Tesla: valor de mercado abaixo do da Meta é sintoma mais recente de crise

Empresa de Elon Musk se descola de seus pares no setor de tecnologia, como face de preocupação de investidores com demanda e desvio de foco do fundador nos negócios

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Bloomberg — As ações da Tesla (TSLA) começaram o ano novo de forma ameaçadora, cedendo na primeira semana sob preocupações renovadas sobre o enfraquecimento da demanda por seus carros elétricos. O seu valor de mercado chegou a cair abaixo do da Meta Platforms (META) pela primeira vez em mais de um ano, depois de ter sido o dobro em diferentes momentos de 2022, a mais recente em setembro.

As ações da fabricante de carros elétricos de Elon Musk caíram 7,7%, para US$ 101,81, no início do pregão de sexta-feira (6). Mais tarde, as ações apagaram as perdas para fechar com ganho de 2,5%, com o mercado se recuperando depois que dados econômicos mostraram que os ganhos salariais desaceleraram, um desenvolvimento que pode ajudar o Federal Reserve a combater a inflação.

No início da sessão, a capitalização de mercado da Tesla caiu para cerca de US$ 321 bilhões, ficando abaixo dos US$ 334 bilhões da Meta (veja gráfico abaixo).

As ações da Tesla estão em queda livre nos últimos três meses, à medida que crescem a ansiedade sobre o selloff de ações de tecnologia e a preocupação de Musk com a aquisição do Twitter. Dois grandes eventos na primeira semana do ano novo - entregas mais fracas do que o esperado para o quarto trimestre e outra rodada de cortes de preços em seus veículos na China - intensificaram os temores.

São esses riscos que tornam os investidores cautelosos quanto ao futuro das ações, pelo menos no curto prazo.

“Com todos esses movimentos da Tesla - cortes de preços na China e aumento da concorrência -, atualmente existem muitas incógnitas para entender bem o que é um valor de mercado apropriado”, disse Mark Stoeckle, diretor executivo da Adams Funds, que detém ações da Tesla. “Quando você vê um acidente de trem como este, é melhor ficar distante e observar, não embarcar junto.”

Inverno para ações de tech

Embora as empresas de tecnologia de mega capitalização, principais impulsionadoras do bull market de Wall Street, tenham enfrentado dificuldades no ano passado enquanto suportavam o peso do aumento das taxas de juros e do menor apetite dos investidores por ativos de risco, o declínio da Tesla ainda se destaca.

A empresa terminou 2022 na parte inferior do índice FANG+ da Bolsa de Nova York (NYSE), que reúne ações de dez gigantes da tecnologia, incluindo nomes como Meta, Apple (AAPL) e Microsoft (MSFT).

O valor de mercado da Tesla caindo abaixo do da Meta também destaca as muitas semelhanças entre as duas ações. Embora tenham negócios muito diferentes, ambas as empresas estão enfrentando um ceticismo geral entre os investidores sobre seu futuro, enquanto seus CEOs e fundadores altamente proeminentes - Musk e Mark Zuckerberg - cometeram erros recentes.

O domínio de Musk sobre os investidores de varejo, entre os quais a Tesla desfruta de um status quase de culto e que se reflete no fato de que foram compradores líquidos das ações mesmo em seu pior desempenho de todos os tempos, também começou a dar sinais de alterações.

Os primeiros sinais de esgotamento do apelo da Tesla no mercado acionário de varejo estão surgindo, escreveram analistas da Vanda Research em nota na quinta-feira (5).

“Os investidores de varejo compraram mais ações da Tesla nos últimos seis meses do que no geral nos 60 meses anteriores, o que significa que esse grupo está definitivamente sentindo o aperto da queda dos últimos meses”, disseram Marco Iachini e Giacomo Pierantoni, da Vanda.

Fora do clube do US$ 1 trilhão

As fortes quedas de valor no ano passado expulsaram as empresas Meta e Tesla do clube de elite do mercado de ações de US $ 1 trilhão nos Estados Unidos - um clube exclusivo do qual apenas seis empresas já fizeram parte. Apenas três empresas de Wall Street valem agora mais de US$ 1 trilhão: Apple, Microsoft e Alphabet, a holding do Google (GOOG).

As ações da Tesla fecharam 2022 com queda recorde de 65%, superando a desvalorização de 33% do índice Nasdaq 100. No primeiro pregão de 2023, as ações da montadora com sede em Austin, no Texas, caíram mais de 12% depois da divulgação de que ela entregou menos veículos do que o esperado no último trimestre, apesar de oferecer grandes descontos em seus maiores mercados.

A Meta, em contraste, se saiu melhor nos últimos meses. Suas ações subiram mais de 46% em relação à mínima de novembro, quando a empresa de mídia social embarcou em medidas drásticas de corte de custos que incluíram a eliminação de mais de 11.000 empregos. Neste ano, ganhou mais de 8%.

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