Bloomberg — A onda de demissões no setor de tecnologia pode não ser suficiente para reverter o colapso dos preços das ações na bolsa. Isso porque a iminente crise econômica pode reduzir as receitas das empresas muito mais do que uma eventual economia de custos por meio da redução de pessoal.
Na semana passada, a Amazon (AMZN) anunciou o corte de mais de 18.000 vagas, a maior redução de sua história, enquanto a Salesforce (CRM) irá reduzir o quadro de funcionários em 10%. O rastreador da indústria Layoffs.fyi estima que 18.300 funcionários foram demitidos este ano, após a perda de 154.000 empregos em 2022.
As ações das companhias subiram com o otimismo dos investidores de que as iniciativas podem ajudar a proteger as margens. A Salesforce, por exemplo, se recuperou na bolsa de Nova York desde seu anúncio, enquanto as ações da Meta (META), dona do Facebook, subiram 34% desde que a companhia de mídia social anunciou que eliminaria mais de 11.000 empregos.
No entanto, em um setor que expandiu fortemente as contratações durante os anos de boom da pandemia, os cortes podem ser muito pequenos e até tarde demais, dizem os analistas. Para muitos, os preços das ações ainda não refletem o impacto que os lucros terão à medida que a demanda por tecnologia esfria em uma economia em desaceleração.
“As demissões devem ser uma medida de último recurso, então não pode ser uma boa circunstância se você está se livrando de 10.000 pessoas”, disse Ashwin Alankar, chefe de alocação global de ativos da Janus Henderson Investors. “Isso me diz que a demanda é muito pior do que o mercado espera, o que sugere que os múltiplos precisam contrair mais.”
As ações de tecnologia podem ter uma queda adicional de 20% no pior cenário, disse ele, após a queda de 33% no índice Nasdaq 100 no ano passado, seu pior desempenho desde 2008.
“O mercado está se concentrando no que as empresas podem crescer nesse ambiente, então, se as demissões pressagiam algo mais do que um corte na gordura da covid, as estimativas ainda parecem muito altas e os valuations, caros”, acrescentou.
Os analistas já reduziram as estimativas de crescimento de receita para empresas de tecnologia para 2,4% em 2023, contra uma projeção de consenso de 5,4% há apenas três meses, segundo a Bloomberg Intelligence. O colapso nas expectativas de ganhos é ainda mais forte; eles agora são vistos caindo 2,2% este ano, em comparação com a projeção anterior de crescimento de 4,3%.
Cortes podem não ser suficientes
Muitos investidores veem os cortes como uma tendência positiva, pelo menos do ponto de vista do investimento, uma vez que ajudaram a elevar o índice Nasdaq 100, com grande exposição ao setor de tecnologia, em quase 3% desde novembro.
“Isso mostra que as empresas estão sendo realistas e têm preocupações reais com a lucratividade e seus acionistas”, disse Tony DeSpirito, diretor de investimentos dos EUA da BlackRock, em entrevista por telefone. “Isso é bom porque, no final das contas, eles precisam aumentar seus lucros. Às vezes, isso envolve tomar decisões difíceis.”
Mas os cortes não serão suficientes, avalia Mike Wilson, estrategista-chefe de ações dos Estados Unidos do Morgan Stanley (MS).
“[As empresas de tecnologia] não são boas em cortar custos e vão se atrasar nisso”, disse Wilson à Surveillance da Bloomberg Television. “Vai demorar mais do que você pensa, e a degradação da margem pode ser mais severa nessas áreas.”
-- Com a colaboração de Subrat Patnaik
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