Bloomberg Línea — Nas semanas que antecederam as eleições presidenciais, alguns estrategistas, economistas e cientistas políticos alertavam para os riscos de um eventual “terceiro turno”. Era uma referência a um cenário de contestação dos resultados das urnas, ampliando as incertezas para investir no país.
Foi um alerta dado, por exemplo, por Silvio Cascione, diretor para o Brasil da Eurasia, uma das mais respeitadas consultorias de risco político do mundo, no Bloomberg Línea Summit em setembro.
Esse risco, que pareceu descartado nos últimos dois meses, principalmente depois de uma cerimônia de posse do presidente Lula que transcorreu sem incidentes, voltou ao radar com os episódios deste domingo (8).
A invasão e a depredação dos prédios dos 3 Poderes em Brasília – Congresso Federal, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto – por manifestantes que protestavam contra a derrota de Jair Bolsonaro e contra a vitória de Lula nas urnas podem reviver uma imprevisibilidade que vai além da economia.
Nos Estados Unidos, a invasão igualmente sem precedentes do Capitólio em Washington por simpatizantes do então presidente Donald Trump em janeiro de 2021 não impediu que o S&P 500 e o Nasdaq mantivessem a sequência de recordes nos dias seguintes. Mas aquele era um momento favorável de bull market.
A resposta no mercado brasileiro será conhecida a partir desta segunda-feira (9), mas também nos próximos dias, por meio dos índices que melhor refletem o risco de investir no país.
A visão (preliminar) do mercado
“É improvável que os mercados e a economia saiam ilesos. O modelo da Bloomberg Economics sugere que um aumento na incerteza política em torno dos níveis de um pico de abril de 2017 poderia enfraquecer o real em 1,8%, empurrar os preços das ações para baixo em 3% e cortar cerca de 0,7 ponto percentual da atividade econômica de janeiro”, disse Adriana Dupita, da Bloomberg Economics.
Para Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, “o fato vai retrair o investidor estrangeiro em um primeiro momento e é motivo para achar que a abertura [de segunda] vai ser bem ruim”.
Segundo Leal, os atos violentos contra o Poder “colocam em xeque a noção de transição pacífica e pode afetar a confiança dos investidores estrangeiros no país”.
A duração do impacto dos atos sobre o ambiente econômico vai depender, na avaliação do economista, da identificação e da responsabilização dos manifestantes.
Para o economista André Perfeito, citando um cenário de dúvidas sobre a autoridade do país e do que ele descreve como “silêncio dos militares”, “é razoável supor que a percepção de risco se eleve e, assim, juros devem subir com efeitos na bolsa e em outros ativos”.
“Provavelmente a situação será superada, mas serão dias tensos nos mercados e na nação até que o Planalto restabeleça a ordem e que os militares se posicionem de vez”, afirmou.
- Com a Bloomberg News.
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