesse mercado.
Embora algumas instituições financeiras - entre elas o Bank of New York Mellon, que também divulga resultados na sexta-feira - tenham buscado oferecer serviços de custódia para ativos digitais, uma regra imposta pela SEC no ano passado - segundo a qual empresas de capital aberto devem contabilizar criptomoedas mantidas para clientes como passivo - torna a manutenção dos tokens muito intensiva em capital.
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