Bloomberg Línea — O inverno de startups parece acelerar o ciclo de negócios das empresas. Para a startup resultante da fusão da mexicana Casai com a brasileira Nomah, duas das maiores do segmento de aluguéis de curta duração (short stay), nem o dinheiro recém-anunciado de celebridades como Daddy Yankee e de astros do beisebol nem o capital da Andreessen Horowitz (a16z), gigante de venture capital do Vale do Silício, salvaram as operações no Brasil. A empresa está fechando as portas no país e deixou de pagar proprietários e fornecedores, conforme apurou a Bloomberg Línea.
A companhia resultante das operações de Casai e Nomah, formada no segundo semestre do ano passado, disse que “90% dos contratos com proprietários imobiliários estão com pagamento em dia e que o restante será pago até o fim do mês de janeiro”. A empresa disse que os fornecedores também serão comunicados e terão suas pendências acordadas até o dia 31 de janeiro.
“Em um processo de encerramento é natural a reorganização de pagamentos com os principais parceiros e clientes. A Casai está empenhada em organizar uma saída coordenada e bem estruturada no Brasil, respeitando os colaboradores e parceiros envolvidos”, disse em nota.
No mês passado, Nico Barawid, fundador e CEO da Casai, deixou as operações no Brasil. Ele terá como foco o México.
“Com sua experiência desde a fundação e a operação da Nomah no Brasil nos últimos seis anos, Thomaz Guz foi responsável pelas operações e estratégia no Brasil como presidente em atribuições conectadas à integração das duas empresas em um período transitório de seis meses. E, como CEO de uma empresa fundada na Cidade do México, Nico Barawid se concentrou nos negócios mexicanos. No futuro, a Casai focará nas operações mexicanas e Guz fará a transição para novos empreendimentos assim que finalizar os últimos detalhes no Brasil”, disse a empresa à Bloomberg Línea.
A startup formada por Casai e Nomah afirmou à Bloomberg Línea que sugeriu que proprietários passem a alugar seus imóveis por meio concorrente da Stay Charlie, investida da Cyrela, e pela Tabas, startup que foi comprada pela americana Blueground em novembro de 2022.
“As empresas fizeram uma comunicação oficial para os proprietários, em que a Charlie apresentou a possibilidade de administrar os ativos nas mesmas condições. A aceitação dos proprietários tem sido ótima e estamos felizes com a decisão; é uma forma importante de deixar o que foi construído pela empresa vivo”, disse a Casai/Nomah na nota enviada.
“Com o fim das operações no Brasil, a Casai/Nomah procurou a Charlie para oferecer uma alternativa de continuidade aos investidores e passaram a nos indicar como uma solução para a gestão da locação”, disse Allan Sztokfisz, CEO e co-fundador da Charlie, em nota à Bloomberg Línea. “Nossa expectativa é contribuir com uma boa e rentável operação.”
O início do desmonte da operação da Casai/Nomah teria começado em dezembro com demissões no Brasil, conforme duas pessoas familiarizadas com o assunto disseram à Bloomberg Línea.
Em agosto de 2022, a Casai anunciou a fusão com a Nomah, empresa do mesmo setor que pertencia ao unicórnio brasileiro Loft. Recebeu capital da Andreessen Horowitz, da Monashees (que seguiu para manter a participação na Casai) e da Loft como consequência da transferência de ações.
A Loft afirmou que “mantém participação minoritária na Casai desde essa fusão e, assim como os demais acionistas Andreessen Horowitz, Kazsek e Monashees,entre outros, conta com um representante no board da Casai, no caso, Florian Hagenbuch [seu co-fundador]”.
A Bloomberg Línea antecipou as conversas dessa transação em julho, quando a Casai demitiu funcionários no México e no Brasil.
Casai e Nomah não foram as únicas proptechs - nome dado às startups do mercado imobiliário - que se uniram nesse período de juros mais altos. Em dezembro, a gestora condominial Lello e a plataforma para moradia Housi selaram uma parceria para compartilhar seus serviços.
Em novembro, a Casai e a Nomah anunciaram que os artistas latino-americanos Daddy Yankee e Ozuna e os jogadores da Major League Baseball Albert Pujols, Raul Ibañez, Edwin Encarnación e Elvis Andrus estavam investindo nas empresas por meio da TRUE Capital Management.
Casai e Nomah tinham juntas quase 2 mil apartamentos para aluguel em São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Brasília, além da Cidade do México, Los Cabos e Tulum. Até a Série A, a Casai captou US$ 53 milhões. A empresa não divulgou quanto foi investido na nova companhia após a fusão com a Nomah.
Procurados, a16z, Monashees, Daddy Yankee e TriplePoint Capital, que tinha fornecido uma linha de crédito de até US$ 25 milhões para a Casai, não responderam aos pedidos de comentários da Bloomberg Línea.
-- Matéria atualizada para amplificar a nota enviada pela Casai no quinto parágrafo
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