Como Bolsonaro encontrou uma base fiel de apoiadores em sua estada em Orlando

Brasileiros que defendem o ex-presidente se reúnem todos os dias em frente à casa do ex-lutador de MMA José Aldo, em condomínio próximo à Disney World

Hebert da Rocha, brasileiro que conta que vive há 28 anos na região de Miami e que foi prestar seu apoio ao ex-presidente Bolsonaro (Octavio Jones/Bloomberg)
Por Felipe Marques - Michael Smith
11 de Janeiro, 2023 | 11:09 AM

Bloomberg — Apoiadores fieis de Jair Bolsonaro se reuniram mais uma vez na manhã da terça-feira (10) na frente da casa de 3.600 metros quadrados com quartos temáticos da Disney perto de Orlando, onde o líder de direita buscou refúgio a dois dias da posse do agora presidente Lula.

Eles foram desejar ao seu líder – que esteve internado em um hospital local – uma rápida recuperação de uma dor abdominal que o acometeu na segunda-feira (9). Eles aparecem diariamente desde sua chegada à Flórida no fim do ano, mesmo depois dos eventos de domingo (8), quando milhares de seus apoiadores invadiram Brasília e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF.

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“Eu estava de férias em Orlando e achei importante estar aqui, apoiando Bolsonaro”, disse Hebert da Rocha, 64 anos, brasileiro que vive na região de Miami há 28 anos. Ele exibiu uma selfie que tirou com o ex-presidente em frente à casa. “É uma terapia”, disse. “É minha maneira de fazer algo pelo meu país.”

É uma cena que se repete desde que o ex-capitão do Exército se hospedou na casa de férias em um condomínio fechado visado por brasileiros e próximo à Disney World. Ele chegou em 30 de dezembro, se abstendo de participar da posse de seu sucessor Lula em 1º de janeiro.

O recanto de Bolsonaro na Flórida é uma casa de dois andares de propriedade do ex-lutador de MMA José Aldo, seu apoiador.

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A enorme casa tem nove quartos, incluindo um infantil decorado com Minions – personagens da popular animação Meu Malvado Favorito (e, ironicamente, apelido depreciativo dos apoiadores do ex-presidente).

Outro quarto tem o tema de Mickey e Minnie e um terceiro é decorado com a personagem Moana, segundo um tour em vídeo do corretor de imóveis. Há também um home theater repleto de personagens da Disney de pelúcia, uma sala de jogos gigante e a piscina obrigatória nos fundos.

Não é surpresa que o ex-presidente escolheria Orlando como refúgio. Segundo estimativas da cidade, pelo menos 30 mil brasileiros moram na área e centenas de milhares vêm como turistas todos os anos. Os eleitores brasileiros na Flórida votaram em Bolsonaro por uma margem de 4 para 1, um forte contraste com sua derrota para Lula no Brasil, de acordo com os resultados das eleições.

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“Ele definitivamente tem apoio na Flórida, portanto não é coincidência ele ter escolhido Orlando”, disse Eduardo Siqueira, um professor aposentado da Universidade de Massachusetts de Boston, especializado em imigração brasileira. Bolsonaro também está próximo ao ex-presidente Donald Trump, que endossou sua proposta de reeleição de Mar a Lago, em Palm Beach.

As redes sociais estão repletas de vídeos dos últimos dias mostrando Bolsonaro, normalmente vestido com uma camisa de futebol ou camisa polo, saindo da casa para cumprimentar os apoiadores, seguido por seus dois guarda-costas brasileiros. Ele também foi fotografado comendo no restaurante de fast-food KFC e vagando por um supermercado, fazendo uma pausa para cumprimentar um apoiador.

É muito difícil vê-lo no Brasil, mas aqui você pode ir até sua casa e conversar com ele”, disse Vanessa Viani, de 45 anos, uma brasileira que mora em Orlando, enquanto esperava do lado de fora da casa na terça-feira. “É incrível.”

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Um dos membros do gabinete de Bolsonaro também foi para Orlando. Anderson Torres, chefe da segurança pública em Brasília e ex-ministro da Justiça, viajou no sábado (7), um dia antes dos tumultos, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

O governador de Brasília, Ibaneis Rocha (MDB), demitiu Torres no domingo e um mandado foi emitido para sua prisão na terça, quando as autoridades investigaram sua responsabilidade pelos tumultos. Torres disse que estava de férias em Orlando e não se encontrou com Bolsonaro, segundo a Folha.

Alguns apoiadores de Bolsonaro podem estar criando raízes. Seguidores visitaram a filial de Orlando da Igreja Batista Atitude, da qual Michelle Bolsonaro é uma devota seguidora. A igreja conta com mais de 400 membros, quase todos brasileiros. “Eles estão interessados em frequentar”, disse Nivaldo Nassiff, pastor que vive na região de Orlando há mais de uma década.

Bolsonaro está seguindo uma tradição de décadas de brasileiros que migram para a região de Orlando.

Antes da pandemia, 830 mil brasileiros viajavam anualmente para visitar a Disney e outros parques temáticos e fazer compras, de acordo com a Visit Orlando. Eles são atraídos pelos baixos preços dos bens de consumo nos shoppings, alimentos, baixa criminalidade e, é claro, o Mickey, disse Guilherme Arruda, um das centenas de corretores imobiliários brasileiros na região de Orlando.

“Faz parte da consciência coletiva no Brasil que você tem de visitar a Disney uma vez na vida, por isso eles continuam vindo”, disse Arruda. Bolsonaro “deve ter seus próprios motivos, mas a comunidade brasileira deve ser um fator”.

Na segunda-feira, Bolsonaro disse à CNN Brasil que nos próximos dias deve ter alta do hospital, onde foi internado após reclamar de dores abdominais. Ele disse que planejava ficar na Flórida até o final do mês, mas que poderia voltar ao Brasil antes para receber tratamento.

- Com a colaboração de Josué Leonel.

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