Bloomberg — Aliviados por terem virado a página do pior ano para ações em mais de uma década, investidores estão descobrindo que a valorização nas bolsas e a diminuição dos ganhos corporativos ainda impedem qualquer recuperação rápida para as Big Techs, como são conhecidas as gigantes de tecnologia.
Embora os múltiplos de preços tenham caído de seus picos durante a pandemia, muitos dos maiores nomes do mercado continuam parecendo caros. Ao mesmo tempo, as perspectivas de lucro estão enfraquecendo e a economia pode estar caminhando para uma recessão, já que o Federal Reserve continua aumentando agressivamente as taxas de juros para combater a inflação.
Há também riscos para as principais empresas, como restrições de fornecimento para o iPhone da Apple (AAPL) ou fraqueza na publicidade online para a Alphabet (GOOG) e a Meta (META). Uma desaceleração nos gastos de consumo pode significar tendências mais fracas para a computação em nuvem, fator-chave na Amazon (AMZN) e um risco que o UBS Group alertou ao rebaixar a Microsoft (MSFT).
A confluência de um cenário macroeconômico fraco e de fundamentos instáveis sugere que os lucros corporativos, o principal motor dos preços das ações, poderiam decepcionar. Na semana passada, os lucros da Samsung tiveram a maior queda em mais de uma década.
“Os fundamentos dessas empresas não estão melhorando, e na margem estão se deteriorando”, disse Nicholas Colas, cofundador da DataTrek Research, referindo-se às Big Techs. “Para que as ações de crescimento funcionem, é necessário ver melhorias nos fundamentos e estimativas, e não estamos vendo isso agora, o que dificulta o argumento a favor de uma expansão nos múltiplos”.
O Nasdaq 100, cujo foco é tecnologia, caiu 33% no ano passado, sua maior queda anual desde 2008. Em 2023, subiu pouco mais de 2% até a terça-feira (10).
Um teste chave ocorrerá nas próximas semanas, quando as empresas divulgarão os resultados do quarto trimestre de 2022. Os investidores estão preocupados que os relatórios e as perspectivas das empresas possam destacar como o cenário está pesando sobre a demanda, fator que tem contribuído para demissões generalizadas em companhias como Amazon, Meta e Salesforce (CRM).
Wall Street espera que os ganhos do setor tecnológico caiam 2,2% neste ano, em comparação com o crescimento de 2% para o S&P 500, de acordo com dados da Bloomberg Intelligence.
O consenso de mercado caiu drasticamente nos últimos meses – no final de setembro, a previsão era que os ganhos do setor tecnológico aumentariam 4,7% em 2023 – e muitos esperam que os analistas reduzam ainda mais suas estimativas. Se isso acontecer, as ações pareceriam mais caras ao reduzirem o denominador na relação preço-lucro, possivelmente levando a uma maior pressão de venda.
O S&P 500 contando só o setor de tecnologia ainda é negociado a 20,1 vezes os ganhos estimados, acima de sua média de 10 anos de 18,9, bem como o múltiplo de 17 do S&P 500 no total.
A Apple continua acima de sua média de longo prazo, e a Microsoft está apenas ligeiramente abaixo de sua própria média. As duas representam cerca de 11% do peso total do S&P, e das quatro maiores megacaps, a Alphabet é a única a ser negociada com desconto para o mercado geral.
Patrick Burton, gestor de carteira da Winslow Capital Management, disse que o mercado ainda não havia fixado o preço em uma recessão de ganhos, algo que ele está confiante de que acontecerá neste ano.
“Nesse ambiente, os investidores vão ser menos indulgentes com a falta de rentabilidade, com a desaceleração do crescimento e com os fracos ganhos ou orientações”, disse ele. “As Big Techs tiveram sucesso por muito tempo, mas se há uma ação amplamente detida com crescimento desacelerado, isso é um problema. Os valuations são tais que qualquer má notícia será respondida com um sell-off.”
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