Embaixador da Argentina volta a defender moeda comum para o Mercosul

Daniel Scioli disse em entrevista que o país tem interesse em avançar em direção de uma moeda que seria usada para trocas comerciais entre países do bloco

'Cada país manterá sua soberania monetária'
11 de Janeiro, 2023 | 01:00 PM

Bloomberg Línea — O governo argentino mantém o interesse em desenvolver uma moeda regional comum, embora seja necessário despertar o interesse do Brasil, principal potência econômica da região, para atingir esse objetivo.

Pela segunda vez em duas semanas, o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Osvaldo Scioli, manifestou interesse em avançar em direção a uma nova entidade monetária que impulsionasse o comércio entre os países do Mercosul.

“Será anunciado um caminho que, a médio e longo prazo, levará à criação de uma moeda comum”, disse o representante argentino em uma entrevista ao canal de televisão La Nación+. Scioli, que foi vice-presidente da Argentina no governo de Néstor Kirchner (2003 a 2007) e candidato derrotado à presidência do país em 2015, destacou que é necessário “harmonizar” as posições com os demais países da região.

Moeda comum, não única

Scioli afirmou que o plano trata da criação de uma moeda comum e não de uma moeda única, como ocorre com o euro. “Cada país manterá sua soberania monetária”, afirmou ele.

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Scioli disse que a moeda comum é um “grande desejo” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No ano passado, Lula defendeu em um discurso a ideia de uma moeda comum do Mercosul, para reduzir a dependência do dólar, mas não deu declarações públicas sobre a medida desde que assumiu o Presidência.

“Agora com a chegada de Fernando Haddad na Fazenda, estão ocorrendo negociações com o ministro da Economia (da Argentina), Sergio Massa, para definir uma agenda para a integração financeira”, disse Scioli.

Haddad, no entanto, tem negado os planos de criação de uma moeda comum. No dia 5 de janeiro, após encontro com o embaixador da Argentina, o ministro da Fazenda disse que não havia proposta de criação de uma moeda comum para o Mercosul e demonstrou irritação com a pergunta quando questionado por jornalistas. “Não existe uma moeda única, não existe essa proposta”, disse o ministro. “Vai se informar primeiro”, afirmou Haddad.

‘Acordo será muito amplo’

Apesar dos desencontros, o embaixador argentino mantém o interesse na ideia. Segundo Scioli, o acordo entre Argentina e Brasil “será muito amplo” e “incluirá financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil (BNDES)” para a segunda etapa do Gasoduto Néstor Kirchner. “Será de grande benefício para o Brasil, porque o Brasil precisa do gás que a Argentina tem”, acrescentou Scioli.

O embaixador também indicou que o acordo inclui “um capítulo sobre integração e infraestrutura, ciência e tecnologia, cultura e educação”.

Scioli também disse que, em seu encontro com Lula, ele teria pedido ao presidente brasileiro que “toda essa harmonia pessoal, política e ideológica” fosse traduzida em questões concretas.

Ele garantiu que Lula respondeu que para ele a relação com a Argentina é “privilegiada”. Scioli concluiu: “Grandes coisas vão acontecer no dia 23 (de janeiro)”.

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Ao contrário do que está acontecendo na Argentina, o governo brasileiro ainda não expressou sua posição sobre a moeda comum. Na verdade, Haddad disse aos jornalistas na semana passada: “Não existe uma moeda única, não existe essa proposta”.

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