Bloomberg Línea — As atenções de investidores recaem nesta segunda-feira (9) para os desdobramentos da invasão de Brasília por manifestantes pró-Bolsonaro e anti-democracia após os ataques violentos aos prédios dos 3 Poderes na tarde de ontem (8), bem como sobre uma resposta do mercado à escalada das tensões políticas no país.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou os ataques como “ultrajantes”. Líderes globais de direita e de esquerda condenaram os ataques e se solidalizaram com o governo brasileiro. Segundo analistas do mercado, o Ibovespa (IBOV) deverá ser reprecificado para baixo neste cenário.
O fundo de índice negociado em bolsa (ETF) iShares MSCI Brazil (EWZ), negociado em Nova York, que acompanha o desempenho da bolsa brasileira, recuava 1,52% por volta das 10h57 (horário de Brasília).
A expectativa é de mais volatilidade na bolsa brasileira nesta segunda.
Dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos, prévia do PIB e números das vendas no varejo por aqui devem movimentar esta semana que começa.
Em Wall Street, atenção dos investidores nesta semana para novos dados da economia dos EUA e para declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Confira as notícias que devem movimentar os mercados nesta segunda-feira (9):
1. Invasão em Brasília
Milhares de manifestantes subiram a rampa do Congresso Nacional, em Brasília, e tomaram a área externa sobre o prédio nesta tarde de domingo (8), rompendo o bloqueio de segurança imposto pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Muitos invadiram a parte interna do Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), com cenas de depredação em vídeos que circulam nas redes sociais.
No início da noite, a Polícia Militar e a Força Nacional conseguiram retomar o controle dos prédios e dispersar os manifestantes com uso de spray de pimenta e bombas de efeito moral.
Os manifestantes, vestidos de verde e amarelo e simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro, questionavam o resultado das eleições presidenciais, que deram a vitória ao presidente Lula (PT). Desde o fim do segundo turno, em 30 de outubro, apoiadores do ex-presidente protestam nas redes sociais e em diferentes cidades do país e chegaram a obstruir centenas de estradas e avenidas em novembro.
O presidente Lula não estava em Brasília no momento das invasões. Ele cumpria agenda em Araraquara, no interior de São Paulo, região castigada por chuvas intensas e alagamentos nos últimos dias.
Após as depredações das instalações dos prédios que abrigam os três Poderes, o presidente Lula (PT) decretou intervenção federal na área de segurança no Distrito Federal até 31 de janeiro. O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, será o interventor. Pelo decreto, a intervenção será limitada à área de segurança pública com o objetivo de retomar a ordem pública.
2. Inflação e Selic
O relatório Focus, com as expectativas de economistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central, será divulgado nesta manhã. As atenções se voltam para possíveis pioras nas estimativas para inflação e Selic.
Na semana passada, as projeções para a taxa básica de juros foram elevadas de 12% para 12,25% ao fim de dezembro, enquanto que para o IPCA subriam de 5,23% para 5,31% em 2023.
Na terça-feira (10), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o IPCA relativo a dezembro de 2022, bem como o acumulado do ano. Economistas estimam alta de 0,44% na base mensal e de 5,60% na comparação anual.
Ainda entre os dados econômicos, a prévia oficial do PIB brasileiro do Banco Central, o IBC-Br, será divulgada na sexta-feira (13).
3. Mercados
O Brasil ganhou os holofotes no domingo, com a imprensa local e global noticiando e repercutindo a invasão de manifestantes pró-Bolsonaro e anti-democracia em Brasília. Agora, investidores monitoram os desdobramentos e a reação dos mercados.
“Além de avaliarmos que a ação enfraquece a direita, esperamos um fortalecimento da esquerda, ao ser criada uma situação no qual o status quo é de esquerda e foi vítima de um ataque a sua autoridade de direito”, escreve Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
“Os ativos deverão reprecificar o Brasil como um local mais arriscado daquele na sexta-feira, ao passo que parte da piora esperada também pode ser associada ao supracitado fortalecimento da uma agenda expansionista. Evidentemente que em um primeiro momento mensurar as magnitudes é muito difícil, ao passo que pode ocorrer um movimento relativamente exacerbado no início da reprecificação”, completou, em nota.
Nos Estados Unidos, após otimismo em Wall Street na sexta-feira (6), investidores aguardam o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, previsto para amanhã, bem como o dado final da inflação no país, que será divulgado na quinta-feira (12) e indicará se a desaceleração dos preços é uma tendência consistente.
4. Manchetes do dia
Estadão: Entenda a decisão de Moraes que afastou Ibaneis, determinou centenas de prisões e proibiu protestos
Folha de S. Paulo: Líderes da malta golpista de Brasília precisam ser punidos no limite da lei
O Globo: Forças de segurança cercam acampamento bolsonarista no DF e parte dos manifestantes começa a deixar o local
Valor Econômico: Moraes determina o afastamento de Ibaneis Rocha do governo do Distrito Federal
5. Agenda
Na agenda do dia, destaque para as divulgações do IPC-S às 8h (horário de Brasília), bem como para o relatório Focus, do BC, às 8h25. Nos EUA, Raphael Bostic, presidente do Federal Reserve Bank de Atlanta, discursa às 14h30.
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